sexta-feira, março 30, 2007

Traduzindo

A suspeita de que a linguagem não diz exatamente o que diz. O sentido que se apreende e que se manifesta de forma imediata, não terá porventura realmente um significado menor que protege e encerra; porém, apesar de tudo transmite outro significado, este seria de cada vez o significado mais importante, o significado que "está por baixo".

Por outro lado, a linguagem engendrou esta outra suspeita: que, em certo sentido, a linguagem rebaixa a forma propriamente verbal, e que há muitas outras coisas que falam e que não são linguagem.

A interpretação encontra-se diante de interpretar-se a si mesma até o infinito, de voltar a encontrar-se consigo mesma. A vida da interpretação é crer que há mais do que interpretações.

Nietzche, Freud e Marx Theatrum Philosoficum
Michael Foucault.

quinta-feira, março 29, 2007

Traduzindo

Ainda que eu falasse a língua dos homens.

E falasse a língua dos anjos,

sem amor eu nada seria.

quarta-feira, março 28, 2007

Você acaba de zerar minha vida

Não tenha medo da quantidade absurda de carinho que eu quero te fazer.
E de eu ser assim e falar tudo na lata.
E de eu não fazer charme quando simplesmente não tem como fazer.
E de eu te beijar como se a gente tivesse acabado de descobrir o beijo.

Estar sozinha é
É ficar louca sem cúmplice.
A vida simplesmente acontece para quem está sozinho, às vezes sem que a gente perceba, pois é mais fácil ter noção de si mesmo através de outra pessoa.
É conviver com a ansiedade de que você pode encontrar alguém especial a cada esquina, então você tenta ficar bonita. Mas seus olhos não mentem o cansaço da espera e a tristeza de estar solta, e você fica feia. É ter a sensação de que ninguém te olha, pelo menos não como você gostaria de ser olhada. Estar sozinha é estar solta e, no entanto, é estar amarrada ao chão porque nada te faz flutuar, sonhar, divagar.
Estar sozinho é usar roupas provocantes sem se sentir sexy com elas.
É conferir a caixa de e-mails com uma freqüência que beira a compulsão.
Estar sozinho é uma coisa física, ou melhor, é a falta dela.
É estar pronta para algo novo e não agüentar mais dias iguais.
Aventuras tortas.

No fundo, no fundo, não tenho a menor vontade de ser carinhosa com nenhum deles. Mas sou dessas idiotas covardes que quando percebem que estão gostando de alguém, resolvem gostar de vários. Só para banalizar o sentimento. Eu sei que gosto de alguém quando esqueço de não gostar tanto de mim. E eu gosto de você, mesmo sabendo que você gosta de mim por pouco tempo.

www.tatibernardi.com.br

terça-feira, março 27, 2007

Marcelas...

Já desisti de ser uma pessoa só
Já desisti de ser uma multidão
Já não ponho todas as fichas na mesa
Agora ... jogo algumas no chão

Humberto Gessinger- não é sempre

And I don't want the world to see me
Cause I don't think that they'd understand
When everything's made to be broken
I just want you to know who I am

Iris- Goo goo dolls

segunda-feira, março 26, 2007

Auto-pilot...

- Excuse me.
- Excuse me.
- Hey. Could we do that again? I know we haven’t met, but I don’t want to be an ant, you know?
I mean, it’s like we go through life with our antennas bouncing off one another, continuously on ant auto-pilot with nothing really human required of us.
Stop. Go. Walk here. Drive there. All action basically for survival.
All communication simply to keep this ant colony buzzing along in an efficient polite manner.
"Here’s your change." "Paper or plastic?" "Credit or debit?" "You want ketchup with that?"
I don’t want a straw, I want real human moments.
I want to see you. I want you to see me. I don’t want to give that up. I don’t want to be an ant, you know?
- Yeah. Yeah, no. I don’t want to be an ant either.
Heh. Yeah, thanks for kind of jostling me there.
I’ve been kind of on zombie auto-pilot lately, I don’t feel like an ant in my head, but I guess I probably look like one. It’s kind of like
D.H. Lawrence had this idea of two people meeting on a road. And instead of just passing and glancing away, they decide to accept what he calls "the confrontation between their souls." It’s like, um, freeing the brave reckless gods within us all.
- Then it’s like we have met.
(They shake hands)
***

Waking Life

sexta-feira, março 23, 2007

Agonia

- Você sempre me deixou só.
- Não..., assustou-se ela. É que tudo o que eu tenho não se pode dar. Nem tomar. Eu mesma posso morrer de sede diante de mim. A solidão está misturada à minha essência.

Era uma mulher fraca em relação às coisas. Tudo lhe parcia as vezes preciso demais, impossível de ser tocado.
Ela é vaga e audaciosa. Ela não ama, ela não é amada.

Pois nela havia um medo enorme. Um medo anterior a qualquer julgamento e compreensão.

A vida sempre nos deixa intocados.

Clarice Lispector- Perto do Coração Selvagem

----

Não acusar-me. Buscar a base do egoísmo: tudo o que não sou não pode me interessar, há impossibilidade de ser além do que se é- no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu quase normalmente-; tenho um corpo e tudo o que eu fizer é continuação de meu começo.

Perco a consciência, mas não importa, encontro a maior seneridade na alucinação. É curioso como não sei dizer quem eu sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Ou pelo menos o que me faz agir não é o que eu sinto, mas o que eu digo.

Resultado daqueles dias em que vagava de um lado para o outro, repudiando e amando mil vezes as mesmas coisas.

Vou continuar, é exatamente da minha natureza nunca me sentir ridícula, eu me aventuro sempre, entro em todos os palcos.

----

Como ligar-se a um homem senão permitindo que ele a aprisione? como impedir que ele desenvolva sobre seu corpo e sua alma suas quatro paredes? E havia um meio de ter as coisas sem que as coisas a possuíssem?

A vida em comum era necessária exatamente para viver os outros momentos, pensava assustada, raciocinando com esforço.

No entanto como seria bom construir alguma coisa pura, liberta do falso amor sublimizado, liberta do medo de não amar... Medo de não amar, pior do que o medo de não ser amado...

E amava-o nesse instante. Sua feiúra não a excitava, não lhe causava pena. Simplesmente ligava-se mais a ele e com maior alegria. Alegria de aceitar inteiramente, de sentir que unia o que havia de verdadeiro e primitivo de si a alguém, independente de qualquer das idéias recebidas sobre beleza.

Olhava-o sem prestar atenção às suas palavras. Era doce e bom saber que entre ambos havia segredos tecendo uma vida fina e leve sobre outra vida, a real.

Vivia-o tanto que nunca sentira os outros senão como mundos fechados, estranhos, superficiais.

----

É necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas coisas. É essa talvez a marca do artista. Qualquer homem pode saber mais do que ele e raciocinar com segurança. Mas exatamente aquelas coisas escapam à luz acesa. Na escuridão tornam-se fosforescentes.

----

Clarice Lispector- Perto do Coração Selvagem

quinta-feira, março 22, 2007

O Mínimo Eu

Seja como trabalhador ou como consumidor, o indivíduo não apenas aprende a avaliar-se face aos outros, mas a ver a si próprio através dos olhos alheios; aprende que a auto-imagem projetada conta mais que a experiência e as habilidades adquiridas. Uma vez que será julgado (por seus colegas, seus superiores de trabalho, pelos estranhos que encontra na rua) em virtude de suas posses, suas roupas e sua “personalidade”, ele adota uma visão teatral de sua própria performance.

A concepção pluralista de liberdade baseia-se no mesmo sentido multiforme do eu que encontra sua expressão popular em panacéias tais como o “casamento aberto” e as “ligações sem compromisso”, ambas originadas na cultura de consumo.
Uma sociedade de consumidores define a escolha não como a liberdade de escolher uma linha de ação em vez de outra, mas como a liberdade de escolher todas as coisas simultaneamente. “Liberdade de escolha” significa “deixar as opções em aberto”.
A idéia de que “você pode ter tudo o que quiser”, o que abrange as escolhas de amigos, amantes e carreiras, implica que todas estejam sujeitas ao cancelamento: tal é a concepção experimental e ilimitada da boa vida que sustenta a propaganda de mercadorias, ao cercar o consumidor com imagens de possibilidade ilimitada: mas a escolha não implica mais compromissos e conseqüências.
A liberdade passa a ser a liberdade de escolher entre a marca X ou a marca Y, entre amantes intercambiáveis, entre trabalhos intercambiáveis, entre vizinhos intercambiáveis.
A idéia que rege essa concepção é a de que o industrialismo trouxe à gente comum, pela primeira vez, uma “vasta expansão das oportunidades de satisfação pessoal”.

A conversão do trabalhador em consumidor de mercadorias foi em breve seguida por sua conversão em um consumidor de terapias destinadas a facilitar o seu “ajustamento” às realidades da vida industrial.
Alguns dos mecanismos que passaram a pautar a vida cotidiana foram: A apatia seletiva, o descompromisso emocional frente aos outros, a renúncia ao passado e ao futuro sob a determinação de viver um dia de cada vez- tais técnicas de auto-gestão emocional passaram a configurar a vida das pessoas comuns.

As pessoas voltaram-se para a auto-gestão, como auxílio de uma elaborada rede de profissões terapêuticas, as quais, elas próprias, abandonaram as abordagens que enfatizam as introvisões introspectivas em benefício da adaptação e da modificação do comportamento, os homens e mulheres tentam atualmente reconstituir uma tecnologia do eu.

O Mínimo Eu- Chistopher Lasch

Mas o que me importa mesmo é...

Casa pra morar,
Boca pra beijar,
Chão para pisar,
cama.
Bolo pra comer,
Bola pra bater,
Olho para ver tudo.
Sol para luzir o dia,
Céu para cobrir o mundo,
Som para ouvir,
Sono pra dormir.
Gente pra nascer,
Tempo pra crescer,
Jeito pra viver sempre.
Mão pra segurar,
Mãe pra abraçar,
Pai para brincar muito.
Sol para luzir o dia,
Céu para cobrir o mundo,
Som para ouvir,
Sono pra durmir.
(...)
Pele pra queimar,
Pêlo pra aquecer,
Beijo para ser simples.
Sol para luzir o dia,
Céu para cobrir o mundo,
Som para ouvir,
Sono pra durmir

Nando Reis- Para Luzir o Dia

quarta-feira, março 21, 2007

O Cuidado De Si

Convém distinguir as três coisas: a atitude individualista, caracterizada pelo valor absoluto que se atribui ao indivíduo em sua singularidade e pelo grau de independência que lhe é atribuído em relação ao grupo ao qual ele pertence ou às instituições das quais ele depende, a valorização da vida privada (...) e, finalmente, a intensidade das relações consigo, isto é, das formas nas quais é chamado a tomar a si próprio como objeto e campo de ação para transformar-se, corrigir-se, purificar-se e promover a própria salvação.
Existem também as conversas com um confidente, com amigos, com um guia ou diretor, às quais se acrescenta a correspondência onde se expôe o estado da própria alma, solicita-se conselhos, ou eles são fornecidos a quem deles necessita- o quem aliás, constitui um exercício benéfico até para aquele chamado preceptor, pois assim ele os retualiza para si próprio. (...)
Tem-se aí um dos pontos mais importantes dessa atividade consagrada a si mesmo: ela não constitui um exercício da solidão, mas sim uma verdadeira prática social.

Michel Foucault- A História da Sexualidade

O Uso dos Prazeres

Analisar as práticas pelas quais os indivíduos foram levados a prestar atenção sobre eles próprios, a se decifrar, a se reconhecer e se confessar como sujeitos de desejo, estabelecendo de si para consigo uma certa relação que lhes permite descobrir, no desejo, a verdade de seu ser.

Essas "artes de existência", essas "técnicas de si", perderam, sem dúvida, uma certa parte de sua importância e de sua autonomia quando, com o cristianismo, foram integradas no exercício de um poder pastoral e, mais tarde, em práticas do tipo educativo, médico ou psicológico.

História da maneira pela qual os indivíduos são chamados a se constituir como sujeitos de conduta moral: essa história será aquela dos modelos propostos para a instalação e o desenvolvimento das relações para consigo, para a reflexão sobre si, para o conhecimento, o exame, a decifração de si por si mesmo, as transformações que se procura efetuar sobre si.

A relação com os desejos e os prazeres é concebida como uma relação de batalha: é necessário se colocar em relação a eles, na posição e no papel do adversário, tanto no modelo do soldado que combate, como no modelo de um lutador num concurso. (...) Os adversários que o indivíduo deve combater não estão simplesmente nele ou perto dele. São parte dele mesmo.

Michel Foucault- História da Sexualidade

terça-feira, março 20, 2007

Paraísos Artificiais

Já ouviu falar vagamente dos licores deliciosos com os quais os cidadãos dessa esfera adquirem coragem e alegria à vontade.

Bebedores melancólicos, bebedores felizes, todos vocês que buscam no vinho o esquecimento ou a lembrança, e que, sem jamais achá-lo suficiente, contemplam o céu pelo fundo da garrafa.

Há sobre o globo terrestre uma vasta multidão sem nome, cujo sono não basta para adormecer os sofrimentos. O vinho torna-se para ela cantos e poemas.

Muitas pessoas dirão, sem dúvida. Que sou indulgente. “Você inocenta a embriaguez, idealiza a escória”. Confesso que diante dos benefícios, falta-me coragem para contar os danos. (...) Se o vinho desaparecesse da produção humana, creio que faria na saúde e no intelecto da humanidade um vazio, uma ausência, uma imperfeição muito mais terrível que todos os excessos e erros pelos quais responsabilizamos o vinho.

Um homem que só bebe água tem um segredo a esconder dos seus semelhantes.

Barbeau: “Não entendo por que o homem racional e espiritual serve-se de meios artificiais para alcançar êxtase poético, pois o entusiasmo e a vontade bastam para elevá-lo a uma existência supranatural. Os grandes poetas, os filósofos, os profetas, são seres que, pelo puro e livre exercício da vontade, alcançam um estado onde são, ao mesmo tempo, causa e efeito, sujeito e objeto, magnetizador e sonâmbulo.” Penso exatamente como ele.

Buscou-se na ciência física, na farmacêutica, nos mais grosseiros líquidos, nos perfumes mais sutis, em todos os climas e em todos os tempos, os meios de escapar, mesmo que por algumas horas, à sua morada de lobo e, como disse o autor de Lazare “Tomar o paraíso de um só gole”.

O espírito humano transborda de paixões, tem até para vender, mas este espírito maravilhoso, cuja depravação natural é tão grande quanto sua aptidão súbita, quase paradoxal, à caridade e às virtudes mais difíceis, é fecundo em paradoxos que lhe permitem empregar para o mal essa superabundância de paixões.

Este senhor visível de natureza visível (o homem) quis, portanto, criar o paraíso pelas drogas, pelas bebidas fermentadas, semelhante a um maníaco que substituiria os móveis sólidos e os jardins verdadeiros por cenários pintados sobre telas e emoldurados.

Paraísos Artificiais
Charles Baudelaire

O que Dizem as Pessoas Bêbadas

- Vejo o mundo de outra forma, mais feliz, mais alegre.

- Odeio quando estou sóbrio e os outros estão bêbados. Ver as pessoas muito felizes, muito alegres, e não poder curtir como eles. Quando estou bêbado fico mal de pensar que aquilo vai passar, então penso, "não, sempre que eu quiser ficar assim é só beber que eu fico de novo".

- O ruim é que o álcool te empresta uma máscara de felicidade que algumas vezes não está lá. Mas é prazeroso não ter o controle de si.

- Quando estou bêbado sinto euforia, fico extremamente feliz, como se fosse um caldeirão fervendo de alegria. Posso dançar, pular, conversar sobre assuntos desinibidos e filosóficos, situações engraçadas, perco um pouco a razão, e nem sempre a razão é tão necessária, com o raciocínio você muitas vezes enxerga as coisas como um cavalo usando um cabresto. Eu que estudo engenharia, que tudo é lógico, sinto falta de questões mais abstratas, e quando estou bêbado essas questões rendem mais.

- Danço espontaneamente, vejo que as pessoas quando estão sóbrias são como robôs, agindo de acordo com regras. O álcool altera as conveniências. Demonstro mais apreços pelas pessoas, fico com menos filtros intermediários, vejo todos com bons olhos, não fico com pé atrás, com críticas.

- Adoro filosofia de buteco, sentar e conversar, discutir, viajar na maionese, não seguir raciocínio nenhum, falar sem pensar e isso fazer muito sentido. Sou muito tímida, mas quando estou bêbada não ligo para o que vão pensar, falo com todo mundo, besteiras, nem percebo e estou lá trocando idéia.

- Eu penso assim: Por mais 0 a esquerda que você seja, você tem alguma coisa interessante para mostrar. E eu acho mais fácil mostrar minhas coisas interessantes quando estou bêbado.

- Se soltar. Conheço muitas pessoas só de falar oi, mas numa festa eu me aprofundo muito mais nessas relações.

- Com álcool eu não presto muita atenção, fico introspectivo, não de atitude, mas de pensamento. Como não fico me preocupando com o que estou fazendo e o que os outros vão pensar sobre isso, posso direcionar meus pensamentos para outros focos.

- Sóbria eu penso muito no que falar, como agir, como andar, até meus gestos eu controlo. Tenho medo da reação das pessoas, insegurança, me sinto sempre errada. Bêbada parece que eu me amo mais, me sinto mais confiante, mais interessante, como se a bebida me transformasse em outra pessoa, não fosse eu. Consigo dar atenção para o que eu quero, para o que eu sinto, e não para o que os outros esperam de mim. As coisas ficam muito mais simples e intensas.

- Quando estou bêbado fico mais corajoso. De chegar numa menina, por exemplo. Se eu "tomar bota", foda-se. Não fico pensando 2 vezes, com aquela idéia idiota de "a melhor coisa é..."Não que eu seja covarde quando estou sóbrio, sou só controlado. Um ato seu desencadeia diversas reações, e você tem que estar consciente disso. Já quando está bêbado, você fica com a cabeça no momento, não nas conseqüências.

- Bêbado eu faço qualquer coisa que eu queria fazer sóbrio mas por motivos pessoais, por exemplo, valores de certo e errado, não faço. Bêbado eu não ligo para o que os outros vão pensar.

- Sóbrio eu elejo as pessoas muito criteriosamente. Bêbado fico bem menos rígido. Fico feliz, sincero, tomo iniciativa de intimidade, não só sexual, mas de amizade.

- Tenho muito forte em mim a imagem de quem eu gostaria de ser. Com o álcool, ela se destrói. Eu queria ser uma pessoa interessante, reservada, seletiva. Mas quando estou bêbada não estou nem aí quem estou sendo, é uma super sensação.

- Pessoas que eu não falaria eu falo, perco minhas barreiras que nem deveriam existir.

- Sinto muito mais tesão, é óbvio. Estou liberando uma coisa que existe em mim. A gente diz que não, que não precisa disso, que sabe viver sozinho, mas todo mundo é carente. Carente de carinho e bêbada vem a parte sexual também. Sexo é carinho, mas carinho diferente.

- Me sinto mais desinibida, mais relaxada, sem aqueles padrões que ficam na cabeça quando estou sóbria, como cabelo, corpo, se estou gorda, magra, como está minha pele, roupa, consigo me sentir atraente independentemente de tudo isso.

- Me sinto bem mais atraente. Mas é muito falso. A pessoa me conhece e me beija em um momento que eu estou muito bem e segura, e quando não estou mais bêbada é como se a gente nem tivesse se beijado.

- Quando estou bêbada penso que estou quente. O corpo, o rosto, tudo. Quero tirar a roupa, beijar pra caramba, beijo demais. Sexo eu faço coisas que eu não teria coragem de fazer, de experimentar, por falta de coragem, por vergonha.

- Se vem de mulher ou de homem é prazer, não importa. E a bebida não cria isso não, ela só desinibe o que já existe em mim.

- Perco minhas barreiras com o sexo oposto e faço o que tenho vontade, chegar e conversar e provocar, provocar muito.

- O que eu vou sentir bêbado depende do contexto temporal, espacial, do momento de vida, depende do contexto. Se eu estiver triste vai liberar minha tristeza, se estiver alegre, minha alegria.

- Bêbada eu me sinto muito leve, como se estivesse voando, como uma pluma, tranqüila, sem preocupações, é uma paz.

- Infinitas sensações me dão prazer. Mas a bebida é um prazer bem acessível.

- Quando eu era criança e não ficava pensando sobre o significado e a explicação para o presente, apenas fazia as coisas sem me importar. Quando bebo me sinto assim.

segunda-feira, março 19, 2007

Auto-conhecimento

Teve um rápido movimento com a cabeça, impaciente. Pegou num lápis, num papel, rabiscou em letra intencionalmente firme: " A personalidade que ignora a si mesma realiza-se mais completamente."

Clarice Lispector- Perto do Coração Selvagem.

Relatório Hite da Sexualidade Feminina- O Que é Bom no Sexo?

Uma coisa que torna o sexo tão agradável é a capacidade de partilhar a intimidade do outro. É como se os dois estivessem sozinhos no mundo, naquele momento todo o resto perde a importância. Vem então a altura em que a coisa tem de parar e depois, quando ele já foi pra casa, as coisas voltam aos seus lugares com a separação total. Não sei, fico com uma espécie de depressão quando acaba. Acho que é por que não sei se vou vê-lo novamente.

Quando fico um período sem relações, começo a desejar afeto e afirmação. Sinto-me separada dos outros, e começo a notar uma necessidade intensa de afeto, intimidade, e qualquer forma de contato com outro ser humano.

Sem sexo me sinto sozinha e rejeitada. O sexo é ótimo para quebrar a concha de solidão e o medo que parece baixar como uma cortina entre eu e o mundo, quando não tenho alguém para amar. Acho o sexo um refúgio de bem-estar, calor e emoção num mundo frio- um rejuvenescimento. Uma espécie de área mágica para onde me retirar.

As minhas melhores experiências foram alguns encontros sexuais (sem coito) quando era adolescente. Nesses dias, o sexo parecia uma força poderosa que poderia vencer qualquer tipo de convenção e inibição. Enquanto atualmente, como mulher de trinta, o sexo parece mais uma rotina mecânica que na verdade funciona como barreira impedindo que eu e meu homem nos experimentássemos mutuamente. Naqueles dias, parecia que uma força irresistível nos empurrava um para o outro até que fossemos levados a ter relações.

Gostaria de fazer amor com mais beijo, me esfregando mais, com uma sensualidade mais vagarosa. Talvez então, tivesse de novo a maravilhosa sensação de ter “borboletas no estômago” que sentia durante horas, aos quinze anos, em intermináveis amassos, sem coito nem orgasmo.

Peço abraços e dou sexo em troca. Tudo bem comigo porque gosto de sexo, entretanto, quero deixar claro que muitas vezes o que realmente procuro é um homem que me acaricir.

O melhor são as longas horas que nos estimulamos antes do orgasmo, relaxamos, começamos novamente, conversando. Para mim é muito importante que haja contato dos corpos, também gosto de jogos sensuais, é muito bom também simplesmente ficar um ao lado do outro.

Relatório Hite da Sexualidade Feminina- Orgasmo- masturbação e coito

O orgasmo é uma renovação dos sentidos, um despertar de vida, uma centelha reconfortante, um alívio completo do tédio diário.

Uma excitação tremenda, perda de controle do corpo, desejos e impulsos que não posso reprimir, faço coisas que talvez nunca fizesse se não estivesse excitada. O meu corpo fica aguçadamente sensível, simples toques ou carícias em vários lugares me dão um prazer enorme.

O orgasmo sem penetração é agudo, bem definido- continua de uma forma quase insuportável- orgasmo atrás de orgasmo que eu poderia até gritar- o que faço- a penetração vaginal é mais suave, mais demorada, e menos bem definida- diferente, mais terna, menos assustadora.

A maioria das pessoas acha (eu também já achei) que os orgasmos nada mais são do que um espamo muscular que é óbvio, mas eu descobri que quero e posso ter orgasmos muito calmamente e muitas vezes, e só noto isso depois de estar relaxada e não sentir vontade de me mexer por uns minutos.

O orgasmo da masturbação é mais rápido e fisicamente mais intenso, mas há em seguida uma sensação de vazio, de isolamento.

Sem o genuíno orgasmo do clitóris, o sexo não teria nenhuma grandeza. Todas as tensões, emoções e sensações que fazem parte do sexo libertam-se. Sinto-me inundada de alívio. Tudo parece surgir numa estranha mistura que me deixa refrescada e renovada, contente com o mundo.

O meu orgasmo é meu. Eu controlo-o, produzo-o e sinto-o.

Embora ache que o prazer mútuo é maravilhoso, o orgasmo no final de contas, é coisa de cada um. É você que tem de se concentrar e fazer um esforço físico.

Não se pode simplesmente deitar e esperar por um orgasmo. Sente-se quando está a se aproximar e claro, concentra-se para produzi-lo.

Num certo momento precisa parar com o relaxamento e a diversão e preparar-se para a mais abaladora experiência, o orgasmo, às vezes parece trabalhoso de mais.

Relatório Hite da Sexualidade Feminina- A Corrida Para o Orgasmo

Parece bem claro que as mulheres também têm direito ao orgasmo durante o sexo, como parte natural e integrante. Mas agora existe a idéia de que as mulheres têm que ter prazer no sexo, esse direito se converte as vezes numa opressão.

Sim, orgasmos são importantes, mas o símbolo do orgasmo foi exagerado, tornando-se símbolo de sensualidade, tesão, paixão, vida, etc.

Muitos dos meus companheiros acham que eu sou esquisita porque eu fico muito quieta e concentrada no que acontece na minha cabeça quando eu tenho um orgasmo. Eles acham que eu não estou gozando se não ofegar, gritar e arranhá-los.

A pergunta não deveria ser por que as mulheres não têm orgasmos no coito, e sim, por que insistimos que as mulheres têm que ter orgasmo no coito? Por que as mulheres acham que têm que experimentar de tudo, exercícios, análises prolongadas, terapêutica sexual, para ter o tal do orgasmo?

A idéia de que se pudéssemos simplesmente nos descontrair e automaticamente chegaríamos ao orgasmo baseia-se na idéia falsa de que o orgasmo vem naturalmente com a penetração no pênis, e que a nós só cabe entregarmo-nos, que os nossos corpos farão o resto, é só sentir.

Acho que a revolução sexual distorceu totalmente o lugar da sexualidade, a ponto de se tornar um fim em si mesma, uma fuga, ou uma tentativa desesperada de se conseguir amor.

Gostaria de ver o sexo de maneira mais pessoal. De certo modo eu quase gostaria de voltar ao tempo quando simplesmente não se falava sobre sexo. Esconder, não por ser sujo, mas por ser uma coisa terna, particular.

Infelizmente a idéia de que o sexo é necessário para a saúde tornou-se um grande negócio. Revistas, livros, televisão utilizam o sexo (ou o casal feliz) para vender produtos, psiquiatras, conselheiros, clínicas sexuais, filmes e institutos de massagem, todos têm interesse investido na idéia.

Penso que a nossa cultura deu importância exagerada ao sexo. Cada um acha que todos estão a divertir-se muito transando o tempo todo e por isso todos competem para o mito do sexo. Acho que na minha vida o sexo assumiu proporções corretas, isto é, a expressão do amor que existe entre nós.

Eles achavam que seus pênis eram instrumentos fantásticos que deixavam a mulher louca de desejo e satisfação só por eles estarem com ela no quarto. Só dois dos muitos homens que dormiram comigo fizeram um esforço real para me satisfazer.

Uma orientação excessiva para o orgasmo leva o sexo a uma orientação para o sucesso e a uma perda de conjunto. O sexo deve ser rico em prazer, proximidade com o outro, calor e carinho, não uma corrida para o orgasmo.

sexta-feira, março 16, 2007

Se eu fosse um livro eu seria...

Água Viva

O próximo instante é feito por mim? Ou se faz sozinho?

Estou num estado muito novo e verdadeiro, curioso de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo ou escreve-lo.

Não gosto do que acabo de escrever- mas sou obrigada a aceitar o trecho todo porque ele me aconteceu.

Parece que pela primeira vez estou sabendo das coisas. A impressão é que só não vou mais até as coisas para não me ultrapassar. Tenho certo medo de mim, não sou de confiança, e desconfio de meu falso poder.

Ocorre-me de repente que não é preciso ter ordem para viver.

Como se tal calma não pudesse durar. Algo está sempre por acontecer. O imprevisto improvisado e fatal me fascina.

A vida oblíqua é muito íntima. Não digo mais sobre essa intimidade para não ferir o pensar- sentir com palavras secas. Para deixar esse oblíquo na sua independência desenvolta.

A vida oblíqua? Bem sei que há um desencontro leve entre as coisas, elas quase se chocam, há desencontro entre os seres que se perdem uns aos outros entre palavras que quase não dizem mais nada.

Mas escrever para mim é frustrador: ao escrever lido com o impossível.

Eu não tenho enredo de vida? Sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver.

O verdadeiro pensamento parece sem autor.

Clarice Lispector.

Exercício Corretivo da Experiência Emocional

O eu é visto como um projeto reflexivo, pelo qual o indivíduo é responsável. Somos não o que somos, mas o que fazemos de nós mesmo.

Todos os homens monitoram continuamente as circunstâncias de suas atividades como parte do fazer o que fazem, e esse monitoramento sempre tem características discursivas. Em outras palavras, se questionados, os agentes são normalmente capazes de fazer interpretações discursivas da natureza e das razões de seu comportamento.

As pessoas lidam com perigos, e os medos associados a eles, em termos das “fórmulas” emocionais e comportamentais que passaram a fazer parte do pensamento cotidiano.

A autobiografia- particularmente no sentido amplo de uma auto-história interpretada, produzida pelo indivíduo em questão, seja escrita ou não- está realmente no centro da auto-identidade na vida social moderna.

O propósito básico de escrever material auto-biográfico é ajudar a ajustar contas com o passado... Outro aspecto é o “exercício corretivo da experiência emocional”.
Manter um diálogo com o tempo significa identificar os eventos causadores de tensão (eventos reais do passado e eventos passíveis de ser encontrados no futuro) e compreender suas implicações.

Modernidade e Identidade
Anthony Giddens

quinta-feira, março 15, 2007

Relatório Hite da Sexualidade Masculina- visão que têm das mulheres

Elas reclamam de que não falo sobre o que eu sinto, mas sei que isso é melhor para a relação. Na verdade elas não querem saber como eu me sinto, pois, quando eu conto, sou punido imediatamente. Porém, se digo que estou me sentindo como elas gostariam que eu estivesse me sentindo, sou recompensado.

Nem sempre, mas muitas vezes, se uma mulher de repente começa a ficar ranzinza, se lamentando, na verdade o que ela está querendo dizer é que está tesa, então eu abro o zíper e simplesmente a calo enfiando meu pênis em sua boca. Muitas vezes isso encerra o assunto e a deixa satisfeita. Sinto que ela está exprimindo uma necessidade de achar socorro oral, confiança, dependência e amor.

Não posso deixar de ver as mulheres como seres inferiores. Você pode conseguir qualquer coisa delas apenas dizendo que são 'especiais'. Elas adoram que você diga que são especiais.

As mulheres ainda se impressionam por homens realizados e ficam mesmo ansiosas para ter sexo com homens insensiveis, egocentricos e brutais só porque eles projetam uma sensação de força.

Muitas mulheres simplesmente se deitam e olham pra você silenciosamente como se dissessem: "Muito bem, agora faça com que aconteça. Mais do que qualquer outra coisa, associo sexo com ansiedade, medo de gozar logo, de ficar impotente, se ser ridicularizado, comparado abandonado. Nunca fiquei com uma mulher que me fizesse me sentir relaxado.

Há uma nova perversão a solta, um "novo machismo". Agora, para ser "homem o bastante" é preciso falar sobre os sentimentos e ser gentil. Acho que todo esse tipo de coisa é apenas uma adaptação para o "vem cá, meu bem" para uma boa trepada.

Uma mulher pode ser bastante desejável, para mim, antes do sexo, e repulsiva imediatamente após a trepada. Por 'imediantamente' quero dizer um minuto depois que gozo. Não é uma coisa premetidata ou calculada estrategicamente. É apenas um fato biológico: é triste, mas é verdade- quando o desejo está presente, a razão desaparece, pelo menos temporariamente. As mulheres não deveriam culpar os homens por coisas que eles não podem controlar. Para um homem com tesão, uma mulher pode ser apenas coisa que comida para um homem faminto. Sim, um obejto.


Gosto de cunilíngua porque se eu agradar a mulher, ela vai se sentir obrigada a me agradar.

Acho que o mulherio é posto demais em um pedestal. Em toda a parte, o homem tem que ser cuidadoso e estar alerta para não ser indelicado com uma mulher. E quase não se menciona que as mulheres não deveriam ser tão indelicadas com os homens. É chique para a mulher ser arrogante.

Relatório Hite da Sexualidade Masculina- Amor

O que tenho a dizer sobre relacionamento é que não quero nenhum. Mas quando alguém cai do céu e toca minha corda sensível, o que posso fazer? Honrar o acontecimento.

Atração sexual pode-se sentir por muitas, muitas mulheres, mas de vez em quando acontece esse estranho, quase superpoderoso sentimento, que o faz querer ficar com a outra pessoa o tempo todo. Não creio que isso pode ser construído- apenas existe. Não estou dizendo que duas pessoas tenham que trabalhar para manterem-se juntas, ao contrário, mas não é esse trabalho que traz o sentimento, é o sentimento que traz esse trabalho.


Como homem casado, provavelmente decidi me casar com a minha mulher como quem salta de uma avião: acelerando a cada segundo. Encontrar alguém, agarrar com força e saltar juntos! É lindo! Se uma mulher pede o divórcio, não está fazendo jogo limpo. Ela se certificou de que estava com um para-quedas e... O usou!

O amor é isto- ou aquilo? Eu não sei. Devoção ou comprometimento? Paixão louca? Conheço todos. Também sei que uma mistura de ressentimento e dependência é frequentemente confundida com amor. Talvez, especialmente, em longos relacionamentos.

Amo-a porque ela é a primeira e única mulher a ver o mundo como eu vejo. Ela foi a primeira pessoa que encontrei que tinha algo de novo, completamente novo para dizer sobre qualquer assunto. Amo-a porque ela consegue me surpreender e me fazer rir. Amo-a porque seu corpo é feminino, permite que dancemos bem.

Relatório Hite da Sexualidade Masculina- homossexualidade

O que me faz ser homossexual é o contato. Me faz me sentir como se estivesse tocando a mim mesmo. Sinto como se estivesse recebendo ao invés de apenas dando.

Meu ânus é erógeno e não me parece que exista muito o que fazer sem homens.

Vantagens do sexo gay: A ausência de medo da gravidez, prazer incrementado por ser 'proibido', mais chances de compreensão profundo devido as semelhanças físicas e emocionais. A melhor faceta é ser capaz de amar outro homem. A única desvantagen é o estereótipo social.

O sexo entre homens é diferente porque os homens são mais extrovertidos sexualmente. Eles QUEREM sexo. As mulheres lutam contra você. Não gosto do que você tem que se submeter para chegar em uma mulher. Você sabe que vai transar com ela, mas tem que passar por um enorme ritual. Se um homem está afim, você o tem na hora.

Gostaria de ser mais livre da atração sexual programada para as minhas amigas e da aversão sexual programada com os meus amigos.

Fazer bebês era a função econômica dos povos civilizados. Bem, agora há uma tonelada de bebês. Agora eu penso que a reação homossexual em alguns de nós é programada. Alguns argumentam que é livre-ecolha, porque está na moda dizer isso, mas eu não acredito que seja assim.

quarta-feira, março 14, 2007

Mais leve (?)

... Que a reflexão sobre o humano, demasiado humano- ou, conforme diz a expressão mais erudita: a observação psicológica- faça parte dos meios que permitem tornar mais leve o fardo da vida; que o exercício dessa arte proporcione presença de espírito em situações difíceis e divertimento no meio de uma companhia aborrecida; que se possa até mesmo colher sentenças nos terrenos mais espinhosos e desagradáveis da própria vida e, com isso, sentir-se um pouco melhor.

Humano, Demasiado Humano
Nietzsche

terça-feira, março 13, 2007

Pro tempo correr macio...

há 19 anos que sugem coisas e mais coisas dessa caixinha de surpresas...

segunda-feira, março 12, 2007

Noite a dentro, vida afora...

Minhas raízes estão no ar
Minha casa é qualquer lugar
Se depender de mim eu vou até o fim
Voando sem instrumentos
Ao sabor do vento
Se depender de mim eu vou até o fim

Cada célula, todo fio de cabelo
Falando assim parece exagero
Mas se depender de mim
Eu vou até o fim

Até o fim - Humberto Gessinger

Elogio da Loucura

Temos muito mais paixões que razões.

Felicidade custa muito pouco: Basta um pouquinho de pesuasão.

Se a vida comum não se alimentasse e não se apoiasse na complacência, nas brincadeiras, na ilusão, na dissimulação, que são componentes da loucura...

Pode-se dizer que é um grande mal ser enganado. Há um pior ainda: Não ser enganado.

É praticamente incrível quantos motivos de riso e de diversão diária os homens oferecem aos deuses. Não há para eles espetáculo mais divertido! Quanta agitação e quantas variedades de loucos!

Elogio da Loucura
Erasmo

sexta-feira, março 09, 2007

O Sabor de Uma Fruta...

- Sou um monte intransponível no meu próprio caminho. Mas às vezes por uma palavra tua ou por uma palavra lida, de repente tudo se esclarece.

Aprendi que se deve viver apesar de. (...)
Apesar de, se deve amar.

Por mais intransmissíveis que fossem os humanos, eles sempre tentavam se comunicar através de gestos, de gaguejos, de palavras mal ditas e malditas.

Todo o erro dos outros e nos outros é uma oportunidade para mim de amar.

O sabor de uma fruta está no contato da fruta com o paladar e não na fruta mesmo.

Queria que as coisas “acontecessem”, não que as provocasse. Ela conhecia o mundo dos que estão tão sofridamente à cata de prazeres e que não sabiam esperar que eles viessem sozinhos.

Uma aprendizagem ou O Livro Dos Prazeres
Clarice Lispector.

Psicologia e Alienação- Ajustamento

Seus problemas são de adequação a um meio que não tem condições de transformar, suas derrotas ocorrem quando não consegue adaptar-se às circunstâncias; seus triunfos decorrem das modificações de seus interesses de acordo com os estímulos recebidos.

Ora, a solução dos problemas sai, então, do âmbito das relações sociais para centralizar-se no indivíduo cujos sofrimentos são provocados pela incapacidade de adaptação e cujos triunfos são fruto de sua adesão à engrenagem.

O psicólogo norte-americano Charles Aylworth, de Louisville, preocupado com os efeitos da superpopulação e a escassez de habitações e alimentos que previu para o futuro, convencido de que o crescimento demográfico não favorece o desenvolvimento do good will, que o controle da natalidade é uma necessidade da espécie humana para sobreviver (...) quis verificar como seriam as reações de indivíduos obrigados a viver em promiscuidade, com falta de espaço e de alimentos como está previsto que ocorrerá no ano 2000, se a pílula e a esterilização voluntária ou forçada não resolverem esses problemas.

Para realizar a “experiência” psicológica, escolheu 60 voluntários, entre os quais havia rapazes e moças, donas de casa, operários, funcionários e até professores. As “cobaias” foram colocadas em quatro peças contíguas e comunicantes, com uma privada, luzes sempre acesas e alto-falantes que emitiam continuamente ruídos estranhos, dissonantes e extremamente irritantes. A comida era insuficiente mas havia muitas esteiras para dormir no chão, aparelhos de televisão, guitarras elétricas, rádios de pilha e revista sexy.

As conclusões são: as pessoas se irritam, se neurotizam e procuram refugiar-se no próprio núcleo neurótico, escapando por meio do sexo em principalmente, procurando estabelecer o domínio dos mais fortes sobre os mais fracos.


Psicologia e Alienação
Alberto L. Merani

Psicologia e Alienação- Publicidade

Essa consciência se funda na imobilidade do irracionalismo que leva o indivíduo a considerar-se desajustado em seu próprio mundo, à margem dos acontecimentos, espectador atento e passivo de fatos muito além de seu alcance.

A publicidade é nova: nasceu com a Revolução Industrial e representa um aspecto moderno da mitologia: a criação de necessidades que serão satisfeitas pelo produto oferecido.

A publicidade não busca apenas convencer, seu objetivo é modificar de tal forma que seus temas, idéias e insinuações emerjam como produto natural da própria vida. Cria pseudo-personalidades, o homem assume usando máscaras simbólicas que são os produtos: o automóvel, o sabonete, a roupa, o alimento, tudo que lhe é imposto e que dá ao indivíduo uma imagem de si mesmo de acordo com o que desejaria ser.

O primeiro pressuposto é o da primazia dos fenômenos afetivos. O homem não é um ser lógico, racional, seu discurso mais coerente, suas explicações ou raciocínios mais claros estariam relacionados com os desejos e temores que o atormentam. As relações afetivas com os semelhantes, com o mundo e suas transformações, configuram o “estilo” de seu comportamento, revelando os motivos de suas atitudes.

Psicologia e Alienação.
Alberto L. Merani.

Psicologia e Alienação- Seleção Profissional

A entrevista não é mero bate-papo, é uma verdadeira “radiografia” espiritual: é o caminho para descobrir a maneira de pensar do entrevistado, suas carências afetivas, que permite captar o germe de possíveis reações futuras. É um processo inquisitorial, que qualquer tribunal recusaria porque ninguém pode ser julgado favorável ou desfavoravelmente por suas intenções.

Gosta de conversar com desconhecidos quando está viajando? Tem medo de perder-se à noite, num bairro desconhecido?, etc. Por fim, utilizam-se de testes projetivos, cujas respostas são consideradas decisivas, pois revelam ou desvelam o ser e o mundo do indivíduo. Acredita-se que nesses testes aparece, em termos quantitativos, a importância que tem o trabalho na vida do entrevistado e, em termos qualitativos, sua atitude e seus sentimentos em face do trabalho.


Psicologia e Alienação.
Alberto L. Merani.

Psicologia e Alienação- Psicanálise.

Depois da Primeira Guerra Mundial, até então o maior choque armado registrado pela história, o primeiro em que o capitalismo industrial exerceu abertamente sua influência sob a máscara da Liberdade e da Democracia, surgiu um novo instrumento psicológico (...).

Assim o homem não é bom, nem poderoso, nem justo e não é conduzido pelas normas da razão... Essas são palavras com as quais dissimulamos nossa natureza essencialmente imperfeita, pois somos exclusivamente, desde o nascimento, “perversos polimorfos”, seres incompletos, em todos os sentidos, temos tendências inatas à destruição, inclusive a própria, e devemos ser controlados e submetidos à constante vigilância.

A causa está na sexualidade reprimida, mistura de sonho e realidade, desviada na criança e no adolescente, desvirtuada no adulto ainda que tenha uma vida sexual regular. É a libido da psicanálise a grande responsável.

Por esse caminho, o sistema industrial capitalista e individualista (...) desemboca na pornografia como forma de vida: revistas, cartões, cinema e até bonecas infláveis de tamanho natural.


Psicologia e Alienação.
Alberto L. Merani.

quinta-feira, março 08, 2007

Haverá Paraíso (?)

Paradeiro

Composição: Arnaldo Antunes, Marisa Monte

Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de um vício?
Uns preferem dinheiro
Outros querem um passeio
Perto do precipício.
Haverá paraíso sem perder o juízo e sem morrer?
Haverá pára-raio
Para o nosso desmaio
No momento preciso?
Uns vão de pára-quedas
Outros juntam moedas antes do prejuízo
Num momento propício
Haverá paradeiro para isso?
Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de nós?

quarta-feira, março 07, 2007

Eu te proíbo de não me querer...

Amar sem precisar da dor,
querer também sem magoar

Tocar seu corpo
Hoje mesmo.

Nando Reis

terça-feira, março 06, 2007

Sobre blogs: Os diários íntimos na Internet e a crise da interioridade psicológica- Trechos

Alain Corbin e Michelle Perrot na passagem da História da vida privada relativa a época de intenso “deciframento de si”,
o “furor de escrever” tomou conta de homens, mulheres e crianças,
imbuídos tanto pelo espírito iluminista de conhecimento racional como pelo ímpeto romântico de mergulho nos mistérios mais insondáveis da alma.

A escrita de si tornou-se uma prática habitual, dando à luz todo tipo de textos introspectivos nos quais a auto-reflexão se voltava não tanto para a busca de um certo “universal” do Homem, mas para a sondagem da natureza fragmentária e contingente da condição humana, plasmada na particularidade de cada experiência individual.

Mais do que isso, o diário tem em mira a recuperação, a guarda de todos os eventos da existência. Seguindo a tradição do direito romano, de que apenas o que está escrito tem existência legal, seria uma maneira de comprovar a existência, de atestar, de registrar o que é vivido.

Os computadores e as redes digitais surgiriam, assim, como mais um cenário para a colocação em prática da antiga “técnica da confissão”, essa modalidade de construção da verdade sobre os sujeitos que há séculos vigora em Ocidente e cuja genealogia fora traçada por Michel Foucault em seu livro A vontade de saber.

A lente incansável de uma webcam, por exemplo, que registra permanentemente cada detalhe de uma vida particular, nada mais é do que um upgrade tecnológico do velho costume de anotar toda a minúcia cotidiana em um caderninho de folhas amareladas?
Essa exposição pública é apenas um detalhe sem importância das novas práticas, que deixa intactas as características fundamentais dos antigos diários íntimos? Ou se trata, pelo contrário, de algo radicalmente novo?

Cada vez mais, a mídia reconhece e explora o forte apelo implícito no fato de que aquilo que se diz e se mostra é um testemunho vivencial: a ancoragem na “vida real” torna-se irresistível, mesmo que tal vida seja absolutamente banal – ou melhor: especialmente se ela for banal.

A vida comum transforma-se em algo espetacular, compartilhada por milhões de olhos potenciais. E não se trata de nenhum evento emocionante. Não há histórias,aventuras, enredos complexos ou desfechos maravilhosos. Na realidade, nada acontece, a não ser a vida banal, elevada ao estado de arte pura.

Se na cultura do psicológico e da intimidade o sofrimento era experimentado como conflito interior, ou como choque entre aspirações e desejos reprimidos e as regras rígidas das convenções sociais,

hoje o quadro é outro: na cultura das sensações e do espetáculo, o mal-estar tende a se situar no campo da performance física ou mental que falha, muito mais do que numa interioridade enigmática que causa estranheza.

Paula Sibilia

De "papai sabe tudo" a "como educar seus pais". Considerações sobre programas infantis de TV- Trechos

'Papai Sabe Tudo' foi um seriado exibido na televisão brasileira a partir do início da década de 60. Era bastante popular entre as crianças e seus familiares, retratando o cotidiano de um pai de família comedido, chefe da sociedade conjugal, ou ainda "o cabeça do casal" que ministrava importantes "lições de vida". Não mais o pai autoritário, onipotente, dos tempos passados, mas o chefe de família a quem cabia a última palavra; simbolizava o saber paterno, transmitido a partir de suas vivências. Ponderado, inteligente, sempre dispunha de palavra sábia ou de solução gloriosa para as situações criadas por seus filhos.

No início da década de 70, em 'Jeannie é um gênio' , a protagonista, recorrendo a magia, tentava proteger seu amo e senhor, Major Nelson, que muitas vezes brigava com Jeannie devido ao comportamento um tanto quanto irresponsável e irreverente desta.
Já em 'A Feiticeira' , Samantha não era um gênio, mas uma feiticeira, que tudo conseguia com seus poderes sobrenaturais. Seu marido representava o papel de chefe de família, ou tentava fazê-lo, já que muitas vezes a feiticeira, esposa dedicada, fingia aceitar as imposições de James, ...

Não se pode desprezar o fato de que, nesta mesma década, o movimento feminista obteve repercussão na sua luta contra a opressão direcionada às mulheres, incluindo a contestação da ordem familiar hierárquica vigente e a busca da igualdade de direitos entre homens e mulheres.


Se 'Papai sabe tudo', 'Bonanza' e outros representavam o estereótipo de homem ponderado, chefe de família, em 'A Feiticeira' e 'Jeannie é um gênio' é dada notoriedade ao fato de que a mulher governa de esguelha, quando, com jeito e persuasão, impõe sua vontade e influencia o marido, que permanece com o poder de representação familiar. Retrata-se a astúcia das mulheres por meio de poderes mágicos, secretos, ou do "jeitinho feminino".

No início da década de 80 cresceu o número de programas infantis que equipararam a figura feminina à masculina.

Na programação infantil, o "Show do Bozo", exibido no SBT de 1981 até 1991, alterna a preferência da audiência com Xuxa, que teve sua estréia em 1986, na Rede Globo, e com Angélica, em sua "Nave da Fantasia", em 1987, na TV Manchete, iniciando-se a ascensão e o privilégio femininos na condução de tais programas.

A partir de meados da década de 80 ocorre uma progressiva troca de comando, quando os programas infantis passam a ser divulgados por sensuais apresentadoras, que, entre outras coisas, ensinam a garotada a escovar os dentes.

Cabe recordar ainda que tais conselhos, entoados nas músicas e jogos que divertem o público, recomendam insistentemente o consumo de alimentos, produtos de higiene, e outros itens, responsáveis pelo patrocínio do programa - unificando, assim, as figuras de apresentador e vendedor.

Na década de 90, ocorreu o lançamento de 'Os Simpsons', série apreciada até hoje em diversos países. Logo depois, surgiu 'A Família Dinossauro' ("The Dinosaurs"), que estreou no Brasil em 1992, com forte merchandising em torno do título.
O desenho dos Simpsons se propõe a retratar uma família norte-americana de classe média, abordando assuntos considerados polêmicos como racismo, adultério e homossexualismo, com ironia, utilizando sátiras em suas contestações sociais.

No entanto, tem-se como ponto em comum nos dois seriados o fato de que as mães são retratadas como pessoas equilibradas, sensatas – a referência familiar – enquanto Homer Simpson e Dino da Silva Sauro demonstram incompetência para a solução dos problemas apre-
sentados, relegados à condição de “homem objeto” logo reconhecidos como “sexo frágil”. Nos dois desenhos, o papel representado pelo homem é enfraquecido enquanto imagem social,quando, contrariamente, o das mulheres é enaltecido.


O desenho 'As Meninas Superpoderosas' vem causando sensação, ultimamente, com Lindinha, Florzinha e Docinho. A série, veiculada nos EUA a partir de 1998, além de divertir a criançada, já está incluída no rol de temas de festas infantis, artigos de papelaria e souvenirs, como chaveiros e canetinhas, sendo identificada como uma "febre mundial". Em entrevista publicada em um jornal, o cartunista justifica: "toda mulher gosta de se achar bonita e delicada e, ao mesmo tempo, poderosa. Elas usam os produtos como símbolos de suas próprias personalidades".

Em compensação, "Johnny Bravo", rapaz forte, usa um "charmoso" topete e se acha maravilhoso, possuidor de "poderosos sensores de gatinhas". O jovem é muito ligado à mãe - uma mulher excêntrica -, que acha que o filho deve ser o melhor em tudo. Johnny revela, além dos traços narcísicos, um raciocínio simplista; freqüentemente, o anti-herói apanha das mulheres, "gatinhas" mais espertas do que ele, que o chamam de idiota ou imbecil. Seu topete parece semelhante ao que alguns jovens usam atualmente - ou seria o contrário?

No presente, junto com os desenhos destacados no item anterior, são exibidas diversas séries que apresentam as crianças como protagonistas, conforme programação divulgada pelos canais de TV.

"Rugrats", lançado originalmente na década de 90 e traduzido no Brasil como 'Os Anjinhos', continua tendo grande aceitação. A série expõe as situações da vida a partir do ponto de vista dos bebês, sendo que os adultos, o pai, a mãe e o avô, são retratados como aqueles que apenas cuidam das necessidades básicas das crianças.

Um novo desenho veiculado em canal de TV por assinatura. "Kids next door", traduzido como 'A turma do bairro' é apresentado como a única nova produção lançada pelo canal, na América Latina, no ano de 2003. No desenho, um grupo de crianças de 10 anos de idade aproximadamente, luta contra o que qualificam como "tirania dos adultos", buscando a garantia de seus direitos, como, por exemplo, o de comer apenas o que querem e de acordar tarde. Reunindo forças contra os adultos, os agentes da turma travam verdadeiras batalhas para realizar só o que têm vontade .


Leila Maria Torraca de Brito - www.scielo.br/pdf/psoc/v17n1/a07v17n1.pdf

Ilusões de modernidade: o fetiche da marca McDonald's no Brasil- Trechos

O McDonald's não vende apenas pão, mas também circo, ...

Com Ronald, as propagandas veiculadas pela D'Arcy se transformaram na primeira campanha nacional da companhia, cujo tema foi "o McDonald's é o seu lugar", enfatizando o restaurante como um espaço de diversão, e não apenas um lugar para se comer hambúrguer, num momento que revelava os contornos de uma sociedade cada vez mais inclinada para lugares que pudessem transmitir uma "experiência" de diversão.

Em 1960, vivia-se o emergir da "cultura do lazer", que está diretamente relacionada a uma redução do tempo de trabalho: nessa década, a semana de trabalho nos Estados Unidos passa a ser de 37 horas, quando, um século antes, era quase o dobro.

E é simultaneamente ao vazio deixado pela redução do tempo do trabalho que a cultura de massa trata de preenchê-lo através das conquistas efetuadas pela Revolução Industrial: os produtos para consumo, as viagens de automóveis, a televisão na sala de jantar; enfim, uma
nova forma de bem-estar proporcionada pela vida consumista.

"Cultura do fast-food", na qual, mais importante que vender hambúrgueres, seria vender "atitudes" ligadas a hambúrgueres, vender um modo de vida enquanto entretenimento, "espetáculo".

As primeiras propagandas do McDonald's no Brasil não visaram vender a imagem de uma ida a um lugar de felicidade, como foram assim apresentadas nos EUA, mas, pelo contrário, tinham a função de "educar para esse consumo tão moderno", de "civilizar" e, até muito recentemente, ainda se observavam propagandas que têm essa função de treinar para o consumo, embora isso não seja feito de forma escolar, mas divertida, como a propaganda que ensina o que é um Big Mac, a partir dos ingredientes que ele contêm.

"McInternet", um projeto inovador da rede, o primeiro desse tipo no mundo, que começou em caráter experimental em 2001, quando as lanchonetes McDonald's passaram a oferecer computadores com acesso gratuito à Internet. Não fosse já surpreendente a maneira como o McDonald's está se reinventando na periferia do mundo, através do que há de mais moderno em termos da revolução da informação, isso ainda está sendo feito a partir de novas formas de gestão, baseadas no discurso da responsabilidade social.
A par do mapa da exclusão digital do Brasil, onde apenas 12% dos brasileiros têm computadores em suas residências e pouco mais de 8% deles estão conectados à Internet (Neri, 2003), a alta direção da empresa decidiu nomear o projeto da McInternet como sendo a contribuição do McDonald's para favorecer a inclusão digital no País e seus diferenciais de modernidade.

Isleide Arruda Fontenelle --> http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822006000200006&lng=pt&nrm=

segunda-feira, março 05, 2007

Aniversário do Meu Pai

...Que a vida é mesmo coisa muito frágil
Uma bobagem uma irrelevância
Diante da eternidade do amor de quem se ama...

Nando Reis- Por Onde Andei.

domingo, março 04, 2007

Agora Sim

Quem sabe eu tive de algum modo pressa de viver logo tudo o que eu tivesse a viver para que me sobrasse tempo de... de viver sem fatos? de viver.

O leve prazer geral- que parece ter sido o tom em que vivo ou vivia- talvez viesse que o mundo não era eu nem meu: eu podia usufruí-lo.

E que, quando andávamos, eu não sabia que o amor estava acontecendo muito mais exatamente quando não havia o que chamávamos de amor. O neutro do amor, era isso o que nós vivíamos e desprezávamos.

Eu não sabia ver que aquilo era amor delicado. E me parecia o tédio. Era na verdade o tédio. Era na verdade uma procura de alguém para brincar.

Um rosto inexpressivo me fascinava; um momento que não era clímax me atraía. A natureza, o que eu gostava na natureza era o seu inexpressivo vibrante.

- Ah, não sei como te dizer, já que só fico eloqüente quando erro, o erro me leva a discutir e a pensar. Mas como te falar, se há um silêncio quando acerto? Como te falar do inexpressivo?

- Não, não quero te dar o susto do meu amor. Se te assustares comigo, eu me assustarei comigo.

Ah meu amor, não tenha medo da carência: ela é o nosso destino maior. O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente.

Nesses intervalos nós pensávamos que estávamos descansando de um ser o outro. Na verdade, era o grande prazer de um não ser o outro: pois assim cada um de nós tinha dois.

A Paixão Segundo GH- Clarice Lispector.

A Extinção do Invisível

A idéia, escrevia Kant, "é um conceito necessário da razão ao qual não pode haver nos sentidos nenhum objeto correspondente."

.................................................


A televisão, porém, nos oferece a possibilidade de ver tudo sem necessidade de irmos ver os objetos onde se encontram. Agora, pela televisão, tudo o que existe e é visível pode entrar praticamente de graça em nossa casa vindo de qualquer parte do mundo.


Um mundo feito de imagens, totalmente centralizado no ver.


É incontestável que a televisão oferece entretenimento e diversão: o homem enquanto animal que gosta de se divertir e de brincar, jamais foi tão satisfeito e gratificado em toda a sua história. (...) Se a televisão transforma tudo em espetáculo, então a avaliação muda.


A verdade é que ficar só diante do vídeo não só nos mantêm fechados dentro de casa, mas também nos isola em casa. A televisão cria uma "multidão solitária" mesmo dentro das paredes domésticas. O resultado que nos aguarda é uma solidão eletrônica: o vídeo que reduz ao mínimo as interações domésticas, e, em seguida, a internet que as transfere e transporta- via máquina- em interações entre distantes.


O interagir, que consiste em um intercâmbio de mensagens por meio de computadores pessoais, é um contato empobrecido que afinal nos deixa sempre sozinhos diante de um teclado.
Homo Videns- Televisão e Pós Pensamento
Giovanni Sartori


------------

Filme- Farenheit 451




Num futuro hipotético, os livros e toda forma de escrita são proibidos, sob o argumento de que faz as pessoas infelizes e improdutivas.


(...) O cenário aqui desenhado é um dos mais inquietantes jamais concebidos pela ficção científica – sem seres alienígenas, naves espaciais ou armas mirabolantes, ...
O controle é exercido por um governo que promove o entretenimento como forma de vida, anulando todo o apetite do espírito. As pessoas não têm tempo para pensar, não conversam umas com as outras nem contatam com a natureza.
Em vez disso, passam horas em frente à televisão, cuja programação, de tipo interativo, é projetada nas paredes das casa, ...

Bombardeadas com tanta informação e tanta atividade inútil, mas que dão a falsa sensação de “movimento”, as pessoas, na realidade “apenas se arrastam”. Foram moldadas ao sistema, estão conformadas, não questionam nada, pois têm a falsa sensação de uma vida preenchida e feliz.
Neste cenário, os livros deixaram espontaneamente de ter leitores – para quê atormentar o espírito com dúvidas existenciais, com assuntos filosóficos, com estudos sociológicos, com poesia melancólica, com romances cheios de personagens imaginários que não existem na realidade?
Os livros são vistos com fonte de sofrimento, pois obrigam a pensar e estão cheios de contradições - fatos insuportáveis para um espírito habituado à mínima atividade autônoma possível, embriagado, numa espécie de hipnose coletiva.
(...)

Cláudia Silva



sexta-feira, março 02, 2007

Procurar fazer do seu desejo, de todo o seu desejo, um discurso.

Trata-se, em suma, de interrogar o caso de uma sociedade que se fustiga ruidosamente por sua hipocrisia, fala prolixamente de seu próprio silêncio, obstina-se em detalhar o que não diz, denuncia os poderes que exerce e promete liberar-se das leis que as fazem funcionar.

(...)

A Contra-Reforma se dedica, em todos os países católicos, a acelerar o ritmo da confissão anual. Porque tenta impor regras meticulosas de exame de si mesmo. Mas, sobre tudo, porque atribui cada vez mais importância, na penitência- em detrimento, talvez, de alguns outros pecados- a todas as insinuações da carne: pensamentos, desejos, imaginações voluptuosas, deleites, movimentos simultâneos da alma e do corpo, tudo isso deve entrar, agora, e em detalhe, no jogo da confissão e da direção espiritual.

(...)

"Examinai, portanto, diligentemente, todas as faculdades de vossa alma, a memória, o entendimento, a vontade. Examinai, também, com exatidão todos os vossos sentidos. Examinai, ainda, todos os vossos pensamentos, todas as vossas palavras e todas as vossas ações. Examinai, mesmo, até os vossos sonhos para saber se, acordados, não lhes teríeis dado o vosso consentimento... Enfim, não creiais que nessa matéria tão melindrosa e tão perigosa, exista qualquer coisa de pequeno e de leve."

(...)

Coloca-se um imperativo: não somente confessar os atos contrários à lei, mas procurar fazer do seu desejo, de todo o seu desejo, um discurso.

(...)

O autor anônimo de My secret life disse muitas vezes, para justificar a descrição das suas mais estranhas práticas, que elas eram compartilhadas por milhares de homens na superfície da terra. Porém, a mais estranha dessas práticas, que consistia em contá-las todas em detalhe, e diaramente, era princípio depositado no coração do homem moderno...

(...)

Talvez um dia cause surpresa. Não se compreenderá que uma civilização tão voltada, por outro lado, para o desenvolvimento de imensos aparelhos de produção e de destruição tenha achado tempo e infinita paciência para se interrogar com tanta ansiedade sobre o que é do sexo, talvez haja quem sorria lembrando que esses homens, que teremos sido, acreditavam que houvesse desse lado uma verdade pelo menos tão preciosa quanto a que tinha procurado na terra, nas estrelas e nas formas puras de pensamento.

História da Sexualidade- A Vontade de Saber.
Michael Foucault.

quinta-feira, março 01, 2007

Waking Life


Creation seems to come out of imperfection. It seems to come out of a striving and a frustration. And this is where I think language came from.

I mean, it came from our desire to transcend our isolation and have some sort of connection with one another. And it had to be easy when it was just simple survival. Like, you know, "water." We came up with a sound for that. Or "Saber-toothed tiger right behind you." We came up with a sound for that.

But when it gets really interesting, I think, is when we use that same system of symbols to communicate all the abstract and intangible things that we’re experiencing.

What is, like, frustration? Or what is anger or love? When I say "love," the sound comes out of my mouth and it hits the other person’s ear, travels through this Byzantine conduit in their brain, you know, through their memories of love or lack of love, and they register what I’m saying and they say yes, they understand.

But how do I know they understand? Because words are inert. They’re just symbols. They’re dead, you know? And so much of our experience is intangible. So much of what we perceive cannot be expressed. It’s unspeakable. And yet, you know, when we communicate with one another, and we feel that we’ve connected, and we think that we’re understood, I think we have a feeling of almost spiritual communion. And that feeling might be transient, but I think it’s what we live for.