Os elementos componentes de cada esfera do pensamento e da ação são reduzidos a estruturas generalizáveis, abstratas, intercambiáveis, válidas para qualquer contexto. O princípio básico da lógica da mercadoria é sua conversibilidade geral. Ela fala todas as línguas, atende os interesses mais genéricos, serve a todos.
Enquanto a crítica de esquerda preocupava-se em seguir as etapas da construção do pensamento teórico capitalista, construindo a sua ciência, tão racional quanto a do capital, este avançava cada vez mais por horizontes impenetráveis da crítica: a mística, o feitiço, o sonho, a fantasia. O capitalismo trabalhou o imaginário das pessoas, de forma a seduzi-lo com promessas de felicidade, enquanto a esquerda, tristemente antiquada, buscava afirmação teórica e politização.
O discurso místico, das aparências, das ilusões, da formalidade, do “hiperreal”, a lógica do espetáculo, do jogo, da encenação, tudo isso parece- embora absurdamente fantástico- o único discurso efetivo da nossa sociedade e cultura.
A farsa impôs-se definitivamente como regra na política, na economia, na cultura, na arte, na filosofia. O que atribuir ao discurso que ainda opera com pares contraditórios falso/verdadeiro, senão um triste conceito de ingenuidade?
Esquerda e direita, dominantes e dominados, explorados e exploradores parecem mais conceito de uso político imediato, como argumentos de tachação, de estigmatização de adversários do que argumentos propriamente relacionados com algum sentido real.
A lógica do pensamento atual não necessita mais da comprovação, da verificação fiel, da derrubada de argumentos. Este modelo está superado. A lógica atual é absolutamente outra: todo o instrumental “científico” é amplamente utilizado para dar status de verdade às imposições.
Ciro Marcondes Filho- Quem Manipula Quem.