domingo, abril 29, 2007

Por mais intransmissíveis que sejam as pessoas...

Eu queria ver no escuro do mundo
Onde está tudo que você quer
Pra me transformar no que te agrada
No que me faça ver
Quais são as cores
E as coisas pra te prender
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim
Será que você ainda pensa
Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Que não me deixa em paz
Quais são as cores
E as coisas pra te prender
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei

Hebert Vianna

sábado, abril 28, 2007

Contrasts

We will therefore turn to the less ambitious question of what men themselves show by their behavior to be the purpose and intention of their lives.
What do they demand of life and wish to achieve in it?
The answer to this can hardly be in doubt.
They strive for happiness; they want to become happy and to remain so.
This endeavor has two sides, a positive and a negative aim.
It aims, on the one hand, at an absence of pain and unpleasure, and, on the other, at the experiencing of strong feelings of pleasure.
In its narrower sense the word 'happiness' only relates to the last.
In conformity with this dichotomy in his aims,
man's activity develops in two directions, according as it seeks to realize —
in the main, or even exclusively — the one or the other of these aims.

What we call happiness in the strictest sense comes from the (preferable sudden) satisfaction of needs which have been dammed up to a high degree,
and it is from its nature only possible as an episodic phenomenon.
When any situation that is desired by the pleasure principle is prolonged, it only produces a feeling of mild contentment.
We are so made that we can derive intense enjoyment only from a contrast and very little from a state of things.
Thus our possibilities of happiness are already restricted by our constitution.
Unhappiness is much less difficult to experience.
We are threatened with suffering from three directions: from our own body, which is doomed to decay and dissolution and which cannot even do without pain and anxiety as warning signals; from the external world, which may rage against us with overwhelming and merciless forces of destruction; and finally from our relations to other men.
The suffering which comes from this last source is perhaps more painful to us than any other.
We tend to regard it as a kind of gratuitous addition, although it cannot be any less fatefully inevitable than the suffering which comes from elsewhere.

We owe to such media not merely the immediate yield of pleasure, but also a greatly desired degree of independence from the external world.
For one knows that, with the help of this 'drowner of cares' one can at any time withdraw from the pressure of reality and find refuge in a world of one's own with better conditions of sensibility.
As is well known, it is precisely this property of intoxicants which also determines their danger and their injuriousness.
They are responsible, in a certain circumstances, for the useless waste of a large quota of energy which might have been employed for the improvement of the human lot.

Sigmund Freud

quarta-feira, abril 25, 2007

Nessa bolha...

Coragem e covardia são um jogo que se joga a cada instante. Assusta a visão, talvez irremediável e que talvez seja a de liberdade.

A loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente.

Mas sou uma tímida ousada e é assim que tenho vivido, o que, se me traz dissabores, tem-me trazido também alguma recompensa. Quem sofre de timidez ousada entenderá o que quero dizer.

Clarice Lispector- A Descoberta do Mundo

Só este amor assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito

Paulinho da viola- Para ver as meninas

domingo, abril 22, 2007

Meu Fim de Semana

Fato Consumado
Djavan

Eu quero ver você mandar na razão

Pra mim não é qualquer notícia que abala um coração
Eu quero ver você mandar na razão
Pra mim não é qualquer notícia que abala um coração

Se toda hora é hora de dar decisão, eu falo agora
No fundo eu julgo o mundo um fato consumado e eu vou embora
Não quero mais, de mais a mais, me aprofundar nessa história
Arreio os meus anseios, perco o veio e vivo de memória

Eu quero é viver em paz
Por favor me beije a boca
Que louca, que louca!

Eu quero é viver em paz
Por favor me beije a boca
Que louca, que louca!

quinta-feira, abril 19, 2007

Resumo dos últimos dias

Acho tudo um grande porre.
Um grandessíssimo porre.
De vez em quando, no meio do porre, a gente arruma alguém pra fazer uma coceguinha no nosso coração.
Mas aí, depois da coceguinha, a vida volta ainda mais tosca.
E tudo volta um porre ainda maior.


Eu estou tão cansada de assustar as pessoas.
E de ser o máximo por tão pouco tempo.
E de entregar tanta alma de bandeja pra tanta gente que não quer ou não sabe querer.
Ele tem um cheiro bom daqueles que só melhoram conforme o perfume vai saindo.


Ele quer sacanagem comigo, mas daquele tipo de sacanagem pura com direito a perguntar baixinho "tá doendo"?
Seu charme está em ter transformado a sua dor em ironia.
Adoro pessoas sofridas. Adoro o ódio medroso e óbvio das pessoas sofridas.
Talvez amanhã a gente possa se odiar juntos, num ato de sinceridade livre e animal perante tantos amores pálidos pela cidade corretinha.
A cidade corretinha que faz bodas disso e bodas daquilo, mas se entope de Prozac, mas se entope da porra do canal de sexo com aquelas mulheres de sobrancelha desenhada. Mas se entope da porra da opinião dos outros sobre o que é ter chegado lá. Ninguém chega a porra de lugar nenhum.
Durmo com mais de trinta homens, e mais uma vez sozinha.
Mas esse texto, juro, é uma comemoração a isso.
No fundo, no fundo, eu gosto.
Ainda que eu me sacaneie com pureza e me pergunte baixinho: tá doendo?

E eu gosto de você, mesmo sabendo que você gosta de mim por pouco tempo.
E eu sou um pouco mais estranha do que ser estranha permite.

Sou estranha além do charme de ser estranha.

Foi aí que meu amigo resolveu que nossa amizade jamais seria afetada por um beijo.
Que mal há em um beijo? Um simples beijo? Um beijinho de nada? Inofensivo.
Algo mais ou menos como um desentupidor de pia com mais de cinco horas de duração.
Que mal há em um beijo assim?
Dado na escada, no cantinho atrás do bar, no banheiro, no chão, embaixo das mesas, deitados no sofá?
Que mal há nele enfiar a mão dentro do meu vestido para sentir a renda do meu novo sutiã?
Ou de querer conferir a elasticidade da minha calcinha?
Nenhum.
Oras, ele não é meu amigo? Amigo é pra essas coisas. Oras.

Ainda é cedo e eu preciso de amor.
Só um pouquinho de amor.
Não posso dormir sem paz no coração.
Ele não mora muito longe da cama que não era cama e a cada passo esfolo mais e mais meu esmalte vermelho.
Quero que ele veja o quanto mudei por causa dele, na esperança de que seu riso congelado saia do automático e eu ganhe um único sorriso verdadeiro.
E o mais fantástico de tudo é que já que estou tão à vontade,

já que meu cérebro louco não está vivendo nem no passado e nem no futuro e apenas no presente do seu corpo quentinho e cheiroso
e já que nada em mim dói porque nada em mim sonha...

Eu mais uma vez me pergunto como é mesmo que se faz a coisa mais profunda do mundo com total superficialidade.
Como é que se ama sem amor?
Como é que se entrega de dentro de uma prisão? Nunca soube.
Tenho vontade de perguntar baixinho: você não gosta nem um pouquinho de mim? Nem sequer um tiquinho?
Olha só: eu tenho os dedinhos do pé bem estranhos. Eles não são absurdamente merecedores de amor?
Mas ele não quer perder tempo com dedinhos de pé, pintinhas brancas ou antebraços molinhos.

A vida é só um pouquinho boa, as pessoas são só um pouquinho bonitas e as músicas duram apenas algumas notas.

Sou inteira um pseudo algo, desejo pseudo coisas e quase sei para onde ir agora.
O meio homem não fica muito longe da casa que é quase velha.
Quer saber de uma coisa?
Acho que ainda é cedo.
Mas não posso terminar mais um dia sem amor, não posso.
Sugo ali, num cantinho qualquer acompanhada de qualquer pessoa,
o que pode restar de bom na alma de alguém.

Tati Bernardi

segunda-feira, abril 16, 2007

Fear or Laziness

There are two kinds of sufferers in this world: those who suffer from a lack of life and those who suffer from an overabundance of life.
(...)
The realm of the real spirit, the true artist, the saint, the philosopher, is rarely achieved.
Why so few?

Why is world history and evolution not stories of progress but rather this endless and futile addition of zeroes.
No greater values have developed.
So what are these barriers that keep people from reaching anywhere near their real potential?
The answer to that can be found in another question, and that’s this:
Which is the most universal human characteristic - fear or laziness?

Waking Life

sexta-feira, abril 13, 2007

Burn All the Books

There's nothing there.
The books have nothingto say!
Look, these are all novels.
All about people that never existed.
The people that read them, it makes them unhappy with their own lives,
Makes them want to live in other ways that can never really be.
All this philosophy, let's get rid of it.
It's even worse than the novels.
Thinkers, philosophers, all ofthem saying exactly the same thing:
"Only I am right.The others are all idiots."
One century, they tell you man's destiny is predetermined.
The next, they say tha the has freedom of choice.
It's just a matter of fashion,that's all.
Philosophy.
Just like short dresses this year, long dresses next year.
Look. All stories of the dead.
Biography that's called.
And autobiography.
My life. My diary.My memoirs.
My intimate memoirs.
Of course, when they started out,it was just the urge to write.
Then after the second or third book, all they wanted was to satisfy their own vanity,
To stand out from the crowd, to be different,
To be able to look down on all the others.

Now, here's a bookabout lung cancer.
All the cigarette smokers got into a panic,
so for everybody's peace of mind, we burn it.
Ah, now this one must be very profound. The Ethics of Aristotle.
Now anybody that read that must believe he's a cut above anybody that hadn't.
You see, it's no good, Montag.
We've all got to be alike.
The only way to be happy is for everyone to be made equal.
So, we must burn the books,Montag.

Farenheit 451

quinta-feira, abril 12, 2007

Não fazer nada

Vivo agonizando.

Se eu falo é porque não tenho força de silenciar mais sobre o que sabemos e que devemos manter em sigilo. Mas quando essa coisa silenciosa e mágica se avoluma demais a gente desrespeita a lei e grita.

Não fazer nada pode ser ainda a solução.

Tenho porém um medo: é que se eu procurar não acharei.

Fui feita para ninguém precisar de mim.

Eu que não tenho sinônimo.
Essencialmente uma contraditória.
O sereno grafismo abstrato.
A banalidade como tema.

Clarice Lispector- Um Sopro de vida.

terça-feira, abril 10, 2007

What would you say if you couldn't find the right words?


"By a man´s finger nails, by his coat sleeve, by his boots, by his trousers-knees, by the callasities of his forefingers and thumbs, by his shirt cuffs- by each of these things a man's calling is plainly revealed. That all united should fail to enlighten the competent inquier in any case is almost unconceivable."
- Sherlock Holmes.

"We respond to gestures in accordance with an elaborate and secret code that is writteh nowhere, known by none and understood by all."
- Edward Sapir.

Nonverbal Communication

segunda-feira, abril 09, 2007

Nesse lugar estranho e calmo


Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida


Adriana Calcanhoto

O Espelho e a Máscara- A técnica

O Homem e a Máquina

Em outro plano, argumenta-se que “a técnica” seja um poder supremo, algo incontrolável, que não podemos frear. Ela escravizaria os homens depois de libera-los e haveria, por trás de todo saber, uma violência escondida. Os homens, ao contrário, se tornariam progressivamente submissos.

O argumento metafísico é mais amplo.

Diz que a técnica, numa era de decadência dos valores religiosos e da crença em poderes sagrados, se instituiria como a nova divindade, o bezerro de ouro, cujo caráter religioso não estaria sendo percebido pelo homem. O homem, em vez de manter uma separação cautelosa e crítica em relação à máquina, estaria se conformando às limitações, à racionalidade e ao vazio da máquina.

Fazer cálculos astronômicos em alguns segundos, ter na memória duzentas mil combinações de jogadas de xadrez, poder executar várias operações ao mesmo tempo são sinônimos de agilidade no trato com informações. O homem jamais poderá rivalizar com elas nesse campo, como também não pode rivalizar com um automóvel no termo de velocidade, com um avião na capacidade de voar, com um microscópio na capacidade de ampliar. Mas a inteligência seria só isso? Reduzir-se-ia às questões puramente operacionais?

O homem não é seqüencial, não precisa explicar cada passo que dá. Se bem que não respondemos a todas as questões que a máquina responde, nossa habilidade, acima de tudo, está no – colocar questões. Há uma certa potência, uma certa força, na incompletude, na fraqueza, na imperfeição de nossa mente, naquilo que escapa à razão, e que a torna, por isso mesmo, indomesticável.


O Espelho e a Máscara- Ciro Marcondes Filho

O Espelho e a Máscara- Informação

A Informação

Afinal, aprendemos algo com o que ouvimos, vemos e lemos ou isso tudo é apenas um ritual repetitivo e sem conseqüências?

Há quem diga que não há mais nenhuma informação no meio jornalístico. As notícias, na verdade, são feitas para entreter.

A formação sígnica é um processo de não envolvimento emocional do espectador e tem aplicação principalmente nas cenas de violência, brutalidade e forte dor.


Opera-se um tratamento técnico na edição do programa, de forma que se crie uma contradição interna no conteúdo chocante da emissão, a cena é forte, impressionante, arrebatadora, mas a forma técnica de narrar a esvazia: o telespectador nada sente. Uma cena num campo de concentração provoca no espectador o mesmo efeito emocional que um piquenique.

O exagero de detalhes transmite a “vontade obsessiva de não deixar nenhum espaço que não lembre algo”. O vazio é preenchido pelos sentidos, pelas interpretações. Parece que a própria consciência do vazio se tornou sufocante e aterrorizante.

O novo comportamento historicamente rígido, também daí derivado, seria a expressão da deturpação e da redução de nossa experiência sensitiva nos campos da estética, da ciência e da sensibilidade humanas e a brutal separação entre sentimento e entendimento.

Arte, religião e ética são rebaixadas a opinião pessoal ou questão subjetiva sem relevância enquanto as categorias científicas tendem cada vez mais à mensurabilidade, à exatidão dos dados empíricos, à comprovação formalizada, cujo modelo é a lógica da matemática.


As Notícias

O jornalismo ocupou esse espaço de ficcionalização do real, especializou-se no trabalho de colecionar aleatoriamente fragmentos do real e remonta-lo, construindo outros mundos, que passaram a competir com a realidade de cada um. Mais que a literatura, esses mundos forjam o autêntico, criam o verdade, se oferecem como o único mundo.

O que importa mais à notícia ser muito real, mais real que o real, muito bem montada do ponto de vista técnico: a beleza plástica, a qualidade do som, da imagem, submetendo a reportagem ao critério estético, com economia verbal.


O Espelho e a Máscara- Ciro Marcondes Filho

O Espelho e a Máscara- Internet

Ciberespaço

Ciberespaço é um espaço novo, inexistente materialmente, para onde ninguém pode ir caminhando, de carro ou de avião, o único meio de acesso é a tela do computador.

É um espaço paradoxal, pois nele se entra, permanecendo-se no mesmo espaço físico anterior.
É um espaço em que a comunicação parece ser expressiva, envolvente, mas na verdade é puramente representativa, mera construção.

Comutar com o mundo virtual significa tranferirmo-nos para outro espaço, um espaço não concreto.

No passado, isso era feito mediante as formas da fantasia, nos passeios do imaginário. Mas eram sempre caminhadas individuais, solitárias, não compartilhadas.
O inovador neste novo território é que ele não é imaginário, é real, mas não é concreto. É múltiplo, social, não é produto da minha fantasia isoladamente. Ele existe.

Internet e A Esfera Pública

Com a internet, a fantasia de uma esfera pública ressurge, pois o sistema, construído em rede e com ligações em tempo real com qualquer parte do mundo, viabiliza aquilo que o movimento anterior não havia conseguido.
Mas ela é difusa, com ampla variedade de oferta. Ela é pulverizada em milhares de microgrupos, que não conseguem nem pretendem fundir-se.
Pelo seu tipo de expansão exponencial e incontrolável, trata-se de um ser amorfo, indistinto, espécie de magma ou medusa megacomunicativa, que não viabiliza qualquer tipo de comunicação. Mais uma vez, morre-se pelo excesso, ou sob o peso da liberdade.

É antes, um agregado de microdiscussões, em geral subjetivas e particularistas em que cada milhonésima parte tem direito do seu uso nanoterritório.
Por isso, apesar das aparências, é um colossal sistema de poucas trocas, de comunicações geralmente duais e solitárias.
Gigantesco aparelho de contatos imediatos, que de nada serve à comunicação ampla e social, mas que espelha o crescimento irregular e metastático das comunicações aleatórias e das trocas inconseqüentes.

O que resta então, são as demonstrações insólitas de pessoas que põem seus ambientes íntimos e particulares à visitação pública, seja pelo dinheiro, seja pelo exibicionismo, seja pela amargura do anonimato e da indiferença na sociedade eletrônica.


A Imagem

A imagem é paradoxal: inibe a reflexão conceitual porque não opera por hierarquias de complexidade, mas por impactos instantâneos: não demonstra, simplesmente faz constatar.

Daí suas cartada serem perigosa, atuarem num plano pouco racional da percepção imediata e terem efeitos instantâneos.

Da nova combinação de texto e imagem, com precedência desta última, entra-se numa era cujo princípio orientador, cujo centro na imediatez do observado, do vivenciado, evoca-nos o paradoxo da imagem holográfica: a tridimensionalidade sem fundo, sem densidade, sem volume. Tudo termina na superfície.


O Espelho e a Máscara- Ciro Marcondes Filho

O Espelho e a Máscara- Comunicação

A (Im)possibilidade da Comunicação

O biofísico Heinz vo Foerster é de opinião que a comunicação é impossível, já que duas pessoas são duas atividades nervosas distintas, intransponíveis, logo, um processo irrealizável.

Watzlawick acredita que sem o paradoxo- esse jogo de oposições entre mensagens analógicas e digitais- não é possível haver comunicação: a fala resumiria um jogo enfadonho de regras rígidas e comunicados estilizados, sem alternações nem humor. É pelo paradoxo que se pode constatar que o que realmente define não é o que as pessoas dizem, mas o que elas fazem. Que a realidade, de fato, é algo moldado pelas pessoas e que
não existe apenas uma, mais muitas realidade.

Falar não é necessariamente comunicar, expressa-se linguisticamente remete a outras coisas que não estão no enunciado, ou seja, o campo da linguagem verbal é apenas um setor, uma dimensão (enganosa) da comunicação.

A empatia, a transmissão de sensações, mesmo sem ou além da linguagem é um fenômeno mais complexo do que parece, o que torna a comunicação um conceito muito usado, mas pouco conhecido. Ele se realiza em flashes, em momentos, cenas breves e passageiras, em situações chaves nas quais as condições de co-possibilidade tenham encontrado um síntese favorável.

A comunicação tem na sua forma estruturante
a presença expressiva do estranho e do inexplicável.

Linguagem e mundo são em verdade interdependentes, e não dá pra trabalhar com os dois em separado. O mais importante da língua está, em verdade, fora dela.

O Espelho e a Máscara- Ciro Marcondes Filho

quinta-feira, abril 05, 2007

Conclusão...

A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia.

Michael Foucault.

Por que é que a gente...

Eu levei pra casa
Você me trouxe em casa
Eu reencontrei
A paz, a paz que há na gente
E subitamente se esvai

Que entrou lá em casa
E nos trouxe a calma
E deixou suas mágoas pra trás
O que há com a gente?
Por que é que a gente não fica em paz?

Nando Reis

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A vida não permite ensaios.

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quarta-feira, abril 04, 2007

Vício

Novas pesquisas mostraram que o suor masculino acalmou mulheres voluntárias.

O suor também deslocou o ciclo menstrual e tal descoberta pode dar origem a drogas derivadas de transpiração para manipular a fertilidade feminina.

Por seis horas as mulheres voluntárias foram expostas a feromônios concentrados de axilas viris - cuidadosamente mascarados por fragâncias. Os níveis de hormônio luteinizante, uma chave para o ciclo mestrual, foram monitorados.


As voluntárias também disseram sentir-se
menos tensas e mais relaxadas enquanto cheiravam o suor.

Tudo isso é bastante especulativo, mas a observação do relaxamento das mulheres submetidas ao odor podem também aumentar as chances de reprodução. Uma mulher relaxada é mais facilmente receptiva ao homem, sugere Wysocki.

A idéia de lívre arbítrio dos encontros modernos pode estar comprometido pelas nossas tendências biológicas.

Nas pesquisas para novas drogas, "pessoas tem procurado em florestas e nos mares," diz ele. "Mas algumas substâncias químicas fisiologicamente ativas podem estar bem embaixo do braço.".

www.nature.com/nsu/030527/030527-2.html

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segunda-feira, abril 02, 2007

Auto-Conhecimento

Confesso ainda que sempre achei suspeita essa frase grandiosa e altissonante- conhece-te a ti próprio! Essa imposição parece-me uma espécie de ardil de sacerdotes cúmplices para confundir as pessoas apontando-lhes objetivos inalcançáveis para afastá-las da atividade no mundo exterior, levando-as a um estado de falsa contemplação.
Um homem só se conhece a si próprio na medida em que conhece o mundo, e encontra o mundo em si próprio, tal como só se encontra a si próprio no mundo.
Isto não é uma afirmação antipsicológica, é uma boa psicologia.

Goethe

Para que haja a arte

A arte sempre foi usada, e pensada, como meio de interpretar a natureza do mundo e da vida para os olhos e ouvidos humanos, mas hoje os objetos de arte estão talvez entre as realizações mais singulares que o homem já produziu. Agora são eles que necessitam de uma interpretação.

A pose ambicionada pelos nossos jovens já não é a do amante exultante da beleza, mas a máscara impenetrável do crítico que funga e julga.

Não é verdade que as grandes obras de arte são muito relutantes em revelar seus segredos para a análise?

O mundo deixa de ser transparente, os objetos não são mais do que objetos, as configurações, cores e sons, não são nada mais que configurações, cores e sons, e a arte transforma-se numa mera técnica de entretenimento dos sentidos.

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Vêem na arte uma distração agradável do trabalho, ocupações para os momentos de ócio, só admissível nas poucas horas livres que sobrar depois de atendidos os estudos das especialidade “indispensáveis”.

Somos vítimas de uma tradição segundo a qual os sentidos não proporcionam nada melhor nem pior que a matéria-prima da experiência. Cabe aos chamados processos mentais superiores a elaboração da matéria-prima.
Na seqüência desses pontos de vista- e em parte por causa deles- a educação limitou-se quase exclusivamente à manipulação indireta da experiência através do uso de palavras e números; os sentidos vieram associados ao sexo, separados do amor tão fatalmente como a visão o foi da compreensão.

A sensação tornou-se, no melhor dos casos, um passatempo agradável, no pior, uma distração pecaminosa das procuras mais elevadas da mente e do espírito.
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Pelo menos num aspecto a teoria psicanalítica contribui para a compreensão da arte. Veio recordar ao homem moderno que todos os elementos da obra de arte, pertençam à forma perceptual ou ao conteúdo, são simbólicos, quer dizer, representam algo que está para além deles. (...) Mas a psicanálise,por seu lado, baralhou a questão ao afirmar que os símbolos são um instrumento para camuflar o verdadeiro conteúdo do testemunho artístico. (...) Carl Gustav Jung e outros autores como Erich Fromm opuseram-se ao ponto de vista freudiano e assinalaram que os símbolos servem mais para revelar do que para ocultar os seus referentes.
Longe de ocultar o seu referente, os símbolos artísticos dotam de aspecto tangível as idéias que representam. Revivem e clarificam os problemas da existência humana.

Schopenhauer enaltece o caráter abstrato das palavras porque esta qualidade permite ao leitor suprir através da sua imaginação os pormenores concretos que faltam, em consonância com a sua individualidade, saber, e vontade pessoal. (...)
No entanto, considerações como essa favorecem a atitude de quem vai a um concerto e se serve do som musical como mero ponto de partida para flutuar na corrente da consciência através de paisagens fantásticas.
Justifica o comportamento dos que, quando contemplam uma paisagem holandesa numa figura, recordam as cenas da sua viagem de lua-de-mel na Europa.
Nada está livre de fantasias, mas é preciso apercebermo-nos de que, longe de aumentar a nossa compreensão, distrai a atenção da apreciação das obras de arte.

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Acredita-se que a arte não é um privilégio de uma minoria mas a atividade natural de todo o ser humano, que uma cultura verdadeira depende menos dos poucos gênios do que da vida criativa do cidadão médio, e que a arte é um instrumento indispensável para fazer face às tarefas
que a vida nos impõe.

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Para uma psicologia da Arte- Rudolf Arnheim

domingo, abril 01, 2007

Para que haja a arte

Para que haja a arte, para que haja a ação e uma visualização estética é incontornável uma precondição fisiológica: a embriaguez.
A embriaguez precisa ter elevado primeiramente a excitabilidade de toda a máquina: senão não se chega à arte. (...)
Da mesma forma, a embriaguez que nasce como conseqüência de todo grande empenho do desejo, de toda e qualquer afecção forte; a embriaguez da festa, do combate, dos atos de bravura, da vitória, de todo e qualquer movimento extremo; a embriaguez da crueldade; a embriaguez na destruição; a embriaguez sob certas influências metereológicas, por exemplo a embriaguez primaveril; ou sobre as influências dos narcóticos; por fim, a embriaguez da vontade, a embriaguez de uma vontade acumulada e dilatada.
- O essencial na embriaguez é o sentimento de elevação da força e da plenitude.
A partir deste sentimento nos entregamos às coisas, as obrigamos a nos tomar, as violentamos.

Nietzsche