quarta-feira, julho 18, 2007

Roídos de Infernal Curiosidade

O problema não é inventar. É ser inventado hora após hora e nunca ficar pronta nossa edição convinvente.

O desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco.

Por ele sou também observado.
Com ironia, desprezo, incompreensão.
E assim vivemos, se ao confronto se chama viver.
Unidos, impossibilitados de desligamento, acomodados, adversos,
roídos de infernal curiosidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca
Dar-lhes moldura de granito
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos.
E todos nos cansamos por um ou outro itinerário
De aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis
Restintuindo cada e ser e cada coisa à condição precária
Rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho eterno fica esse gosto acre.
Na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade.

"Só são verdadeiros os pensamentos que não compreendem a si próprios". Adorno.