sexta-feira, maio 25, 2007

Semana de Psicologia- Teorias e Práticas.

A psicologia tem ou não tem algum poder de transformação social?

Até que ponto as práticas psicológicas não são apenas práticas remediativas,
que minimizam os efeitos produzidos pela sociedade nos "desadaptados", "desajustados",
sendo as terapias e intervenções em escolas, hospitais, etc, apenas ações "tapa-buraco"?

Por exemplo, promover a inclusão no mundo do trabalho não é algo que merece ser visto como cruel,
mas também não remete à nenhuma transformações das relações sociais que produzem a exclusão.

Não é só de boas intenções, de identificação, de carinho pelo ser humano que se faz um bom psicólogo.
Qual é enfim o vácuo existente entre a teoria, os tão bonitos discuros,
e a prática, a verdadeira aplicação?

Pensar de modo pragmático, se funcionar, é o que vale,
faz com que pesquisas corram cada vez mais na busca de uma pílula que amenize todos os sintomas de estresse, ansiedade, angústia e depressão
que os reais problemas- os de cunho geralmente social- produziram, como se os problemas estivessem nas conseqüencias, e não nos reais motivos.

Se existe fome, mas existe comida suficiente no mundo,
podemos afirmar que o mundo como é formado é voltado para as pessoas que vivem nele?
A produção de comida é feita para o mercado, não para as pessoas.
É só ir até um supermercado e ver como as mercadorias são atraentes, coloridas, chamativas, alegres, sensuais, enquanto somos nós que estamos sendo cada vez mais coisificados.
Não é o supermercado que existe para atender as necessidades do consumidor.
É o consumidor que existe para atender as necessidades do supermercado.
...

Pensar não é somente calcular.
A impressão que a gente tem é que a técnica é a coisa mais prática que existe,
mas não,
se formos ver o que é a prática,
a prática inclui a realização do que existe potencialmente,
e não só a execução previsível e seqüencial de certos mecanismos, que é a técnica.

Não adianta continuarmos lendo livros que nos dão técnicas de felicidade,
técnicas de como beijar melhor, técnicas dos orgasmos múltiplos,
técnicas de se dar bem com todos que convive.

Quantas vezes em nosso dia-a-dia basta apertar um botão para que mil coisas aconteçam sem que tenhamos quase nenhuma noção do processo que as faz acontecer,
então quando estamos diante de alguma experiência humana,
é "automático" perguntar-se:
e agora, "onde eu aperto o botão?"

...

Descongelar-se, desengessar-se do tempo,
de ser "como as circunstâncias assim me fizeram",
é óbvio que somos determinados,
mas é inevitável que você se produza em algum sentido,
e é esse potencial que está sendo condicionado à idéia de que as coisas são como elas são,
de que o que existe é o que é o mundo de verdade,
que as coisas são naturalmente do modo como estamos vendo
e que é um absurdo pensar o contrário,
pensar que não, que é o mundo que tem que ser transformado,
e não aqueles que não se "ajustam" à realidade que é tão "natural".

Como a psicologia superaria o abismo entre teoria e prática?
Construir relações,
enxergarmos as pessoas não como algo que você precisa descobrir "como funciona",
partindo da idéia de que ela é como ela é e que as coisas como são são naturais,
que o que precisamos é encontrar o adequamento mais eficaz.

Se as pessoas começassem a procurar o que são as pessoas nas pessoas
e não em supostos manuais de instruções e teorias com técnicas de passo-a-passo sobre como consertar, saber lidar ou fazer alguém ou alguma relação funcionar,
a psicologia já poderia começar a responder afirmativamente à pergunta sobre se é possível alguma forma de transformação social.

Palestra do Professor Ari Fernando Maia.