terça-feira, setembro 18, 2007

Contato... (sobre sexualidade hoje)

Mulheres e homens ensaiam outras possibilidades de ficarem amorosamente,
para além das formas tradicionais de relacionamento, como o namoro,
o noivado, o casamento e/ou o adultério.

Certamente isto não significa uma erradicação total dos antigos códigos da sexualidade, já que,
ao mesmo tempo,
coexistem ou mesmo agravam-se antigos problemas de dominação, de violência e desencontro que caracterizaram as relações entre os sexos.

(...) que as formas de relacionamento afetivo e sexual se tornam mais flexíveis e negociáveis, que as questões são debatidas abertamente?

Note-se que apesar de toda a engenharia tecnológica que facilita a comunicação e a interação social entre os indivíduos, grupos e povos,

apesar de todo o desenvolvimento da psicologia e da psicanálise,
que nos mune com incríveis arsenais de entendimento e cura das crises existenciais e conjugais,

apesar de todas as discussões que temos tido em relação à necessidade de abertura para a diferença e para as diversidades culturais,
apesar de tudo e infelizmente,
não temos vivido num mundo mais amoroso e solidário,
nem mais aconchegante.

Chama a atenção, aliás, o crescimento da intolerância em vários níveis.


(...) vive-se uma profunda dessexualização da vida cotidiana,
ou banalização do sexo.
Na verdade, eu poderia avançar:
dessexualização ou re-sexualização?

Trata-se de uma diminuição no nível da sexualização, dos jogos de sedução,
do interesse pelo erótico e pornográfico,
ou de uma re-significação das práticas sexuais?

Estaria havendo uma redefinição dos códigos da sexualidade e do próprio imaginário sexual, ou uma perda radical do erotismo, do tesão e da sensualidade, por um mundo mais racional, frio, técnico e mecanizado?

A transparência total das práticas sociais e sexuais exigidas no mundo atual esvaziaram, ao mesmo tempo, o sentido dessas próprias práticas.

Assim, mesmo que a bunda se torne um elemento muito rentável,
pelo sucesso que alcança no imaginário masculino brasileiro,
já não pertence à "boazuda" do passado, mas a uma loira jovem e magra,
que está mais para professora de aeróbica do que para sedutora.

Ao mesmo tempo, uma pesquisa recente nos Estados Unidos afirma que
a família ideal é hoje formada por um solitário,
um animal de estimação e um computador multimídia, plugado na Internet.

Todos querem e não querem se ver ou conhecer.

Se a esfera pública é vista como ameaçadora e devoradora,
é preciso que as pessoas se protejam de mil maneiras,
especialmente refugiando-se num espaço interno, psicológico, afetivo,
que cada vez mais se amplia, com o desejo de privacidade e de intimidade.


(...)não está havendo uma perda do interesse pelo sexo,
mas uma mudança na maneira pela qual ele é representado e experimentado e,
ao contrário,
assiste-se a uma intensificação da busca pelo prazer sexual,
pelo sensual e pelo erótico.

Quanto ao prazer, afirma-se cada vez mais freqüentemente a importância de gostar do que se faz, de trabalhar, estudar, viver com prazer, com tesão; reclama-se a importância da elevação da auto-estima, de se amar, de gostar do próprio corpo.

Aqui, então, estaria ocorrendo não um movimento de dessexualização, mas, ao contrário, uma redefinição do campo sexual, não mais confinado ao espaço das relações sexuais específicas. Nem o orgasmo hoje é pensado apenas como um momento circunstanciado em que uma parte do corpo vibra.

O desejo a ser pensado enquanto energia positiva que deve ser gasta e não acumulada,
diante do medo do desperdício como no passado,
deve ser utilizada para revitalizar,
para "energizar", como se lê nas páginas da revista Nova.

(...)

Margareth Rago
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/mar2001/pagina4a7-Ju159.html