quarta-feira, julho 04, 2007

Ousadia...

Ler não é só caminhar pelas palavras, e também não é voar sobre as palavras. Ler é reescrever o que estamos lendo. É descobrir a conexão entre o texto e o contexto do texto, e também como vincular o texto/contexto com o meu contexto, o contexto do leitor.

Gosto da ironia da consciência, podemos aprender a ser livres estudando a nossa falta de liberdade.

A dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo. O "outro" mundo, o mundo dos fatos, o mundo da vida, o mundo das lutas, o mundo da crise econômica, não tem contato nenhum com as palavras que se exige que os alunos leiam. O mundo da experiência é silenciado. Em última análise, distingue-se o contexto teórico do contexto concreto.

A realidade não é um positum, estabelecido e perfeito, esperando que o professor o leve aos alunos como se fosse um pacote, ou um pedaço de carne.

Em aula, os professores têm o direito de continuar falando, mesmo que todos estejam entediados. Mas o professor não fala para aborrecer ou para exercer controle, mas para comunicar.

Nunca usei a ironia, mas humor, sim. Para mim, ironia revela falta de segurança-sarcasmo. O humor, por outro lado, indica forte segurança. O humor também desvenda a realidade com forte agudeza! Devemos usá-lo por causa disso.

Acho que a imaginação e a intuição não podem ser dicotomizadas do pensamento crítico. Quanto mais formos capazes de apefeiçoar, em nós mesmos, nossa sensibilidade, mais capazes seremos de conhecer com rigor.
O concreto da realidade é mais palpável através do humor e do sentimento do que pela estrutura mecânica do programa. O humor ajuda a tornar real o momento do conhecimento, uma qualidade que pode reverter o roteiro artificial da escola.

Um educador que começou fazendo com os estudantes, e não fazendo para os estudantes. É isso que eu sou- um educador apaixonado- porque não entendo como viver sem paixão.

Não estou pensando que, quando me despeço dos alunos, terei vinte e cinco novos revolucionários! Mas, o que poderemos ter, ao fim do seminário, é o aumento da curiosidade das pessoas.

Por exemplo, se estou desse lado da rua e quero ir para o outro lado, tenho que atravessar a rua. Isso significa que é absolutamente impossível chegar ao outro lado, começando de lá para cá. O que muitos professores e ativistas políticos não percebem é que o aqui do professor ou do militante é o lá dos alunos. Eles têm que começar do aqui dos alunos.


Medo e Ousadia- O Cotidiano do Professor
Paulo Freire e Ira Shor.