domingo, abril 27, 2008

Responde Ininterruptamente

A obrigação da confissão já está tão profundamente incorporada a nós que não a percebemos mais como efeito de um poder que nos coage.
Parece-nos, ao contrário, que a verdade, na região mais secreta de nós próprios, não "demanda" nada mais que revelar-se.

Ora, a confissão é um ritual de discurso onde o sujeito que fala coincide com o sujeito do enunciado;
é, também, um ritual que se desenrola numa relação de poder,
pois não se confessa sem a presença ao menos virtual de um parceiro, que não é simplesmente o interlocutor,
mas instância que avalia a confissão, pune, perdoa, consola, reconcilia.

Dentre seus emblemas, nossa sociedade carrega o do sexo que fala.
Do sexo que pode ser surpreendido e interrogado e, contraído e volúvel ao mesmo tempo,
responde ininterruptamente.

Presas de uma imensa curiosidade pelo sexo, obstinados em questioná-lo, insaciáveis em ouvi-lo e ouvir falar nele, prontos a inventar todos os anéis mágicos que possam facilitar sua discrição.

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De um lado, faz parte das disciplinas do corpo: adestramento, intensificação e distribuição das forças, ajustamento e economia das energias.
Do outro, o sexo pertence à regulação das populações, por todos os efeitos globais que induz.
O sexo é acesso, ao mesmo tempo, à vida do corpo e à vida da espécie.
Servimo-nos dele como matriz das disciplinas e como princípio das regulações.

Deve-se ver a burguesia, a partir do século XVIII, empenhada em se atribuir uma sexualidade e constituir para si, a partir dela, um corpo específico, um corpo "de classe" com uma saúde, uma higiene, uma descendência, uma raça: autossexualização do próprio corpo, encarnação do sexo em seu corpo próprio, endogamia do sexo e do corpo.

É um agenciamento político da vida, que se constitui, não através da submissão de outrem, mas numa afirmação de si.
E longe de acreditar ser de seu dever amputar o corpo de um sexo inútil, desgastante e perigoso, já que não estava voltado exclusivamente para a reprodução, pode-se dizer, ao contrário,
que a classe que se tornava hegemônica se atribuiu um corpo a ser cuidado, protegido, cultivado, preservado de todos os perigos e de todos os contatos, isolado dos outros para que mantivesse seu valor diferencial, e isso outorgando-se entre outros meios, uma tecnologia do sexo.

O capitalismo só pode ser garantido à custa da inserção controlada dos corpos no aparelho de produção e por meio de um ajustamento dos fenômenos de população aos processos econômicos.

Assim, no processo de histerização da mulher, o "sexo" foi definido de três maneiras: como algo que pertence em comum ao homem e à mulher; ou, como o que também pertence ao homem por excelência e portanto, faz falta à mulher; mas, ainda, como o que constitui, por si só, o corpo da mulher, ordenando-o inteiramene para funções de reprodução e perturbando-o continuamente pelos efeitos dessa mesma função: a histeria é interpretada, nessa estratégia, como o jogo do sexo enquanto "um" e "outro", tudo e parte, princípio e falta.

Sexualizando-se a infância, contituiu-se a idéia de um sexo marcado pelo jogo essencial da presença e da ausência, do oculto e do manifesto; a maturbação com os seus efeitos que lhe atribuem revelaria, de maneira privilegiada, este jogo da presença e da ausência, do manifesto e do oculto.

É o dispositivo da sexualidade que, em suas diferentes estratégias, instaura essa idéia "do sexo"; e o faz aparecer, sob as quatro grande formas- da histeria, do onanismo, do feitichismo e do coito interropido- como sendo submetido ao jogo do todo e da parte, da ausência e da presença, do excesso e da deficiência, da função e do instinto, da finalidade e do sentido, do real e do prazer.

Não se deve imaginar uma instância autônoma do sexo que produza, secundariamente, os efeitos múltiplos da sexualidade ao longo de toda a sua superfície de contato com o poder. O sexo é o contrário, o elemento mais especulativo, mais ideal e igualmente mais interior, num dispositivo de sexualidade que o poder organiza em suas captações dos corpos, de sua materialidade, de suas forças, suas energia, suas sensações, seus prazeres.

Com a criação desse elemento imaginário que é "o sexo", o dispositivo de sexualidade suscitou um de seus princípios internos de funcionamento mais essenciais: o desejo do sexo- desejo de tê-lo, de aceder a ele, de descobri-lo, liberá-lo, articulá-lo em discurso, formulá-lo em verdade.
Ele constitui "o sexo" como desejável.

E é essa desirabilidade do sexo que fixa cada um de nós a injunção de conhecê-lo,
é essa desirabilidade que nos faz acreditar que afirmamos contra todo poder os direitos de nosso sexo quando, de fato,
ela nos vincula ao dispositivo de sexualidade que fez surgir,
do fundo de nós mesmos, onde acreditamos reconhecer-nos, o brilho negro do sexo.

História da Sexualidade- Vontade de Saber
Michel Foucault

"Eu"

Nesse quadro a sinceridade se separa, até conceitualmente, da
verdade e se torna um valor diferente e hierarquicamente superior
.

É certo que hoje sabemos apreciar a intenção sincera de quem fala e escreve,
sua autenticidade, mesmo sabendo, por outro lado,
que factualmente o que ele/ela diz ou escreve é falso.
Ser sincero, autêntico, é um valor em si, em nada subordinado à verdade factual.

À primeira vista, uma polêmica parece viva entre os que concebem, tradicionalmente, a
autobiografia como algum tipo de “representação” do sujeito por si mesmo e, no extremo oposto, os desconstrucionistas, como por exemplo De Man (1979), para quem o sujeito nada é senão um efeito de seu próprio texto.

A oposição é provavelmente em grande parte artificiosa(...).

Em um brilhante ensaio, Elisabeth Bruss (1976) propõe a melhor solução para esse
debate.
Ela considera qualquer produção autobiográfica moderna (autobiografia narrativa ou não, journal etc.) como um “ato autobiográfico”, ou seja, como um performativo.
O sujeito que fala ou escreve sobre si, portanto, não é o objeto (re)presentado por seu discurso reflexivo, mas tampouco é o efeito, por assim dizer, gramatical de seu discurso.
Falando e escrevendo, literalmente, ele se produz.
Narrar-se não é diferente de inventar-se uma vida.
Ou debruçar-se sobre sua intimidade não é diferente de inventar-se uma intimidade.
O ato autobiográfico é constitutivo do sujeito e de seu conteúdo.


Essa concepção é confirmada pelo fato de que a modernidade não pára de descrever o
ato autobiográfico como ato suscetível de modificar diretamente a vida do sujeito. Que essa era aidéia original da psicanálise, não há dúvida.

Nas últimas décadas proliferaram, particularmente nos Estados Unidos, tratados de autoajuda especificamente destinados a auxiliar o leitor a escrever seja sua autobiografia, seja seu diário íntimo.
Na escolha ao acaso que fiz entre esses tratados, invariavelmente a escrita
autobiográfica é apresentada como uma conduta propriamente autoterapêutica.


Enfim, vale para todos a famosa frase de Anaïs Nin: “Começando um diário, já
concordava com a idéia de que a vida seria mais suportável se eu a olhasse como uma aventura e um conto. Eu me contaria a história de uma vida, e isso transmuta em uma aventura os percalços que nos sacodem.”

Como diz William Zinsser no bonito ensaio que abre a coletânea por ele
editada (Zinsser, 1987: 24):
“O escritor de um ‘memoir’ deve se tornar o ‘editor’ da sua própria
vida.” Ele é quem rearranja ou melhora o que já é um texto.


(...)
A verdade do sujeito mudou de forma.
Portanto, sua vida e seu ato autobiográfico tendem a constituí-lo com uma imagem que vive no e pelo olhar dos outros.

Verdades de autobiografias e diários íntimos
Contardo Calligaris

sexta-feira, abril 25, 2008

Atrito

Não há nada mais pós-moderno, ou hipermoderno, do que o chamado sexo virtual, não mais restrito às salas de bate-papo ou às webcams, mas já com o uso de vibradores interativos comandados através da internet, ou chamados simplesmente de televibradores portáteis; ou ainda roupas especiais equipadas com sensores, à mercê dos estímulos que algum desconhecido, do outro lado da tela, controla.
Basta um simples clique no mouse para levar o outro ao orgasmo.

Não obstante, o que cria a conexão sexual não é tão somente o software, mas a certeza de que um sujeito anônimo está controlando seu prazer físico.

Por isso, é importante notar que não há a completa negação do Outro, já que uma alteridade sui generis o torna existente e, ao mesmo tempo, inacessível.

Notemos ainda que o sexo virtual se fortalece a partir do medo do Outro; talvez ainda mais, o medo do corpo do Outro. Ao lado do fracasso afetivo, o temor do corpo e pelo corpo.

O sujeito, em sua preocupação prenhe de cuidados referentes à saúde e higiene está, no entanto, fadado a desenvolver mecanismos autodestrutivos de compulsão, ansiedade, depressão e outras diversas patologias individuais.

“O mundo das virtualidades eletrônicas fascina por permitir um livre curso às fantasias, às errâncias em múltiplos mundos, ao possibilitar visitas voyeuristas a todo tipo de universo falsamente fechado. A praticidade e a rapidez se pagam com o aumento da insegurança e do desespero." (Ciro Marcondes Filho)

Amores e desejos líquidos- Odirlei Costa dos Santos

Desejos

Há uma outra idéia segundo a qual a vida da gente pode (e talvez deva) ser vivida como uma narração.
Não tanto para que ela se transforme num roteiro mirabolante,
mas para que nosso cotidiano (por humilde e banal que seja)
assuma uma relevância e uma intensidade que o tornem digno de ser vivido.
Não fica claro?
Faça a experiência: passe três horas de seu dia acompanhando suas ações de sempre, seus pensamentos, seus encontros e suas rotinas com uma narração mental detalhada, como se você fosse o protagonista de um romance que está sendo escrito enquanto você age.
Que o resultado seja um atormentado monólogo interior ou uma seca descrição, de qualquer forma, seu mundo (externo e interno) será transformado.
Se você prolongar a experiência (redigindo um diário, em forma de blog ou num caderno, pouco importa),
a narração passará a comandar sua vida:
aos poucos, suas escolhas serão decididas em função do texto que você está escrevendo.

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A descoberta de Sade: o poder assombra a fantasia erótica.
Eis como a coisa funciona, esquematicamente.
Um sujeito se define pela rede de relações que lhe atribui um lugar no mundo.
Na modernidade, as relações que mais importam não são as hierarquias sociais estabelecidas:
o sujeito se relaciona, antes de mais nada, por amor e por paixão, ou seja, por livre escolha.
A conseqüência disso não é um mundo em que o amor e a paixão substituiriam a vontade de dominar.
Ao contrário: o amor se torna um teatro do poder
e a paixão encontra no domínio ou na submissão um extraordinário recurso para a excitação sexual.
Reciprocamente, o exercício do poder é contaminado por modalidades de prazer e de gozo aprendidas na cama, ou seja,
por um erotismo violento, sombrio e, em geral, envergonhado.

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(...) Deve ser por isso que uma parte relevante dos conselhos para um verão namoradeiro são, de fato, sugestões estéticas:
como perder aqueles cinco quilos em três semanas,
como achatar o estômago, como esculpir os abdominais,
como tornear as pernas e arrebitar as nádegas,
como conseguir um bronzeado natural e dourado,
qual maquiagem usar na praia, como escolher a sunga ou o biquíni certos,
como desembaraçar o cabelo depois da água salgada,
como vestir-se nas baladas da noite e por aí vai.

Por que não?
Afinal, para encontrar um namoro, é preciso seduzir, não é?
Certo, mas não deixa de me surpreender que os conselhos para encontrar companhia sejam quase sempre dicas para nossa aparência.
Ou seja, a vontade de achar alguém com quem valha a pena ficar (ao menos um pouco) se traduz em anseios narcisistas.
Saímos à procura de um outro para beijar e acabamos embaciando o espelho.

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Contardo Calligaris

domingo, abril 20, 2008

What is wrong with you?

- When someone gets married, all bets are off. We become the enemy.
- Married women know we can have sex any time, with anyone.
- We can?

- Wedding rings come off, you know.
If you're single, you are not to be trusted.
- Not all married women feel that way.
- You're right, not all. The ones who don't fear you, pity you.
- That's not true.
- Are you telling me you haven't gotten those 'poor single you' looks?
- I hate those.
- Ok, yes, I have. When you're the only single person at a party, they look at you like you're...
- A loser?
- Leper.
- Whore.
- Exactly.
- I'm telling you. Married people are the enemy!

Was she right? Were we enemies? Is there a secret cold war between marrieds and singles?

I love my single friends.
But now that I'm married I don't see them as much as I used to.
It's too painful.
They remind me of how desperate I used to be.
It's all about what you want.
Some people, like me, choose to grow up, face reality and get married.
And other choose to, what? Live an empty, haunted life of stunted adolescence.

- It's not just cold war, it's a battle.
And it isn't just straight people.
Every gay guy I know is runnig off to Hawaii, putting on a cafta, reciting vows and feeling superior to me.
I miss the old times when everyone was alone.

Sex And The City
Bay of Married Pigs.

A Tragédia das Solteironas

Uma matéria da Revista da Semana, de 1937, é exemplar na for­ma de abordar o “tema”:

“Todas têm ódio às moças que se casam. Possuem, em maior ou menor dose, o instinto da maldade.
A história de milhares de tragédias conjugais nasce dessas almas torvas, às quais tudo se deve perdoar pelo muito que penaram.
Casais felizes devem fugir das solteironas como o diabo da cruz.
A Medicina sabe que os enfermos de certas doenças contagiosas têm um prazer satânico em transmitir sua doença às pessoas sadias.
Existe, na psicopatologia das solteironas, fenômeno análogo”.

O tom, dramático e antiquado, pode ter mudado, mas a essência dessas idéias, infelizmente, ainda permanece viva.

Sob a lógica do “familismo”, que pressupõe o par e o casamento com lugares privilegiados de saúde e felicidade,
a mulher “só” é percebida como solitária e infeliz, frustrada e insatisfeita,
já que sua existência seria medida e avaliada segundo a perspectiva da mulher casada ou que possui um par masculino.

A mídia, por sua vez, continua, “traduz e reinterpreta noções inspiradas nos discursos acadêmicos da demografia ou dos estudos de população e outras áreas disciplinares”.
Uma atenção especial é igualmente concedida, na mídia, ao que aparece de modo incipiente ou está ausente dos estudos de população: a idéia de sociabilidade como marca de um certo estilo de vida das pessoas que moram sozinhas e a expressão “novas solteiras”, caracterização aparentemente restrita a essas produções.

“Mídia e demografia apresentam confluências nas análises sobre a necessidade de alguma forma de intervenção externa para favorecer o encontro par/marido,
chegando mesmo a fazer sugestões explícitas.

Assim, a demografia, mesmo concedendo o conceito do ganho das mulheres, salienta “a problemática da mulher madura, com mais de 30 anos, colocando-a como vítima do excedente de mulheres que disputam, em desvantagem com as mais jovens, reforçando a necessidade do par”. É a “pirâmide da solidão”.

O conceito fala das chances decrescentes de mulheres mais velhas de se casarem considerando-se as normas sociais vigentes, nas quais os homens procuram parceiras mais jovens, o que traz para as outras faixas etárias superiores o prognóstico de que continuem a viver sozinhas.

“Considerar como fatalidade uma mulher que não se casa, qualquer que seja a motivação, denota a centralidade dada ao estatuto do casamento como um valor em si mesmo. A eleição pelo casamento envolve estratégias políticas”.

Se o homem solteiro não é questionado, já que sua “solteirice” é presumida como fase transitória livremente escolhida, a “solidão” feminina, por sua vez, é reiteradamente acentuada, nos estudos mais diversos, a partir das informações estatísticas e das noções demográficas.

“A ‘pirâmide da solidão’ passou a ser tratada como verdade inquestionável, uma matriz geradora ou categoria explanans, usada para explicar fenômenos distintos, como o machismo brasileiro, a ‘solidão’ de jovens sem namorados, de idosas viúvas e, até mesmo, o aumento de venda de vibradores em sex shops.”

Contra a imagem de ‘solitária’ criou-se a figura da mulher executiva, liberada e auto-suficiente, que presumivelmente não ‘sofre’ de solidão ou dela escapa, refugiando-se no trabalho e no consumo.”

Elas agora seriam “independentes”, “estudadas”, “bem-sucedidas”, “viajadas”, “malhadas”, “elegantes”, com “intensa vida social”. Assim, continua a autora, essas “novas solteiras” estariam colhendo os frutos das conquistas da revolução feminina e feminista e suas falas conferem positividade à “solteirice”.

Dessa forma, a noção mais desenvolvida nos textos da mídia é a da nova solteira que está à “procura de”, mas, de certo modo, tanto faz se encontrar ou não um parceiro.

Esse tipo de mulher seria enquadrada na categoria de “satisfeita resignada”, mulher que deseja, mas não quer abrir mão de certas conquistas para ter a seu lado um “sapo qualquer”.

Só recentemente, porém, “o trabalho feminino não aparece como um último recurso, mas como uma exigência individual e identitária, uma condição para realizar-se na existência, um meio de auto-afirmação”, afirma Lipovetsky.

“Se o single lifestyle e as residências de uma pessoa continuarão a se impor como uma tendência, não tenho uma conclusão, mas, talvez, as solteiras estejam reinventando a ‘solidão’, transformando-a em ‘aventura’”.

Nem só, nem mal acompanhada.

Mulher solteira não procura mais
Estudo sobre "mulheres sós"
Carlos Haag

domingo, abril 13, 2008

Unsentimental Education (Pretending Not to)

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This is a real question for women in New York these days.
For the first time in Manhattan history, many women in their thirties to early forties have as much money and power as men- or at least enough to feel they don't need a man, except for sex.

Because if you are a sucessful single woman in this city, you have two choices: You can beat your head against the wall trying to find a relationship, or you can "screw it" and just go out and have sex like a man.

"Men don't want to have a relationship, but as soon as you only want them for sex, they don't like it. They can't just perform the way they are supposed to.

"Why do I know so many great women who aren't married, and no great guys? Let's face it, the unmarried guys in New York sucks.

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"Once, this guy said to me: 'Please, come with me for a weekend. We don't have to sleep together, I promise. I just want to hold you, that's all.' I said: 'Don't you realize that if I go away with a man, it means I want to sleep with him?'

"I think men can be complicated, but I always know there's another one out there if this one doesn't work out. Men are not high maintenance. It's other women that are really the problem".

"I remember thinking, if he doesn't work out, I don't know what I'm going to do." (This, of course, was typical New York women modesty, because New York women always know what they're going to do).

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"It's all about having children"- he said. "If you want to get married, it's to have kids, and you don't want to do it with someone older than thirty-five, because then you have to have children immediately, and then that's all it's about".

"I think the issue of unmarried, older women is conceivably the biggest problem. It provides torment for so many women, and a lot of them are in denial."

"No, I don't feel sorry for anyone who has expectations they can't meet. I feel sorry for the loser guys who these women won't look at.
There isn't one woman in New York who hasn't turned down ten wonderful, loving guys because they were too fat or they weren't rich enough or they weren't powerful enough or they weren't indifferent enough."

"The problem is, in New York, people self-select down to smaller and smaller groups. You're dealing with a crowd of people who are enormously privileged, and their standards are incredibly high."

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She went into her bedroom. There was a thick white carpet on the floor and photographs everywhere in silver frames, some professional-looking shots of Julie in a bathing suit, her long blond hair swinging over her shoulders.
Carrie stared at those photographs for a long time.
What was it like to be Julie? How did it happen?
How did you find someone who fell in love with you and gave you all this?
She was thirty-four and she'd never even come close, and there was a good chance she never would.

It's time. Time to stop complaining about no good men.
Time to stop calling your machine every half hour to see if a man has called.

"What's the point of a husband?" Julie said.
"I mean, who needs two babies?"
"Except that now I want to have another baby. I was thinking about getting rid of my husband, but now I'm not sure that I want to- yet."

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There were squadrons of these women looking for men and pretending not to.

"You've got to be able to roll into a place and go right up to the hottest girl there- otherwise, you're finished. It's like being around dogs, you've got to show no fear."

"It's actually better if there are more guys than girls when you go out.
If there are more girls, they get competitive with each other.
Girls try to steal boys all the time."

"Women are so envious in general. It doesn't have anything to do with their age. They're so insecure and unhappy about where they are, they can't stand it if it seens like another woman has it better."

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"I think when men tell women to lose weight, it's a diversion from their own lack of size in certain areas", one of the women added dryly.

"I don't know. There are so many beautiful girls around that after a while you start looking for someone who can make you laugh."

"There's a thin line beween attraction and repulsion. And usually starts when they begin wanting you to treat them as people, instead of sex toys."

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"I tell every guy they have the biggest thing I've ever seen". The women laughed nervously. "It's survival", she said.

Libby was definetely a one-night stand. She wasn't pretty enough to date, to be seen in public with.

"I just want you to know", she said, "I really want to have sex with you."
A pretty girl wouldn't have said that, he thought, as he pulled down his beer and began undressing her."

"I've always wondered if it was because she wasn't datable that she'd constructed this complicated inner life. You know, if you are not in the beauty Olympics, you can become a very interesting person."

"You know, if I closed my eyes, there was no way she didn't satisfy me in every way."

"Well, every man secretely hates pretty girls because they're the ones who rejected him in high school."

One afternoon, they were having lunch, when Ellen began describing a recent sexual encounter with her boyfriend. She had given him a hand job using Vaseline.
"The thing about these girls who aren't beauties- they have to put sex on the table. They can't nuance it."

"A pretty woman would never let you have the TV during the sex. Women like Ellen allow you to be yourself."

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"Mostly, life is a series of mild disappointments. But two women? No matter what happens, you can't lose."

A menage à trois involves the trickiest of all relationship numbers: three. Now matter how sophisticated you think you are, can you really handle it? Who gets hurt? Are three really better than two?

"We're leading sensory-saturated lives. High density. Intensity. Millions of appointments. A simple thing is no longer fun. Now you have to have two or three girls, or exotic strippers at Pure Platinum."

"On the other hand, the reason to have multiple sex partners could just be curiosity. Withou being overly analytical."

"It's not reality. It's not communicating. It's not sincere. It's just a moment in their stress-ridden lives."

"It's the whole idea of more. It's four breasts, not two."

"It's variety. You get tired of being around anyone after a while."

"If you cheat your girlfriend, you usually feel guilt afterwards. With this, there's no way you're going to have an ongoing relationship, so it's no threat.

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"It brigs up all kinds of deep-rooted fears." There was a moment of silence while we looked around the room.

"Density, stress, and the overcrowding of the niche structures. And in this city you have incredible pressure. Pressure fucks up the hormones, when the hormones are screwed up, there are more homossexuals; and homossexuality is nature's way of cutting down on population."

"It's the easiest way to do it. It's sport. You don't care for tha girls, otherwise, you would let your buddy have sex with her.
And it's a lot cheaper".

"So, after that, it was like we were going out of out way to prove we weren't gay. The three way was almost a validation of our heterosexuality. You're validating your masculinity to another guy."

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It should have been sexy, but all I could think about were those National Geographic nature films of mating baboons.

They're people who can't negotiate the system. They're on the fringes, sexually and in life. They're not necessarily the people with whom you want to share your intimate fantasies.

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- Who was that man you were kissing in the cab?
- Just another man I either don't want or can't have. Like you.
- But you can have me- he said. I'm available.
- Exactly.

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"I haven't done anything wrong.
You haven't done anything right, either
."

"What can I do?" Mr. Big said. "I can't compete with a dream."

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Sex And The City- Candace Bushnell.

quarta-feira, abril 09, 2008

Quiseram ter o que já tinham

Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não.
Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles.
Então a grande dança dos erros.
O cerimonial das palavras desacertadas.
Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.
No entanto ele que estava ali.
Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso.
Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos.
Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham.
Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.
Foram então aprender que, não se estando distraído,
o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.
Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector

segunda-feira, abril 07, 2008

Sobre os Quases

Nieztsche: "o reduzir algo desconhecido a algo conhecido alivia, tranqüiliza, satisfaz, proporciona além disso um sentimento de poder. Com o desconhecido vêm o perigo, a inquietação, a preocupação. Uma explicação qualquer é preferível à ausência de explicação."

As fantasias são construídas por um processo de amálgama e distorção, observando-se primeiramente a falsificação da memória pela fragmentação, na qual a ordem cronológica é deixada de lado.
E não há como negar que as fantasias podem atuar com a mesma força das experiências reais.

O ansiar ardentemente e o viver de reminiscências foram características que demarcaram o trabalho em torno da histeria.

O traço de defesa do histérico se funda no fazer submergir o real, nao o reconhecendo, resistindo à sua compreensão. O 'não saber' do paciente histérico seria, de fato, um não querer saber- um não querer que poderia, em maior ou menor medida, ser consciente.

Freud: "são dominados pela oposição entre realidade e fantasia. Se aquilo que desejam com mais intensidade em suas fantasias se lhes apresenta em realidade, eles não obstante o evitam; e abandonam-se a suas fantasias tão logo não precisem temer vê-las realizadas."

Tendo a ansiedade como seu traço, a simbolização se desenvolve com o objetivo de manter camuflado o desejo.
Se, por um lado, o pessimismo é uma marca passiva diante do real, o seu equivalente ativo se faz notar pela excessiva necessidade de expressão, do falar, da agressividade, do exibicionismo.

A não vivência do real, não apenas do ato sexual, como da sexualidade em sua abrangência e implicações, encontra na atividade discursiva experientação vicária.

Lacan: "função mais digna de ser sublinhada na fala que a de disfarçar o pensamento (a maioria das vezes indefinível) do sujeito."
"isso significa que o real está aquém ou além da mentira, do disfarce, das distorções, das máscaras que construímos na tentativa de ocultá-lo. O real é sempre verdadeiro."
"O princípio de análise é que ninguém entende nada do que acontece. A idéia de uma unidade unificante sempre me dá a impressão de ser uma mentira escandalosa".

"E, se sabe que não e qualquer elemento que suscita o desejo, mas um atributo peculiar cifrado no olhar, no gesto, na expressão, um traço peculiar. É sobre o "saber" acerca disso que se apóia a erudição da histeria, que tranqüilamente pode desenvolver expressões, maneiras de se vestir, de parar, de sorrir, de piscar, mas nunca maneiras de deixar cair a roupa.
É que a histérica sabe, melhor do que ninguém, que, ao deixar cair a roupa, choca com a sua desnudez, mas não fascina como uma ilusão. O sujeito desaparece frente ao objeto parcial".

Se no caso da histeria, o sujeito não nega o real, a saída é proteger-se dele, duplicando-o, o que torna a tarefa inoperante, já que a falta o reenvio ao ponto de partida: o real.

Lacan formula que "o desejo do homem é o desejo do outro", da mesma maneira que o desejo da histérica seria o desejo do "desejo do Outro", portanto o desejo no que supõe ser o do Outro.

A demanda em saber colocar perguntas que não pretende ver respondidas.
"Diga-me quem sou e eu serei quem você diz."

Na histeria o desejo só pode ser sustentado enquanto insatisfeito; por isso, ainda que se situe como objeto de desejo de alguém, na sua demanda de saber, na sua representação, como no teatro, enquanto objeto do espectador, essa posição não pode persistir.

Baudrillard: "o delírio de explicar tudo, de imputar tudo, de referenciar tudo... Tudo isto ocasiona uma acumulação fantástica: as referências vivem umas sobre as outras e às expensas uma das outras. O que uma sociedade procura continuamente produzir, reproduzir e superproduzir, é ressucitar o real que lhe escapa".
"Mais real que o real, é assim que se abole o real".

Nada deve ser totalmente perdido da memória para que o novo não cause estranhamento e seja reinjetado na perspectiva de interpretação.

Paradoxo da maior quantidade e do baixo teor: diet life, exilando o sofrimento, a culpa, o remorso, o medo, a ansiedade, a frustração. O corpo encontra no diet vazão para o consumo, para o acúmulo, hipoteticamente solucionando o conflito retenção/gasto.

O interesse centra-se, então, cada vez mais no mundo, na identidade e nas relações marcadas pela assepsia, libertas das fricções produzidas pelos contatos reais.

Não se pretende, pura e simplesmente, catalogar a produção midiática em uma categoria nosográfica; entretanto, é prudente destacar a preocupação de subsidiar a experimentação do não vivido.

O que se coloca em questão é a arquitetura de um discurso fundado na simulação, que lança mão da sedução como simulacro de desejos, de afetos, em uma sociedade que estabelece como prioridade a necessidade de fazer sentir, de produzir sensações.
A publicidade de um relógio de pulso, por exemplo, recorre ao nu feminino.

Em contrapartida, não há algo que afugente mais o propósito da sedução que a explicitação, a obscenidade pelo mais mostrar, a demanda da sedução.
Como o Seduza-me ou Deixe me Seduzir Você.
Interpõe-se como impedimento, de ihual maneira a quebra do encanto.

Pronto. Acabou, o destino funda-se em pura repetição e nenhum risco.

Histeria na Mídia- A Simulação da Sexualidade na Era Digital
Raquel Paiva

domingo, abril 06, 2008

"Empastada"

"Um homem embrenha-se na sua vida, desenha o seu retrato, e para lá deste retrato não há nada. Um homem nada mais é do que uma série de empreendiemntos, que ele é a soma, a organização, o conjunto das relações que constituem esses empreendimentos."

"A realidade humana existe primeiramente como falta e em vinculação sintética e imediata com o que lhe falta".

"A existência do outro tem a natureza de um fato contingente e irredutível. Nós encontramos o outro, não o constituímos."

O outro é "a morte oculta de minhas possibilidades"; que me faz "objeto de avaliação e estima", que me atribui "valor".

A liberdade nada mais é senão sua capacidade de "representar" um papel já escrito numa peça na qual nem sua parte nem sua interpretação se submetem a sua própria escolha.

"No desejo sexual, a conciência acha-se como que empastada, parece que nos deixamos invadir pela facticidade (da existência de alguém como um corpo), que deixamos fugir dessa facticidade e deslizamos rumo a um consentimento passivo ao desejo."

"O desejo se expressa pela carícia assim como o pensamento pela linguagem".

O existencialismo
Comentários a O Ser e o Nada.


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Na medida em que a sexualidade é sancionada e até encorajada pela sociedade (através dos costumes e modos de comportamento considerados "normais"), com a integração dessa esfera ao campo dos negócios e dos divertimentos, a própria repressão é recalcada: a sociedade não ampliou a liberdade individual, e sim o seu controle sobre o indivíduo. E esse aumento do controle social não é alcançado através do terror, mas através d produtividade e da eficiência mais ou menos útil do aparato social.
A sexualidade é promovida como atração comercial, como mercadoria e símbolo de status.

A corrida às armas de destruição total com o acordo de grande parte da população é apenas o sinal mais evidente dessa mobilização de energia destrutiva. Por certo que esta é mobilizada para a conservação e proteção da vida- mas justamente aqui as teses freudianas mais provocantes mostram a sua força.

Os processo psíquicos são fatais, não desaparecem e não podem ser resolvidos- eles devem continuar dominando sob outras formas, que correspondem a outros conteúdos e os exprimem.

A verdade da psicanálise consiste em manter a fidelidade às suas hipóteses mais provocadoras.

A obsolescência da psicanálise.

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Cultura e Sociedade- Volume 2- Marcuse.

quinta-feira, abril 03, 2008

Empate

o que pode ser mais triste- um tigre de circo, alguém perdido?
uma promessa quebrada, como um brinquedo, um segredo contado, terremoto, lar desfeito, desejo (medo) desperdiçado?
fósforo molhado, poça, vidro (amor não correspondido) embaçado?
palavra errada, guerra, marte? pêndulo? empate?
feiúra, cegueira, fim de festa, falta de vontade?
(uma coisa triste de) verdade?

..

como cheiro, assa do recheio até a casca,
vem do meio e ao que virá ou veio
se propaga, flash
explodindo a hora que o encapa
como a boca que o chiclete masca
e fora a bola cresce, estoura
esse momento bolha
acorda, esquecimento.

..

da entrada à entranha dessa eterna morada da morte diária
entre lábio e lábio da mucosa rósea que abro e me abraça
a cabeça o tronco o membro
e acaba o tempo.

..

corpos.
somam.
somem.

..

2 ou + corpos no mesmo espaço- Arnaldo Antunes.