quarta-feira, março 21, 2007

O Uso dos Prazeres

Analisar as práticas pelas quais os indivíduos foram levados a prestar atenção sobre eles próprios, a se decifrar, a se reconhecer e se confessar como sujeitos de desejo, estabelecendo de si para consigo uma certa relação que lhes permite descobrir, no desejo, a verdade de seu ser.

Essas "artes de existência", essas "técnicas de si", perderam, sem dúvida, uma certa parte de sua importância e de sua autonomia quando, com o cristianismo, foram integradas no exercício de um poder pastoral e, mais tarde, em práticas do tipo educativo, médico ou psicológico.

História da maneira pela qual os indivíduos são chamados a se constituir como sujeitos de conduta moral: essa história será aquela dos modelos propostos para a instalação e o desenvolvimento das relações para consigo, para a reflexão sobre si, para o conhecimento, o exame, a decifração de si por si mesmo, as transformações que se procura efetuar sobre si.

A relação com os desejos e os prazeres é concebida como uma relação de batalha: é necessário se colocar em relação a eles, na posição e no papel do adversário, tanto no modelo do soldado que combate, como no modelo de um lutador num concurso. (...) Os adversários que o indivíduo deve combater não estão simplesmente nele ou perto dele. São parte dele mesmo.

Michel Foucault- História da Sexualidade