terça-feira, julho 31, 2007

História da Vida Privada- Mulheres

A Ameaça do Desejo

No final do século a riqueza, ate então desconhecida, da renda e dos bordados acompanha a hipertrofia da lingerie. Jamais ficaram tão evidente os efeitos perversos do pudor, enquanto se multiplicavam os estágios do despir-se, os impacientes dedos masculinos devem suplantar obstáculos de uma gama cada vez maior de laços, colchetes e botões. Tamanha acumulação erótica que contribui para renovar a mitologia libidinosa.


O Espelho e a Identidade Corporal

Nas aldeias do século XIX, apenas o barbeiro possuí um verdadeiro espelho, reservado para o uso masculino. Os mascates difundem os pequenos espelhos para que as mulheres e moças possas contemplar seus rostos; mas as aldeias ignoram os espelhos em que se vê o corpo inteiro. “Como viver em um corpo que não se viu?”

Nas classes abastadas, o código de boas maneiras proibirá por muito tempo que uma moça se admire nua, mesmo que seja através dos reflexos de sua banheira. Há pós especiais com a missão de turvar a água do banheiro, na função de prevenir tal vergonha.

O espelho de corpo inteiro aumentará o afloramento da estética do esbelto e guiará o nutricionismo por seus rumos.

O Leito e Os Quartos Individuais

O quarto de uma moça, transformado em templo de sua vida privada, enche-se de símbolos, confunde-se com sua personalidade, prova sua autonomia. O pequeno oratório, a gaiola do passarinho, o vaso de flores, o papel de parede, a escrivaninha que encerra o álbum e a coleção de cartas íntimas...

A Solidão

Para o rapaz, o celibato é um tempo pleno, valorizado, período de liberdade e aprendizagem, e o casamento significa apenas se assentar, e pode até ser o “fim”. Época alegre dos amores passageiros, das viagens, das camaradagens e de uma imensa sociabilidade, tempo da educação sentimental e carnal, onde tudo é permitido. Para as moças, é a vigília à espera de um casamento.

Escolhida, sofrida, ou simplesmente assumida, a solidão das mulheres sempre gera uma situação difícil, pois radicalmente impensada.”Se há uma coisa que a natureza nos ensina com clareza é que a mulher é feita para ser protegida, para viver quando jovem junto à mãe, e esposa sob a guarda e autoridade do marido.”- Jules Simon. Fora do lar e do casamento não há salvação.
Desavergonhada que vive de seus encantos ou solteirona sem eles, a mulher sozinha desperta desconfiança, reprovação e zombaria.