sexta-feira, setembro 21, 2007

em cada beijo que não sai da boca

Essa alegria de criar, que é tua
explanação maior e mais tocante,
fica girando no ar, enquanto avulta
em sensação de perda, teu semblante.

Já não destila mágoa nem furor
fruto de aceitação da natureza
essa alvura de morte lembra amor.

Uma necessidade urgente e rouca
de no amor nos amarmos se desola
em cada beijo que não sai da boca.

Por que Deus se diverte castigando?
Por que degrada o amor sem destruí-lo?

Por mais que amor transite ou que se negue
é canto (não é ave) sua essência.

Carlos Drummond de Andrade