segunda-feira, julho 30, 2007

Sedução...

Na opinião corrente, seduzir o outro é dizer-lhe o que ele tem vontade de ouvir ou mostrar-lhe o que ele tem vontade de ver, etc.

Toda sedução instaura uma "ficção real" em que não é possível distinguir o que acontece do que é imaginado.

O apelo da sedução desestabiliza os apoios simbólicos anteriores, abala a parcela de engano que eles presupoem ou comportam.

A sedução é um jogo alternado de inclusões recíprocas, nenhuma das quais é sustentável, pois cada uma desmente a outra numa alternância que oscila em torno da identidade impossível... e do que toda identidade tem de impossível.

A transmissão de identidade através de seu retraimento...

A realização de uma fantasia decepciona porque a fantasia mantém a promessa de uma sedução, a sedução de uma promessa, que a realidade desmente e só pode desmentirm já que a abole como promessa e como sedução.

A ilusão, seja a da expectativa desapontada ou a evocada pela sedução, nem sempre é o contrário da verdade, não é a mentira, um rosto que se maquia para seduzir, para agradar, pode seduzir por desarticular a própria idéia de um rosto verdadeiro, e porque, para não se ater às aparências, acelera seu jogo...

Além do seu diálogo com o espelho não haveria mais nada? Há bons motivos para se sentir meio solitária, aborrecida, com esse traço intraduzível, que fizera sinal aos limites flexíveis e móvei sdo desejo, de repente se descobre sinal dela mesma, primeira e última palavra de uma língua que não vem.

Trata-se da sedução do si mesmo com o outro, como relação "marcante" ou impotente para produzir uma marca que deixe algo a dizer e a desejar.

Na decepção de seduzir, de se oferecer ao tato para se revelar intacto à procura de um vestígio, de um traço que possa inscrever e que "permita" à sedução se superar.

De qualquer modo, entramos na fantasia a fundo, acreditando servir a determinado desejo preciso, o nosso "próprio", embora, na verdade, a causa do desejo é que se mantenha através dele, se não vencedora, pelo menos jogável, e ás vezes indo além do jogo: criadora.
Procuramos produzir, não em resposta a "alguém" (nem sempre, embora seja a alguém-que-imaginamos), mas àquilo que nos surgiu como uma falta, a um apelo vindo das lacunas mais bizarras...

O desejo vibra por se soltar das capturas da linguagem, justamente daquelas que suscita, é o que sentimos o tempo todo.

Indiferente a seu encanto e à atração que inspira, negligente para com o fascínio que exerce sobre nós, o que nos seduz e atrai no outro é a idéia de fazê-lo vibrar, de ter alguma coisa a ver com ele, de insinuar ali nossa alteridade, é a vacilação dessa auto-suficiência que nos seduz, a insuficiência que a qualquer momento poderíamos revelar nele.

Efeito da sedução: colocar o outro em guerra consigo mesmo.
A sedução é o apelo para que o "monstro" ou o caos se expresse.
O sedutor quer a angústia do outro, porque essa angústia aumenta sua beleza.

É um jogo que faz mais questão de seu desregramento que de suas regras, de seu prosseguimento que de seu término.

Sedução- Daniel Sibony.