quarta-feira, dezembro 26, 2007

História da Vida Privada- Relações de Trabalho.

A socialização da Educação dos Filhos.

A escola recebe a incumbência de ensinar os filhos a respeitar as obrigações do tempo e do espaço, as regras que permitem viver em comum e encontrar uma relação justa e adequada com os demais.

A autoridade dos pais se tornou abritrária. Os pais de antigamente eram autoritários tanto por costume quanto por necessidade: quando vinha a ameçada de uma tempestade, eles não iam perguntar a opinião dos filhos antes de mandar recolher o feno, e é claro que alguém precisava ir buscar água, lenha,etc. A necessidade fazia a lei.

São os pais que hoje procuram as colônias para que seus filhos passem férias interessantes: a seus olhos, a colônia constitui um meio mais rico e mais educativo que a família.

Não são mais os pais que escolhem a carreira e o ofício dos filhos. (...) A enorme pressão da orientação vocacional sobre os alunos assume o lugar dos pais, dispensando-os de exercer uma pressão análoga, que dificultaria ainda mais as relações familiares.

Com a evolução educacional, os jovens conquistaram uma grande independência dentro da família: já não precisam mais casar para escapar ao poder dos pais. Também não é mais necessário casar para manter relações regulares com um parceiro do outro sexo, já que essas relações só terão alguma conseqüência se os parceiros assim quiserem.

As Relações de Trabalho em Questão.

Um mesmo movimento faz com que operários e empregados de escritório deixem de se sentir à serviço de um homem, o patrão, e que suas tarefas e relações de trabalho sejam definidas de maneira mais formal.
O universo do trabalho se burocratizou: as relações diretas tendem a ser eliminadas, e o poder do superior se dissimula por trás da aplicação de regras impessoais, circulares e notas de serviços, vindos de uma instância mais alta.

Desse modo, o envolvimento pessoal no trabalho é estritamente limitado: a verdadeira vida é a vida privada.

Numa alegre mixórdia teórica que alguns universitários tentam pôr em ordem, divulgadores de competência desigual propõem as empresas toda uma gama de formações, que têm nas dinâmicas de grupo a forma mais fascinante e temida. Em suma, de mil maneiras diversas, as relações interpessoais na empresa estão na ordem do dia.

Todas as manhãs, os chefes apertam as mãos dos operários. A primeira lei é: ser gentil com o operério. A direção insufla essa corrente de gentileza em sua equipe de comando, que tenta empregá-la em detrimento dos velhos métodos autoritários. A segunda lei é: é preciso deixar que as pessoas se expressem.

Cada qual se vê intimado a falar na primeira pessoa, a tomar partido, a dizer o que pensa, e não só o que sabe.

Rumo a uma Sociedade Descontraída e O Conformismo Emancipado

Na indústria dos encontros e das afinidades, o sorriso e a descontração se convertem em normas. A capacidade de se aceitar em seu ridículo, por exeplo durante jogos, mostra que a pessoa não é "travada", que é disponível, "simpática", sabe participar. O sério da vida social comum se vê desqualificado: em suma, é "medíocre".

Encontra-se o mesmo tom na publicidade que invade os muros e os aparelhos de televisão. A propaganda não diz nada, ri de si mesma, inconsitente e ligeira. Joga com as imagens e as palavras, evitando acima de tudo se levar a sério.

Através dos meios de comunicação, o universo da vida privada não está apenas em contato com todo o planeta: ele é invadido por todos os lados por uma publicidade que, junto com os objetos de consumo, veicula um novo modo de vida e talvez uma ética.

"Isso não se faz mais, isso é coisa velha", "Permita-se esse prazer", "Faço o que quero..."

Cada um tem a sensação de estar agindo à sua maneira, com toda a autonomia, e dessas decisões soberanas resulta o surgimento de um mercado cada vez maior para produtos feitos em série.

Não se trata, porém, de uma maquinação, e sim do próprio funcionamento de nossa sociedade. Não são decisões de alguns agentes maquiavélicos que teriam decidido impôr suas ideologias. Nem as pessoas dos meios de comunicação nem os publicitários alimentam tais intenções. Cada um simplesmente executa sua tarefa, formando uma nebulosa de controles fluidos, onde ninguém detêm um verdadeiro poder.

Fronteiras e Espaços do Privado (Antoine Prost)
História da Vida Privada- Da Primeira Guerra a Nossos Dias.