terça-feira, agosto 28, 2007

Amor, Arte...

Não o amor, mas os arredores é que vale a pena...

No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho.
No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma idéia nossa.
As relações entre uma alma e a outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem,
são matéria de estranha complexidade.

A fadiga de ser amado, de ser amado deveras! A fadiga de semos o objeto do fardo das emoções alheias.

De tédio, como se me não bastasse a monotonia inconsistente da vida,
para agora se lhe sobrepor a monotonia obrigatória de um sentimento definido.

O amor farta ou desilude. (...) Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o princípio.

A arte é a comunicação aos outros da nossa identidade íntima com eles.

O que não temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuí-lo em sonho, e é com esse sonho que fazemos arte.
Outras vezes a emoção é a tal ponto forte que, embora reduzida a ação,
a ação, a que se reduziu, não a satisfaz;
com a emoção que sobra, que ficou inexpressa na vida, se forma a obra de arte.
Assim, há dois tipos de artista:
o que exprime o que não tem,
e o que exprime o que sobrou do que teve.

A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos.

Fernando Pessoa- Livro do Desassossego