domingo, fevereiro 03, 2008

Silêncio não se lê.

Cansado de quem usa as palavras para lamentar do mundo.
O que a gente não pode no mundo, pode no som.

O tom é o sal da mensagem.
A frase que eu digo não será a mesma frase se sair da sua boca.
Ou se eu a disser com outra ordem das palavras.
Ou se houver uma trilha sonora ao fundo. Ou se mudarmos a trilha sonora.
Ou se ela for escrita numa letra trêmula.
Ou como letreiro de uma loja.
Ou se for uma mentira.
Ou se tiver uma platéia escutando.

Depende também do gesto que a acompanha, do papel em que foi impressa, do desejo de quem escuta.

A questão é que a tevê, o rádio, o discurso coloquial, os out-doors, a arte de vanguarda, os jornais, o gibi, a música pop e a vida moderna em geral trouxeram consigo uma crise de sentido. Do mundo dicionarizado. Da correspôndencia unívoca entre uma palavra e aquilo que ela representa.

Um fato é a intersecção entre suas versões, ou apenas uma delas? Ou nenhuma delas?
Para meio entendendor boa palavra basta?

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Porque ninguém está imune ao olho do outro.

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40 escritos- Arnaldo Antunes.