segunda-feira, abril 09, 2007

O Espelho e a Máscara- A técnica

O Homem e a Máquina

Em outro plano, argumenta-se que “a técnica” seja um poder supremo, algo incontrolável, que não podemos frear. Ela escravizaria os homens depois de libera-los e haveria, por trás de todo saber, uma violência escondida. Os homens, ao contrário, se tornariam progressivamente submissos.

O argumento metafísico é mais amplo.

Diz que a técnica, numa era de decadência dos valores religiosos e da crença em poderes sagrados, se instituiria como a nova divindade, o bezerro de ouro, cujo caráter religioso não estaria sendo percebido pelo homem. O homem, em vez de manter uma separação cautelosa e crítica em relação à máquina, estaria se conformando às limitações, à racionalidade e ao vazio da máquina.

Fazer cálculos astronômicos em alguns segundos, ter na memória duzentas mil combinações de jogadas de xadrez, poder executar várias operações ao mesmo tempo são sinônimos de agilidade no trato com informações. O homem jamais poderá rivalizar com elas nesse campo, como também não pode rivalizar com um automóvel no termo de velocidade, com um avião na capacidade de voar, com um microscópio na capacidade de ampliar. Mas a inteligência seria só isso? Reduzir-se-ia às questões puramente operacionais?

O homem não é seqüencial, não precisa explicar cada passo que dá. Se bem que não respondemos a todas as questões que a máquina responde, nossa habilidade, acima de tudo, está no – colocar questões. Há uma certa potência, uma certa força, na incompletude, na fraqueza, na imperfeição de nossa mente, naquilo que escapa à razão, e que a torna, por isso mesmo, indomesticável.


O Espelho e a Máscara- Ciro Marcondes Filho