sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Excitação, tensão, amortecimento, satisfação...

Somente em casos extremamente raros, a valorização psíquica dada ao objeto sexual como meta do instinto sexual, cessa nos órgãos genitais.
A apreciação se estende a todo o corpo do objeto sexual e tende a envolver toda a sensação dele derivada.

O fato de a excitação sexual possuir o caráter de tensão levanta um problema cuja solução não é menos difícil do que importante em ajudar-nos a compreender os processos sexuais.

Devo insistir que um sentimento de tensão envolve necessariamente o desprazer.

Se, contudo, a tensão da excitação sexual for contada como uma sensação desagradável, vemo-nos imediatamente diante do fato de que também é, sem dúvida, sentida como agradável.

Como então conciliar esta tensão desagradável e esse sentimento de prazer?

Se uma zona erógena numa pessoa não excitada sexualmente (por ex., a pele do seio de uma mulher) for estimulada pelo tato, o contato produz uma sensação agradável, mas, ao mesmo tempo, está fadado, mais que qualquer outra coisa, a despertar uma excitação sexual que exige um aumento do prazer.
O problema é como acontece que uma experiência de prazer possa dar lugar à necessidade de maior prazer.

O último prazer é de intensidade mais alta, e seu mecanismo difere do prazer anterior. É provocado inteiramente pela descarga: é inteiramente um prazer de satisfação, e, com ele, a tensão da libido fica temporariamente extinta.

O prazer anterior opera assim como uma 'gratificação de incentivo'.

O efeito sexualmente excitante de muitas emoções que são em si mesmas desagradáveis, tais como sentimentos de apreensão, medo ou horror, persiste em um grande número de pessoas por toda a vida adulta.
Não há dúvidas de que esta é a explicação do motivo por que muitas pessoas buscam oportunidade para sensações desta espécie, desde que a condição de gravidade do sentimento desagradável seja amortecida, tal como em sua ocorrência num mundo imaginário, num livro ou numa peça.

A análise das perversões e psiconeuroses mostrou-nos que a excitação sexual se origina de todas as partes do corpo.
Alcançamos assim a idéia de uma quantidade de libido, a cuja representação mental daremos o nome de 'libido do ego' e cuja produção, aumento ou diminuição, distribuição e deslocamento devem propiciar-nos possibilidades de explicar os fenômenos psicossexuais observados.

Esta libido do ego, contudo, só é convenientemente acessível ao estudo analítico quando tiver sido usada para dotar os objetos sexuais de energia libidinosa, quando se tiver tornado libido objetal.
Podemos vê-la então concentrando-se sobre os objetos, fixando-se neles ou abandonando-os, passando de um objeto para o outro e, destas situações, dirigindo a atividade sexual do paciente, que leva à satisfação, ou seja, à extinção temporária e parcial da libido.

Parece mais que a excitação sexual surge como um subproduto, por assim dizer, de um grande número de processos que ocorrem no organismo, tão logo alcançam uma certa intensidade, e muito especialmente de qualquer emoção relativamente poderosa, muito embora de natureza penosa.
As excitações oriundas de todas as fontes ainda não se combinam; cada uma segue seu objetivo isolado, que é simplesmente a consecução de determinada espécie de prazer.

Fomos com relutância obrigados a admitir que não podíamos explicar satisfatoriamente a relação entre a satisfação sexual e a excitação sexual, ou a existente entre a atividade da zona genital e a atividade das outras fontes de sexualidade.

O que descrevemos como o 'caráter' de uma pessoa é construído em grande parte com o material de excitações e se compõe de instintos que foram fixados desde a infância, de construções alcançadas por meio da sublimação, empregadas para eficazmente conter os impulsos que foram reconhecidos como inutilizáveis.

Parte da explicação desta pertinácia das primeiras impressões pode talvez situar-se em outro fator psíquico que não devemos negligenciar, a preponderância ligada na vida mental a traços de memória, em comparação com impressões recentes.

Não é fácil calcular a eficácia relativa dos fatores constitucionais e acidentais. Todavia, não se deve de forma alguma esquecer que a relação entre os dois é de cooperação e não mutuamente exclusiva.

Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade- Freud.