sexta-feira, setembro 14, 2007

O Incompleto

A propensão de tudo que é belo e perfeito à decadência,
pode, como sabemos, dar margem a dois impulsos diferentes na mente.
Um leva ao penoso desalento sentido pelo jovem poeta,
ao passo que o outro conduz à rebelião contra o fato consumado.

Não! É impossível que toda essa beleza da Natureza e da Arte,
do mundo de nossas sensações e do mundo externo,
realmente venha a se desfazer em nada.
Seria por demais insensato, por demais pretensioso acreditar nisso.

De uma maneira ou de outra essa beleza deve ser capaz de persistir e de escapar a todos os poderes de destruição.

Não deixei, porém, de discutir o ponto de vista pessimista do poeta de que a transitoriedade do que é belo implica uma perda de seu valor.

Pelo contrário, implica um aumento!
O valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo.
A limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição.

Era incompreensível, declarei, que o pensamento sobre a transitoriedade da beleza interferisse na alegria que dela derivamos.

(...) visto, contudo, que o valor de toda essa beleza e perfeição é determinado somente por sua significação para nossa própria vida emocional, não precisa sobreviver a nós, independendo, portanto, da duração absoluta.

SOBRE A TRANSITORIEDADE
(Vergänglichkeit)
Sigmund Freud