sexta-feira, dezembro 28, 2007

História da Vida Privada- Influência do Modelo Americano.

American Way of Life

A educação visa a incular na criança o desejo de conquistar sua autonomia, desenvolvendo todas as suas potencialidades e ao mesmo tempo respeitando as normas (o que gera um certo conformismo).

Como a ética protestante continua a alimentar o espírito do capitalismo, o trabalho não é visto como um atentado à vida pessoal, e sim como a essência da existência.
O espírito competitivo, incutido desde cedo, acompanha a socialização do indivíduo.
O êxito profissional é a condição sine qua non da realização identitária.

É bonito andar sempre "ocupadíssimo", ficar mencionando inúmeros encontros que o solicitante diz serem urgentes, chegar atrasado aos jantares, não responder às cartas, não ligar de volta para as pessoas que deixara recado, etc.

Os americanos elaboraram técnicas de administração do tempo que são ensinadas nas high schools.
O objetivo é sempre a eficácia, e existem dois termos para designá-la: eficiência (a tarefa será efetuada no menor prazo de tempo possível), e a efetividade (seu objetivo será alcançado).

É também a concepção americana do tempo que ajuda a explicar o alto índice de divórcios. Impera a certeza de que há "tempo pela frente", que depois de um fracasso sempre é possível recomeçar e dar certo.
O casamento é um empreendimento sério demais para permitir uma resignação à mediocridade.

Pesquisas realizadas nos anos 80 nos informam que a maioria dos entrevistados considera seu casamento mais bem-sucedido que os dos pais, e 90% afirmam que é no casal que eles encontram "a razão principal de sua felicidade".

Para ajudar nessa tarefa, acredita-se na competência dos especialistas, não se hesita em pedir os conselhos supostamente esclarecidos de um psicanalista ou um sexólogo.

A cultura dos medos individuais e coletivos ocupa um lugar importante.
Câncer, Aids, depressão nervosa, overdose, suicídio, terrorismo cego ou apocalipse atômico do lado coletivo, tudo isso é mostrado ou imaginado pela imprensa e pela televisão com um deleite que corresponde visivelmente a uma expectativa.

A sociologia da comunicação nos mostra que, para dar certo, a coerção tem de passar pela sedução.

As violências televisivas, moderno sucedâneo dos jogos circenses, provavelmente despertam repulsa e prazer num público todavia entediado.

Com medo, o americano das cidades aprende a viver sob a vigilância de circuitos de tevê integrados, a andar de carro com as portas travadas, a morar numa casa com as janelas trancadas.

Surgem sociedades (esquizóides) com uma história vivida em dois tempos: o da história aditiva, cumulativa, do "progresso" científico e tecnológico, e esse outro tempo mais lento, até repetitivo da vida privada.

(E lembremos que um cuidado constante dos autores dessa obra é evitar qualquer confusão entre vida cotidiana e vida privada.)

Modelos Estrangeiros- Sophie Body-Gendrot.
História da Vida Privada- Da Primeira Guerra aos Dias de hoje.