quinta-feira, agosto 09, 2007

Perpétua Adaptação

O neoliberalismo nasceu logo depois da segunda Guerra Mundial, na região da Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação teórica e política, veemente contra o Estado de Bem Estar. (...) Trata-se de um ataque contra qualquer limitação de mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciadas como uma “ameaça letal à liberdade”.

As idéias neoliberais ganharam terrena com a profunda recessão na crise do modelo econômico do pós-guerra, combinando pela primeira vez, baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação. O remédio então era claro: manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabilidade orçamentária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. Para isso, seria necessária uma disciplina orçamentária com a contenção de gastos com o bem-estar, e a restauração da taxa “natural” de desemprego, ou seja, a criação de um exército de trabalho para quebrar os sindicatos.

A prioridade mais imediata era deter a grande inflação dos anos 70. Nesse aspecto, o êxito foi inegável. A deflação, por sua vez, deveria ser a condição para a recuperação dos lucros. Também nesse sentido o neoliberalismo obteve êxitos reais. (...) Em todos esses itens, deflação, lucros, empregos e salários, podemos dizer que o programa liberal deu certo. Mas, no final das contas, todas essas medidas haviam sido concebidas como meios para alcançar um fim histórico, ou seja, a reanimação do capitalismo avançado mundial, restaurando taxas altas de crescimento estável, como existiam antes da crise.

Cabe perguntar porque a recuperação dos lucros não levou a uma recuperação dos investimentos. Essencialmente, pode-se dizer, porque a desregulamentação financeira, que foi um elemento tão importante do programa, criou condições muito mais propícias para a inversão especulativa do que produtiva. Durante os anos 80 aconteceu uma verdadeira explosão dos mercados de câmbio internacionais, cujas transações, puramente monetárias, acabaram por diminuir o comércio mundial de mercadorias reais.

Por fim, ironicamente, quando o capitalismo avançado entrou de novo numa profunda recessão, em 1991, a divida pública de quase todos os países ocidentais começou a reassumir dimensões alarmantes, inclusive na Inglaterra e nos Estados Unidos. Nessas condições, pela lógica, era de se esperar uma forte reação contra o neoliberalismo, (...) mas o projeto neoliberal continua a demonstrar uma impressionante vitalidade.

“O Estado de bem-estar, com todas as suas transferências de pagamentos generosos desligados de critérios, de esforços ou de méritos, destrói a moralidade básica do trabalho e o sentido da responsabilidade individual. Há excessiva proteção e burocracia”.

Política e ideologicamente, todavia, o neoliberalismo alcançou um êxito num grau com o qual seus fundadores provavelmente jamais sonharam, disseminando a simples idéia de que não há alternativas para os seus princípios, que todos, seja confessando ou negando, têm de adaptar à sua norma.

Perry Anderson- Balanço do Neoliberalismo