domingo, outubro 28, 2007

Anseios... - Freud e Reich.

Fui acusado de ser um utopista, de querer eliminar do mundo a insatisfação e salvaguardar apenas o prazer.
Entretanto, pus o preto no branco ao afirmar que a educação torna as pessoas incapazes para o prazer- encouraçando-as contra o desprazer.
A saúde psíquica se caracteriza não pela teoria do Nirvana, pelo hedonismo dos epicuristas, pela renúncia do monasticismo; caracteriza-se pela alternância entre experiências desagradáveis e a felicidade, entre o erro e a verdade, entre a derivação e a volta ao rumo, entre o ódio racional e o amor racional;
em suma, pelo fato de se estar plenamente vivo em todas as situações da vida.

Entretando, a nossa educação e filosofia social européia tornam-nos ou frágeis bonecos, ou em eficientes máquinas- secos, insensíveis, portadores de crônica melancolia e incapazes para o prazer.

O mais crucial problema era a destruição dos impulsos espontâneos da vida no interesse de um refinamento discutível.

Na superfície, usa a mascara artifical do autocontrole, da insincera polidez compulsiva e da pseudo-socialidade.

Todas as discussões de saber se o homem é bom ou mau, se é um ser social ou anti-social, são passatempos filosóficos.

O comportamento humano reflete apenas as contradições entre a afirmação da vida e a negação da vida no próprio processo social. A questão seguinte era: poderia algum dia solucionar-se a antítese entre o anseio de prazer e a frustração social do prazer?

Reich- A Função do Orgasmo

============

A experiência nos ensina que existe para a imensa maioria das pessoas um limite além do qual suas constituições não podem atender as exigêmcias da civilização. (...) Esses indivíduos teriam sido mais saudáveis, se lhes fosse possível ser menos bons.

"Todos queremos ser melhores do que, em nossas origens, somos capazes de ser."

Em geral não me ficou a impressão de que a abstnência sexual contribua para produzir homens de ação energéticos e autoconfiantes, nem pensadores originais e reformistas audazes.
Com frequencia bem maior produz homens fracos mas bem comportados, que mais tarde se perdem na multidão que tende a seguir, de má vontade, os caminhos apontados por indivíduos fortes.

O comportamento sexual de um ser humano frequentemente constitui o protótipo de suas demais reações ante a vida (...) Mas se, por outros motivos, ele renuncia à satisfação, seu comportamento, em outros setores da vida será, em vez de energético, conciliatório e resignado.

Freud - Moral Sexual 'Civilizada' e Doença Nervosa Moderna

Erraria tudo exatamente igual...

Aqui estou eu aberta até onde se pode rasgar, exposta até onde se pode vender e insinuando até onde se pode explicitar.

Para não sofrer eu vou me drogar de outros, eu vou me entupir de elogios, eu vou cheirar outras intenções.

Suor frio da corrida, sempre com sorriso duro no rosto e o medo de não ser nada daquilo que você me fez sentir que eu era.

A verdade é que ninguém se entrega porque ninguém se tem.
A verdade é que não estamos aqui, estamos em algum lugar seguro vivendo nossas vidas medíocres.

Meus heróis morreram de overdose: overdose de trabalho, overdose de família, overdose de vida adulta, overdose de ir empurrando com a barriga.

Nada que eu não tenha sentido antes, ou escrito, mas mais uma vez, o que pontua minha vida em momentos e me joga para a frente pra cair de cara.

Seja para chorar o inferno próximo, seja para me sufocar de você querendo todos os meus ângulos.

A gente faz planos mesmo em cima dos silêncios deles.
A gente vê beleza em cada sumiço.
A gente vê olhares de amor no mais puro olhar de tesão.
A gente acaba de trepar e é batata: deita no peito deles!
É uma praga.

Conscientemente eu sei que nem todos os caras querem namorar comigo, e mais conscientemente ainda eu sei que eu também não quero namorar com a maioria deles. Mas lá dentro fica a dúvida: será que fui usada?

Eu posso reclinar o banco do meu carro e mandar ver. Eu posso ser uma noite e nada demais. Eu posso ser um banheiro e nada mais. Eu posso ser nada mais.

Mas eu nunca, em nenhum momento, deixo de romantizar a vida, cada segundo, por mais podre que seja, dela.

Poesia sem rima porque não somos bregas e a vida sem sentidos e sem encaixe é a loucura que une nossas doenças. Estrofes com métrica, porque sabemos exatamente o que queremos, apenas não rimamos para que não exista cumplicidade.

Por hora lhe agradeço. Voltaram a gritar os teclados espancados de sentidos para traduzir uma alma que já não cabe mais em seu estado natural. Agradeço-lhe o sorriso estúpido que por mais banal que seja. Nos faz sentir negritados em meio a tantos seres e suas aspirações. Agradeço-lhe a vontade de errar, sem ela minha vida não parece certa.

www.tatibernardi.com.br

quarta-feira, outubro 24, 2007

nem ser tema de livro...

Sempre que uma situação começa a ficar boa ou simplesmente começa, solto minhas frasezinhas bombas. Não sei se com isso quero realmente foder a minha vida ou me proteger de me foder.

Acho que segundos antes de explodir tudo, penso assim: se eu falar a frase mais errada do mundo, só os realmente fortes sobreviverão. O que eu não percebo é que no começo de alguma coisa, ninguém ainda é realmente forte para agüentar minhas frasezinhas bombas.

E todo mundo, sem exceção, acaba correndo assustado. E no dia seguinte eu acordo com aquele misto de vitória com tristeza. Sozinha novamente. Como se isso fosse um prêmio mas também uma doença.

Odeio essa hipocrisia masculina. Se eles falam mil vezes que querem te ver é tesão e você não pode se assustar, mas se você falar uma única vez que quer vê-los, é porque você é uma mala que está “misturando sentimentos”. E eles podem se assustar.

Que tal viver uma história que passe da primeira página? Tenho cada dia mais nojo de como as pessoas se consomem e não se conhecem, não vivem nada. Não sabem nada da vida da outra a não ser o tamanho dos peitos e o desenho dos pêlos.

Isso tudo me dá um bode profundo. Mas no fundo tenho mais bode é de mim. Por ter dito frases desse tipo para pessoas sem nenhuma magia, sem nenhuma poesia. E que ao invés de enxergar beleza enxergaram “carne ganha”.

E no fundo eu nem sentia nada por essas pessoas, estava apenas testando a hipocrisia do mundo.

Mas cansei. Definitivamente cansei.
E quem sobreviver a esse verdadeiro extermínio de pretendentes, vai descobrir que eu sou só mais um ser que morre de medo do amor e da convivência.
Vai descobrir que falo as frases erradas justamente pra espantar as pessoas e não ter mais trabalho.

www.tatibernardi.com.br

domingo, outubro 21, 2007

O que Despertam...

Don’t kid yourself, we can all be evil

Three devastating psychological experiments in the 20th century seemed to suggest answers to these questions.

The first — the Asch conformity experiment — showed that people could be led into denying the evidence of their own eyes by their desire to conform, blindly to accept the authority of the group.

The second — the Milgram experiment — showed that people were prepared to subject others to potentially lethal electric shocks because they were encouraged to do so by authority figures.

And the third — the Stanford prison experiment (SPE) — showed that perfectly ordinary well-balanced people could be turned into savage tyrants or cowering victims simply by the situations in which they found themselves.

Now Philip Zimbardo, the mastermind behind the SPE, has written his own account of the experiment and its meaning, and of his role in the investigations of the horrific — and, crucially, photographed — abuses at Iraq’s Abu Ghraib prison.
The author believes passionately that anybody can “turn evil”.

He does not believe in evil as a disposition — a character trait — but as the product of a situation. Evil thus resides not in people but in the system that creates these situations.

The experiment, conducted in 1971, could not have been more simple nor, on the face of it, more harmless. Student volunteers were divided into prisoners and guards. The prisoners were taken to a mock-up jail in Stanford University where the guards imposed a regime designed to suppress individuality and humiliate.

With horrific speed the guards turned into ever more creative abusers and, occasional rebellions apart, the prisoners into pathetic cowering deindividualised wrecks. The fact that they all knew the situation was entirely artificial did nothing to stop the slide into barbarity.

At the heart of the bad-apple argument is a theory of evil. This is that it resides within individuals. Evil, for Zimbardo, is in the system, not the individual. The extraordinary and unique plasticity of the human brain enables us to create systems and roles that engender evil. That very plasticity, however, can offer hope.
Is this strictly situational explanation of evil the right conclusion to draw from these three sensational experiments?

Confronted with Auschwitz, the normal human response is: how could anybody do that? Implicit in that response is the statement: I couldn’t.

But the experiments show we could. Nothing in the volunteers’ background indicated the possibility of evil behaviour. These people were you and me.

Systems engender evil, says Zimbardo. But systems are made by humans. Society is a human construct. Blaming systems or society may reduce the burden of guilt on the individual, but it does nothing to exculpate humanity. We systematically do evil. Zimbardo blames this on the plasticity of the human brain. But who is doing the moulding?

Systemically or individually, we and we alone are responsible for these rivers of blood and oceans of tears.

From The Sunday Times
www.bryanappleyard.com

sexta-feira, outubro 19, 2007

Triunfo

Quem conhecer a vida psíquica humana sabe que nada será tão difícil quanto a renúncia a um prazer já experimentado. Não renunciamos de fato, a nada: limitamo-nos a trocar um prazer por outro; ao que parece consistir numa renúncia, é, na verdade, uma substituição, ou antes, uma formação substitutiva.

Escritores Criativos e Devaneios.

A arte é uma realidade convencionalmente aceita, na qual, graças à ilusão artística, os símbolos e substitutos são capazes de provocar emoções reais.
Assim, a arte constitui um meio caminho entre uma realidade que frustra os desejos e o mundo de desejos realizados na imaginação- uma região em que, por assim dizer, os esforços de onipotência do homem primitivo se encontram em pleno vigor.

O interesse científico da psicanálise.

O artista não vence as suas inibições psíquicas senão através do ato de criação, e quem quiser conhecer o escritor deve procurá-lo nas suas obras.

Escritores Criativos e Devaneios.

As palavras são um material plástico, que se presta a todo o tipo de coisas. Há palavras que, jusadas em certas conexões, perdem todo o seu sentido original, mas que o recuperam em outras conexões.
Devido a natureza maleável do material verbal, essa dupla intenção que está por detrás da fala pode ser expressa com êxito pelas mesmas palavras, temos o que denominamos “ambiguidade”.
Essa capacidade de dar expressão ao delírio e à verdade numa mesma frase é um triunfo do engenho e do espírito.

Os chistes e sua relação com o Inconsciente

quarta-feira, outubro 17, 2007

Acontece...

O menino ambicioso
não de poder ou de glória
mas de soltar a coisa
oculta no seu peito
escreve no caderno
e vagamente conta
à maneira de sonho
sem sentido nem forma
aquilo que não sabe.

Lá embaixo, talvez, amor está,
em lagoa decerto, em grota funda.
Ou? mais encoberto ainda, onde se refugiam
coisas que não são, e tremem de vir a ser.

Entre areia, sol e grama
o que se esquiva se dá,
enquanto a falta que ama
procura alguém que não há.

Seu carnaval abstrato, flor de vento
era provocação e nostalgia.

Cede lugar ao que, na voz errante,
procura introduzir em nossa vida
certa canção cantada por si mesma.

Drummond

terça-feira, outubro 16, 2007

Reações

Robin Durban chama a atenção para um aspecto fundamental nos chimpanzé que parece constituir uma das bases do comportamento social: é o intenso interesse e curiosidade que demonstram em relação uns aos outros, estando permanentemente atentos a quem está fazendo o quê, onde e com quem.

Nisso, diz ele, são extremamente semelhantes a nós. Nas pesquisas que realizou com seus alunos sobre o que acontece nas reuniões sociais em bares, restaurantes, festas e inclusive em reuniões departamentais na universidade, chegou à conclusão de que mais de dois terços das conversas é dedicada à discussão de sentimentos pessoais e ao ''quem está fazendo o quê com quem''.

Soma-se a isso o fato de que a grande maioria das produções culturais escritas e os programas de rádio e televisão (e certamente os de maior público) está voltada para a vida dos outros, sejam os personagens reais ou fictícios.

Uma experiência comum para comprovar a esperteza dos chimpanzés consiste no pesquisador esconder uma fruta de tal modo que apenas um dos membros de um grupo confinado em outro lugar possa observá-lo.

Quando todos os chimpanzés são soltos no terreiro onde está a fruta, aquele que detém a informação disfarça e não demonstra nenhum interesse pelo local onde o cobiçado prêmio está escondido.

Mas, assim que os demais se afastam, corre para desenterrá-la e comê-la sem ter que disputá-la com os outros.

Claramente ocorreu um complexo processo que envolveu a previsão do comportamento dos demais e uma avaliação das reações possíveis ao comportamento do sujeito e um ajustamento deste comportamento de acordo com as previsões.

Chimpanzés também amam: a linguagem das emoções na ordem dos primatas
Eunice Ribeiro Durham

quinta-feira, outubro 11, 2007

Macio...

Machos são, de fato,
tolerantes e mesmo carinhosos com os filhotes,
que não lhes demonstram nenhum respeito: puxam-lhes os pêlos, sobem por suas costas e as usam como escorregador.

Poderíamos mesmo imaginar algo semelhante a uma paternidade difusa.
A disciplina da hierarquia começa a ser aplicada depois que os filhotes atingem 4 ou 5 anos, quando cessa a tolerância.

A fêmea se apoiou pesadamente contra as costas do macho. Seu braço peludo quase ocultava completamente seu bebê, que parecia uma aranha e cujos finos braços e pernas se agitavam ao acaso.
O macho se inclinou e, com a mão, acariciou o bebê.
Durante duas horas, embevecidos, contemplamos aquela cena de família.

Entre os chimpanzés, a dependência dos filhotes é não só intensificada pela necessidade de serem carregados, mas é ampliada pelo fato do seu desenvolvimento ser muito lento.
Filhotes de chimpanzés adquirem alguma autonomia de movimentação apenas com um ano e, assim mesmo, só se locomovem sozinhos quando a mãe está perto e vigilante.

Na permanente movimentação diária dos grupos em busca de alimento e, especialmente, numa reação de fuga ante uma ameaça externa, os filhotes continuam a ser carregados pelo menos até 4 anos e, excepcionalmente, até os 5.
Como a amamentação também é prolongada, conforme vimos, as relações entre mães e filhos envolvem um grau de proximidade física mais intenso do que a observada no caso dos seres humanos.

A necessidade de se agarrar à mãe e de ser agarrado por ela, ou de estar sendo permanentemente segurado e apoiado, pode ser uma adaptação evolutiva da vida arbórea, na qual perder o apoio significa, freqüentemente, uma queda mortal.
A reação de medo à sensação de queda, aliás, parece ser uma das reações mais primitivas do neonato humano.

Chimpanzés também amam: a linguagem das emoções na ordem dos primatas
Eunice Ribeiro Durham

Inumerável Delícia

Tudo mais, em verdade, são ruídos.

Desconhecidos, movidos de pressa e eletrecidade.
Amor de poucos minutos
e de sortidos amores
bebendo na mesma fonte
Bebe um, bebe o seguinte...

Amor triste?
Por que triste,
se é sempre forma de amor,
por mais barata que seja,
por mais que se mostre alheia
à tentação de durar?

São solidões que se abraçam,
que se enroscam, se deglutem
na festa

Drummond- A Paixão Medida

O Mundo Inventor

Nós, sozinhos
no quarto sem espelho?

Palavra rascunhada no papel
que nunca ninguém leu?

Será tudo talvez hipermercado
de possíveis e impossíveis possibilíssimos
que geram minha fantasia de consciência
enquanto
exercito a mentira de passear
mas passeado sou pelo passeio,
que é o sumo real, a divertir-se
com esta bruma sonho de sentir-me
e fruir peripécias de passagem.

Eis se delineia
Espantosa batalha
Entre o ser inventado
E o mundo inventor.

Teima interrogante de saber
Se existe inimigo, se existimos
Ou somos todos uma hipótese.

E nisto se resume a irresumível
humana condição no eterno jogo
sem sentido maior que o de jogar.

E quando de altos feitos te entedias
E voltas ao comum sofrer pedestre
Do desamado, não te vejo a ti
Perdido de saudades e desdéns.

Drummond- A Paixão Medida

quarta-feira, outubro 10, 2007

É assim...

Peito que te quero fonte,
que te quero costa,
que te quero frente,
que te quero língua,
que te quero ponte,
que te quero teta,
que te quero dente.

Peito que te quero fonte
Costa que te quero frente
Língua que te quero ponte
Teta que te quero dente

Olho que te quero asa
Coxa que te quero colo
Bolha que te quero calo
Gota que te quero gole

Poça que te quero lago
Que te quero

.

Meu corpo junto ao seu mais um pouquinho
Tenho certeza de que daria certo
Eu e Você Você e Eu por Perto.
Para que seja bom como já é
Dos pés até a ponta do nariz
Da beira da orelha ao fim do mundo

.

o olho enxerga o que deseja e o que não
ouvido ouve o que deseja e o que não
o tato mais experiente é a palma da mão
por mais que se reprima nunca seca a secreção
o corpo não é templo, casa nem prisão
uns comem outros fodem uns cometem outros dão
por graça por esporte ou tara por amor ou não
velocidade se controla com respiração
o pau se aprofunda mais conforme a posição
o tato mais experiente é a palma da mão
se não consegue fazer sexo vê televisão

.

O mal estar que exala quem discorda
Porque não sente quase ou não entende
Sem romper a casca, e não acorda.
Distrai a sua mente da derrota.
Distante como diante de uma porta
Destrói na letra preta o branco ausente.
Suporta, não se importa ou então mente,
Não compreende o que o prende à borda.

.

se no meio do que você tá fazendo você pára
parece que tá todo mundo ouvindo e ninguém tá falando nada
e agora não precisa correr agora não precisa mais se apressar
parece que tá todo mundo vendo e não tá acontecendo nada
o que você nunca tinha reparado agora está na cara

e passa a vida inteira
passa a vida inteira
a vida inteira passa
a vida inteira

e agora não precisa correr
agora não precisa mais se apressar

.

qualquer perna braço pedra passo
parte de um pedaço que se mova
qualquer
qualquer fresta furo vão de muro
fenda boca onde não se caiba
qualquer
qualquer lapso abalo curto-circuito
qualquer susto que não se mereça
qualquer
qualquer curva de qualquer destino que desfaça o curso
de qualquer certeza
qualquer
qualquer coisa que não fique ilesa
qualquer coisa
qualquer coisa que não fixe

.

Qualquer coisa que Se Sinta
Tem Tanto Sentimento Deve ter Algum que Sirva

.

Tudo que dá pra sentir
Quase que dá pra pensar
Tudo que dá pra pensar
Quase que dá para ouvir
Tudo que dá para ouvir
Quase que dá para ver
Tudo que dá para ver
Quase que dá pra pegar
Tudo que dá pra pegar
Quase que dá para ter
Tudo que dá para ter
Quase que dá para dar
E quase tudo dá.

.

E a montanha insiste em ficar lá Parada.

................
Arnaldo Antunes

segunda-feira, outubro 08, 2007

Touch

It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something.

Crash

------------------------

Civil inattention is defined as the polite way to manage interaction with strangers by not engaging in any interpersonal communication or needing to respond to a stranger’s touch. ~
Goffman uses an elevator study to explain this phenomenon.
You do not look, talk or touch to the person next to you.
It may be so crowded that you ‘touch’ another person, but you maintain an expressionless demeanor so not to affect those around you.

---

A study of touch-deprived men revealed that when given the hypothetical choice between giving up their recreational drugs and alcohol and giving up sex and orgasm, almost all of them said they would give up sex and orgasm.

It seems that those who harbor these conflicts between a strong desire for touch and the confusing discomfort with it resolve the conflict by avoiding the difficulties and discomforts associated with touch and finding a replacement in the form of behaviors and chemicals, prescription and nonprescription.

---

It is more acceptable for women to touch than men in social or friendship settings, possibly because of the innate nature of the person touching have dominance over who they are touching.
Whitcher and Fisher (1979) conducted a study to see whether therapeutic touch to reduce anxiety differed between the sexes.
A nurse was told to touch patients for one minute while the patients looked at a pamphlet during a routine preoperative procedure. Females reacted positively to the touch, males did not. It was surmised that males equated the touch to being treated as inferior or dependent.

---

Public touch can serve as a ‘tie sign’ that shows others that your partner is “taken”.
When a couple is holding hands, putting their arms around each other, this is a ‘tie sign’ showing others that you are together. The use of ‘tie signs’ are used more often by couples in the dating and courtship stages than between their married counterparts.
Touching between married couples may help maintain good health.
In a study by University of Virginia psychologist Jim Coan, women under stress showed signs of immediate relief by merely holding their husband’s hand. This seemed to be effective when the woman was part of a satisfying marriage.

---

Wikipedia
About Attachment Theory

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

domingo, outubro 07, 2007

qual?

Onde mora o amor

Se você respira e produz calor
Pulsa, arrepia, sua e sente dor
Daqui sai voz ou só um gemido
Ouço sua voz, um ruído

Ah! Sai da narina devagar
O sangue irriga, a carne viva
A boca cria saliva
Nádega, peito, barriga
Só coração em todo lugar
Na nuca, cotovelo, umbigo
Boca, no calcanhar

Onde mora o amor
Onde mora o amor

Arnaldo Antunes

=====================

uma sílaba um soluço
um sim um não um ai
sinais dizendo nós
quando não estamos mais.

Paulo Leminski

====================

O beijo é como água salgada: você toma e sua sede aumenta.

(provérbio chinês).

====================

O corpo existe porque foi feito...

Mas a própria razão tem, em suas origens, traços da percepção e dos instintos dos animais:
a observação da regularidade do comportamento da presa,
a antecipação de seus movimentos e o cálculo do risco
são traços muito antigos, que ainda tem seu papel na racionalidade humana.

Ao negar essa origem corpórea,
a razão torna-se cega ao corpo e tenta dominá-lo negando suas manifestações e sua imanência com relação a ela própria.

O corpo só é reconhecido como coisa que se possui.
A divisão entre corpo e espírito, proposta no âmbito filosófico,
torna-se radical na medida em que o corpo se restringe a uma massa manipulável.


Notas Sobre o Corpo e a Repressão Sexual- Ari.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Quem ama a Solidão não ama a Liberdade

O corpo precisa ser obedecido.

Eu acho e temo que cada impulso para frente tenha de ser precedido por sensações agitadas, confusas e ansiosas.

Por que a intelectualidade abrange a devassidão?

Sozinho com meus pensamentos, investigando, fervendo, desejando ardentemente imaginar um ser humano...
Alcançar...

Como esta aglomeração de corpos acotovela-se, empurra-se, choca-se e corre atrás de ilusões,
como isso assassina e estupra e arruína e não vê o momento presente!

Ela está lá, fantasiando como eu estou, mas não vemos um ao outro- não nos reconhecemos!

O tremor de nossos corpos será a medida da alegria de nossas almas.

Reich- Paixão de Juventude.

Trégua

um por si, cem por cento.

parecem longe mas são pequenos.

eu coberto de pele coberta de pano coberto de ar
e debaixo do meu pé cimento.

o corpo tem alguém como recheio.

o corpo existe porque foi feito. por isso tem um buraco no meio.

pessoas se lambem no escuro.

o desejo é o começo do corpo.

a batalha é o começo da trégua.

as folhas caem, as fotos traem, paredes tem ouvidos.

a casa acaba no teto.

o céu. está desde o início do começo do princípio.
o céu na foto é um pedaço de papel.

o dinheiro é um pedaço de papel.
dinheiro tem valor quando se gasta.

se perde se não se ganha se pede se não se ganha se perde se não se acha
procura se não se acha se perde se não segura se prende se não segura
se perde se não se ganha se pede.

o tempo todo o tempo passa.

as coisas têm peso, massa, volume, tamanho,
tempo, forma, cor, posição, textura, duração, densidade,
cheiro, valor, consistência, profundidade, contorno,
temperatura, função, aparência, preço, destino, idade, sentido.
as coisas não têm paz.

parecem letras nos livros.

Arnaldo Antunes- as coisas