segunda-feira, abril 09, 2007

O Espelho e a Máscara- Internet

Ciberespaço

Ciberespaço é um espaço novo, inexistente materialmente, para onde ninguém pode ir caminhando, de carro ou de avião, o único meio de acesso é a tela do computador.

É um espaço paradoxal, pois nele se entra, permanecendo-se no mesmo espaço físico anterior.
É um espaço em que a comunicação parece ser expressiva, envolvente, mas na verdade é puramente representativa, mera construção.

Comutar com o mundo virtual significa tranferirmo-nos para outro espaço, um espaço não concreto.

No passado, isso era feito mediante as formas da fantasia, nos passeios do imaginário. Mas eram sempre caminhadas individuais, solitárias, não compartilhadas.
O inovador neste novo território é que ele não é imaginário, é real, mas não é concreto. É múltiplo, social, não é produto da minha fantasia isoladamente. Ele existe.

Internet e A Esfera Pública

Com a internet, a fantasia de uma esfera pública ressurge, pois o sistema, construído em rede e com ligações em tempo real com qualquer parte do mundo, viabiliza aquilo que o movimento anterior não havia conseguido.
Mas ela é difusa, com ampla variedade de oferta. Ela é pulverizada em milhares de microgrupos, que não conseguem nem pretendem fundir-se.
Pelo seu tipo de expansão exponencial e incontrolável, trata-se de um ser amorfo, indistinto, espécie de magma ou medusa megacomunicativa, que não viabiliza qualquer tipo de comunicação. Mais uma vez, morre-se pelo excesso, ou sob o peso da liberdade.

É antes, um agregado de microdiscussões, em geral subjetivas e particularistas em que cada milhonésima parte tem direito do seu uso nanoterritório.
Por isso, apesar das aparências, é um colossal sistema de poucas trocas, de comunicações geralmente duais e solitárias.
Gigantesco aparelho de contatos imediatos, que de nada serve à comunicação ampla e social, mas que espelha o crescimento irregular e metastático das comunicações aleatórias e das trocas inconseqüentes.

O que resta então, são as demonstrações insólitas de pessoas que põem seus ambientes íntimos e particulares à visitação pública, seja pelo dinheiro, seja pelo exibicionismo, seja pela amargura do anonimato e da indiferença na sociedade eletrônica.


A Imagem

A imagem é paradoxal: inibe a reflexão conceitual porque não opera por hierarquias de complexidade, mas por impactos instantâneos: não demonstra, simplesmente faz constatar.

Daí suas cartada serem perigosa, atuarem num plano pouco racional da percepção imediata e terem efeitos instantâneos.

Da nova combinação de texto e imagem, com precedência desta última, entra-se numa era cujo princípio orientador, cujo centro na imediatez do observado, do vivenciado, evoca-nos o paradoxo da imagem holográfica: a tridimensionalidade sem fundo, sem densidade, sem volume. Tudo termina na superfície.


O Espelho e a Máscara- Ciro Marcondes Filho