segunda-feira, maio 28, 2007

Sobremesa

Eu consegui, por hoje deu tudo certo.
Fui inteligente e carinhosa durante o cinema.
Depois fui engraçada e um pouco mais carinhosa durante o jantar.
Na minha casa eu segui conseguindo, conseguindo ser alguém com quem se quer passar um feriado em Buenos Aires.
Mas tenho certa pena do dia de hoje, tenho certa pena de como esse dia corretinho, linear e brilhante pode ser corroído pelas chuvas, calores e sujeiras.
E acabar como algo disforme, fosco e fraco.
Está acabando a história, mas ainda dá tempo de não amar mais um pouquinho.

Mando uma mensagem para ele,
que a essa altura dorme abraçado a uma menina que já encheu o saco,
achando que encontrou a mulher da vida.
Mando uma mensagem para ele,
que a essa altura dorme demais como sempre e já deve ter me esquecido,
mesmo lembrando de mim em todos os intervalos de coisa melhor pra pensar.
Ainda assim, ainda que eu esteja cercada de tantas coisas tão corretas quanto a cama ser algo para deitar,

eu me pergunto: por que o mundo é tão estranho?
Por que o telefone não toca?
Porque eu estou aqui, mais uma vez, deitada na minha cama,
achando tudo tão triste e solitário e estranho?
Viver é louco demais.
Mas ninguém fala isso, ninguém fala.
E eu me sinto tão absurdamente sozinha.
Sozinha e hipócrita, porque eu também não vou ligar pra ninguém e falar que o mundo é louco demais.
Nós vamos mais uma vez nos olhar querendo transar até amanhã,
mas vamos apenas assistir à novela e tentar adivinhar as falas.
Nós vamos mais uma vez querer atravessar as ruas de mãos dadas,
mas vamos brincar de dar ombradas um no outro.
Eu prefiro morrer sua amiga do que quebrar algum elo misterioso e te perder para sempre.
Te perder como sempre.
Não demora muito para eu começar a competir com você.

E querer ser melhor que você.
E querer isso justamente para que você nunca deixe de me admirar.
Mas eu, mais uma vez, sem ter medida de nada, vou te sufocar com meu saquinho furado.
Meu saquinho onde todo e qualquer amor ainda é pouco.
Porque meu vazio é imenso.
Acordar ainda dói um pouco,

não por nada,
apenas porque simplesmente dói lembrar que continuamos sem saber ao certo o que significa tudo isso.
Mas a cortininha de vidro que separa meu quarto minúsculo da minúscula sala
me traz aquela magia fugaz que engana o espítito um pouco e traz a paz da futilidade.

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