quinta-feira, março 22, 2007

O Mínimo Eu

Seja como trabalhador ou como consumidor, o indivíduo não apenas aprende a avaliar-se face aos outros, mas a ver a si próprio através dos olhos alheios; aprende que a auto-imagem projetada conta mais que a experiência e as habilidades adquiridas. Uma vez que será julgado (por seus colegas, seus superiores de trabalho, pelos estranhos que encontra na rua) em virtude de suas posses, suas roupas e sua “personalidade”, ele adota uma visão teatral de sua própria performance.

A concepção pluralista de liberdade baseia-se no mesmo sentido multiforme do eu que encontra sua expressão popular em panacéias tais como o “casamento aberto” e as “ligações sem compromisso”, ambas originadas na cultura de consumo.
Uma sociedade de consumidores define a escolha não como a liberdade de escolher uma linha de ação em vez de outra, mas como a liberdade de escolher todas as coisas simultaneamente. “Liberdade de escolha” significa “deixar as opções em aberto”.
A idéia de que “você pode ter tudo o que quiser”, o que abrange as escolhas de amigos, amantes e carreiras, implica que todas estejam sujeitas ao cancelamento: tal é a concepção experimental e ilimitada da boa vida que sustenta a propaganda de mercadorias, ao cercar o consumidor com imagens de possibilidade ilimitada: mas a escolha não implica mais compromissos e conseqüências.
A liberdade passa a ser a liberdade de escolher entre a marca X ou a marca Y, entre amantes intercambiáveis, entre trabalhos intercambiáveis, entre vizinhos intercambiáveis.
A idéia que rege essa concepção é a de que o industrialismo trouxe à gente comum, pela primeira vez, uma “vasta expansão das oportunidades de satisfação pessoal”.

A conversão do trabalhador em consumidor de mercadorias foi em breve seguida por sua conversão em um consumidor de terapias destinadas a facilitar o seu “ajustamento” às realidades da vida industrial.
Alguns dos mecanismos que passaram a pautar a vida cotidiana foram: A apatia seletiva, o descompromisso emocional frente aos outros, a renúncia ao passado e ao futuro sob a determinação de viver um dia de cada vez- tais técnicas de auto-gestão emocional passaram a configurar a vida das pessoas comuns.

As pessoas voltaram-se para a auto-gestão, como auxílio de uma elaborada rede de profissões terapêuticas, as quais, elas próprias, abandonaram as abordagens que enfatizam as introvisões introspectivas em benefício da adaptação e da modificação do comportamento, os homens e mulheres tentam atualmente reconstituir uma tecnologia do eu.

O Mínimo Eu- Chistopher Lasch