domingo, março 04, 2007

A Extinção do Invisível

A idéia, escrevia Kant, "é um conceito necessário da razão ao qual não pode haver nos sentidos nenhum objeto correspondente."

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A televisão, porém, nos oferece a possibilidade de ver tudo sem necessidade de irmos ver os objetos onde se encontram. Agora, pela televisão, tudo o que existe e é visível pode entrar praticamente de graça em nossa casa vindo de qualquer parte do mundo.


Um mundo feito de imagens, totalmente centralizado no ver.


É incontestável que a televisão oferece entretenimento e diversão: o homem enquanto animal que gosta de se divertir e de brincar, jamais foi tão satisfeito e gratificado em toda a sua história. (...) Se a televisão transforma tudo em espetáculo, então a avaliação muda.


A verdade é que ficar só diante do vídeo não só nos mantêm fechados dentro de casa, mas também nos isola em casa. A televisão cria uma "multidão solitária" mesmo dentro das paredes domésticas. O resultado que nos aguarda é uma solidão eletrônica: o vídeo que reduz ao mínimo as interações domésticas, e, em seguida, a internet que as transfere e transporta- via máquina- em interações entre distantes.


O interagir, que consiste em um intercâmbio de mensagens por meio de computadores pessoais, é um contato empobrecido que afinal nos deixa sempre sozinhos diante de um teclado.
Homo Videns- Televisão e Pós Pensamento
Giovanni Sartori


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Filme- Farenheit 451




Num futuro hipotético, os livros e toda forma de escrita são proibidos, sob o argumento de que faz as pessoas infelizes e improdutivas.


(...) O cenário aqui desenhado é um dos mais inquietantes jamais concebidos pela ficção científica – sem seres alienígenas, naves espaciais ou armas mirabolantes, ...
O controle é exercido por um governo que promove o entretenimento como forma de vida, anulando todo o apetite do espírito. As pessoas não têm tempo para pensar, não conversam umas com as outras nem contatam com a natureza.
Em vez disso, passam horas em frente à televisão, cuja programação, de tipo interativo, é projetada nas paredes das casa, ...

Bombardeadas com tanta informação e tanta atividade inútil, mas que dão a falsa sensação de “movimento”, as pessoas, na realidade “apenas se arrastam”. Foram moldadas ao sistema, estão conformadas, não questionam nada, pois têm a falsa sensação de uma vida preenchida e feliz.
Neste cenário, os livros deixaram espontaneamente de ter leitores – para quê atormentar o espírito com dúvidas existenciais, com assuntos filosóficos, com estudos sociológicos, com poesia melancólica, com romances cheios de personagens imaginários que não existem na realidade?
Os livros são vistos com fonte de sofrimento, pois obrigam a pensar e estão cheios de contradições - fatos insuportáveis para um espírito habituado à mínima atividade autônoma possível, embriagado, numa espécie de hipnose coletiva.
(...)

Cláudia Silva