segunda-feira, maio 21, 2007

Semana de Psicologia- Sexualidade e Deficiência.


Ao pensar-se em sexo, sexualidade, logo se associa a algo mais genital. As idéias que temos sobre sexo, socialmente construídas, aparecem muitas vezes em formas de regra e padrões que delimitam questões como masturbação, sexualidade infantil, ficar, virgindade, prostituição.

A sexualidade, antes de tudo, é um atributo e um direito humano. Todo mundo ama, nem que seja um objeto, um ídolo, amar é inerente a nós.

O conceito de deficiência, que inicialmente é algo que implica em limites de desenvolvimento, também é construído por um julgamento social. Por exemplo, quem não tem um dedo, é deficiente físico?

Já é difícil alcançarmos os padrões, quando uma orelha de abano pode ser considerada uma deficiência que precisa ser corrigida por uma cirurgia plástica, se formos considerar o fato do julgamento social. Imagina para aqueles que portam uma deficiência como síndrome de down ou tretraplegia, essas limitações sociais são ainda mais difíceis.

Não é uma questão apenas da pessoa com deficiência, mas também da família. Quando, por exemplo, o filho nasce com alguma deficiência há todo um luto quanto a um filho perfeito a ser trabalhado. Ou então quando você se apaixona por alguém, namora, se casa, mas essa pessoa sofre um acidente, muitas coisas na vida, no jeito da pessoa irão mudar de forma que você pode não ver mais nela aquela que você escolheu, aquela por quem você se apaixonou, mas existe uma cobrança muito forte, você não pode "abandoná-lo" já que agora "ele está desse jeito, coitado".

As idéias iniciais de inserção consistiam em modificar o comportamento dos deficientes de maneira que eles se adaptassem à sociedade. Mas agora se reconhece a importância da modificação da sociedade para que haja uma adaptação, que seja trabalhada a questão do "normal", isso não só no que diz respeito à deficiências físicas, mas na questão de pobres, negros, homossexuais.

Pensamos: "não vou ficar olhando, não vou reparar, se não vai parecer que eu estou discriminando."

Sobre a sexualidade, muitas vezes em conversas corriqueiras, ou não falamos, ou falamos em forma de piada.

Muitas vezes o deficiente, na síndrome de down por exemplo, é visto como tarado, que agarra e lambe a todos, com a sexualidade exarcebada, os hormônios a flor da pele, descontrolados, etc. Mas não há nada na trissomia do cromossomo 21 que altere o comportamento sexual da pessoa. Existem mudanças como provável infertilidade, testículos e pênis menores, tendência à obesidade, mas o fato de se comportarem "inadequadamente" se relaciona mais expressarem sua sexualidade de maneira visível do que com a ocorrência de comportamentos "aberrantes".

Há toda uma infantilização do excepcional, são vistos como eterna crianças, são muito cuidados, muito vigiados. Não tomam banho sozinhos, não usam o banheiro sozinhos, estão sempre sendo observados, em casa, nas relações sociais, pelo medo de que machuquem alguém ou sejam machucados.

Não os vemos fazendo cocô no meio do pátio, na sala de aula, porque isso foi aprendido. Já a masturbação, não. O fato que chama atenção é que muitas vezes ela ocorre em lugares públicos, e não escondidinho, debaixo do cobertor, no banheiro, como acontece com as pessoas nessa mesma fase de descoberta. A questão da falta de privacidade influi muito.

Imaginam que conversar sobre sexualidade acabaria provocando-a, despertando-a. Sexualidade não se desperta, a gente nasce com ela, e quanto menos informação, mais fantasia. Como uma das meninas que, ao usar massinha para fazer uma vagina, colocou várias bolinhas. Quando foi perguntada sobre o que eram as bolinhas disse: "São os óvulos." Ou então a garota que escuta que o pênis é um pau, e imagina que seja como um cabo de vassoura.

Defende-se a esterelização, alegando que eles não têm condições de educar um filho, ou então que as meninas "transam com todos", "não sabem diferenciar paquera de assédio", sofrem abusos, etc.
Uma das meninas que foi esterelizada, nem sobre a esterelizãção foi informada e disse: "não posso transar nunca mais porque sou costurada agora".

Muitas vezes se enfatiza "Deficiente escreve um livro", e se vai do coitadinho ao super-herói, mesmo que ele seja um péssimo escritor. Não é o direito de escrever o livro que leva as pessoas a falarem sobre o livro, mas a piedade.

As crianças, quando respondem o que querem ser quando crescer declaram ambições como "astronauta", "jogador de futebol". Para o deficiente, não há nem mesmo a idéia de que se, "quando crescer", poderá pegar um ônibus sozinho.

Com pessoas que sofrem acidente e ficam na cadeira de rodas, há muitos manuais de como recuperar a ereção, de técnicas para se chegar ao orgasmo, mas não se fala muito na questão de como é estar numa posição em que para falar com as pessoas é necessário olhar para cima, associado à falta de autonomia, à dependência, precisa-se parar de trabalhar e de realizar muitas tarefas, o homem se sente menos homem, a mulher não consegue imaginar-se como alguém sedutora novamente.
As coisas não são mais como era antes, a sexualidade é algo a ser reaprendido.

Palestra de Ana Cláudia B. Maia.