quinta-feira, setembro 13, 2007

Ímpar... (sobre fidelidade)

Fala-se, atualmente, muito em relacionamento e pouco em amor.

O amor, evidente, em uma de suas formas, pode prescindir do relacionamento.
A diferença é simples, o amor é inexplicável e não se planta onde se quer, ele nasce e existe alheio aos nossos planos.
O relacionamento é fruto do resultado de nossas experiências, em destaque a última:
se tivemos alguém que era temperamental fazemos questão de alguém que seja calmo, por creditarmos o fim do relacionamento ao gênio desmedido.
Isso é apenas um exemplo entre milhões possíveis.

O relacionamento é uma forma e não um conteúdo,
é um conjunto de regras e de negociações que podem ser positivas ou não.

Relacionamento é a estrutura social.

Por isso muitos relacionamentos começam e às vezes acabam sem que o amor lhes faça visita.
Estar com alguém é aprender algo sobre o amor, mesmo quando não seja amor.

Mas, voltando ao início, há no amor um encantamento.
E o relacionamento é sempre o culpado quando esse encantamento se quebra.

Vencer é muito mais difícil que perder.
Cansa mais e dá mais trabalho.
Ser feliz é muito mais cansativo do que ser triste!
E é esquisito, uma vez que relacionamentos difíceis e infelicidade moderada são a condição, o estado basal de quem não tem um verdadeiro amor.

Leo Jaime
blonicas.zip.net

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Em relação à parceira, Schopenhauer diz que o amor do homem diminui sensivelmente a partir do momento em que obteve satisfação; quase qualquer outra mulher o excita mais do que aquela que já possui: ele anseia pela variedade.

A mulher tem que produzir manobras, se transformar em mil personagens eróticos para não ser traída. Um objeto sexual em metamorfose para agradar, estimular e capturar o apetite do macho.
As revistas populares femininas estão sempre repletas de “novas” e picantes sugestões para esse fim.

A inclusão de apetrechos, jogos, encenações, vídeos pornográficos ou um terceiro elemento, é porque o casal não tem ou perdeu o élan da relação.
Agora, nada mais resta do que um amontoado de corpos tentando fabricar sensações.

A união de duas pessoas desejosas é um universo particular de infinitas possibilidades, ou seja, se bastam na privacidade para se deliciarem da fluidez desse encontro.

Em razão disto, como dizem Cuschnir e Mardegan Jr. é que a máscara permite que o homem tenha diversas experiências na vida, porque ela poderá deixá-lo menos vulnerável internamente em determinadas situações, funcionando como uma espécie de “amortecedor”.
Por tudo isto, não é um contra-senso criticar o homem por não ter sensibilidade?

As pessoas assumem compromisso trabalhista, parceria comercial, e tentam cumprir essa promessa.
Assim sendo, aceitam pagar multa quando quebram, por vontade própria ou por motivo de “força maior”, esse contrato.

Já a perda afetiva, da parte que não desejava a separação, raramente é “ressarcida”, nem que seja com um mínimo de consideração.
Nenhum envolvimento com uma nova pessoa justifica que não se possa ter um cuidado com o outro preterido ou que está sendo “largado”.

Do mesmo modo a pós-mulher, a exemplo de M. Dowd, colunista do New York Times, que afirma ser muito difícil para as mulheres decifrar o que os homens querem com ela.

As mulheres são “escravas” do estético, e “se transformam naquilo que são na mente dos homens”(NIETZSCHE).

Comumente, macho nenhum expõe seus reais sentimentos para mulher alguma, ou, talvez, para ninguém, pelo menos pelas vias diretas. (...)
Uma vez que, na sua cabeça “abrir-se” pode ser traduzido como fraqueza. Mas tem mulher que, diferente da vontade de um diálogo espontâneo e troca de idéias, pretende se apossar da cartografia mental do outro.

Talvez, o fato de considerar as emoções, sexo e amor integrados, não sejam tão inatos assim, mas produto dessa dominação.

Ou seja, mesmo com profissão definida e independência econômica, muita mulher mantém o desejo secreto de proteção, “a menina assustada” sob a capa da auto-suficiência e que por isso acata, de uma forma ou de outra, o domínio do macho.

Para Nietzsche, através da idealização do amor, elas aumentam seu poder e se apresentam mais desejáveis aos olhos dos homens.

A favor da dominação masculina, se forjou os mitos da mulher frágil e de seu apetite sexual brando.
A fêmea tem o mesmo desejo sexual que o macho.

Como já foi dito, a traição machuca, sendo desrespeitosa para qualquer dos gêneros que a pratique.

Algumas mulheres para comprovar seu amor,
entregam o que considero “chicote ou forca”,
deixam explicito ou subentendido para o parceiro sua aguerrida fidelidade canina,
e a disposição de restringir a sua liberdade pela relação.
Nessa jura de amor incondicional, os elegem como absolutos,
e os colocam no “palco” da sua existência sob os “holofotes” de suas emoções e dedicação exclusivas.

No entender de Bauman em nossa época líquida-moderna,
em que o indivíduo livremente flutuante, desimpedido,
é o herói popular,
“estar fixo” - ser “identificado” de modo inflexível e sem alternativa –
é algo cada vez malvisto.

Por isso, recentemente surgiu nos Estados Unidos,
um projeto de contratos de casamento renováveis, a cada dois anos, que atrai o público.

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Na maioria das vezes não somos santos nem heróis e sustentamos com dificuldade a necessidade de afirmação requerida pelo pensamento trágico,
tendendo no mais das vezes à um pensamento prenhe de evasivas,
lamentações e ressentimentos.

Sabemos pela psicanálise que não somos senhores de nós mesmos
e a biologia vem colocando questões que cada vez mais parecem colocar em cheque nossos anseios de livre arbítrio.

A determinação biológica surge, por vezes, como um atenuante para nossas im-possibilidades éticas e pode situar-se de forma alternada entre a maldição e a salvação.

Entre a Lei e o desejo,
se alguma conciliação for possível,
na psicanálise freudiana ela será sempre produto de um equilíbrio instável e provisório,
passível de perturbações que não chegam a ser indesejáveis,
mas, ao contrário, fruto de um movimento que testemunha a presença da vida.

Para uma leitura que aproxime a psicanálise e o pensamento trágico, o conflito será sempre inextirpável e a tensão decorrente daí,
motor que movimenta a vida.

Lacan irá formular uma Ética para a psicanálise que identifica o Desejo ao Dever Kantiano.
Age de tal forma que tu possas querer que a máxima de sua vontade se transforme em regra universal.

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"Não posso me tornar eu mesmo a não ser pagando o preço do amor que me mutila"
Guitta