domingo, novembro 25, 2007

O Pudim em Pó pela Imagem do Pudim

Cada setor é coerente em si mesmo e todos o são em conjunto.

Reduzidos a um simples material estatístico, os consumidores são distribuídos nos mapas dos institutos de pesquisa (que não se distinguem mais dos de propaganda) em grupos de rendimentos assinalados por zonas vermelhas, verdes e azuis.

Em seu lazer, as pessoas devem se orientar por essa unidade que caracteriza a produção.

O todo se antepõe inexoravelmente aos detalhes como algo sem relação com eles; assim como na carreira de um homem de sucesso, tudo deve servir de ilustração e prova, ao passo que ela própria nada mais é do que a soma desses acontecimentos idiotas.

A chamada Ideia abrangente é um classificador que serve para estabelecer ordem, mas não conexão. O todo e o detalhe exibem os mesmos traços, na medida em que entre eles não existe nem oposição nem ligação.

A velha experiência do espectador de cinema, que percebe a rua como um prolongamento do filme que acabou de ver, porque este pretende ele próprio reproduzir rigorosamente o mundo da percepção quotidiana, tornou-se a norma da produção.

Quanto maior a perfeição com que suas técnicas duplicam os objectos empíricos, mais fácil se torna hoje obter a ilusão de que o mundo exterior é o prolongamento sem ruptura do mundo que se descobre no filme.

(...) se tratasse de uma oposição entre a omnipotência e impotência.

A hilariedade põe fim ao prazer que a cena de um abraço poderia pretensamente proporcionar e adia a satisfação para o dia do pogrom.

Assim como o Pato Donald nos cartoons, assim também os desgraçados na vida real recebem a sua sova para que os espectadores possam se acostumar com a que eles próprios recebem.

Nos grandes centros encontram o frio no verão e o calor no inverno nos locais climatizados. Fora isso, mesmo pelo critério da ordem existente essa aparelhagem inflada do prazer não torna a vida mais humana para os homens.

A promissória Sobre o prazer, emitida pelo enredo e pela encenação,
é prorrogada indefinidamente: maldosamente, a promessa a que afinal se reduz o espectáculo significa que jamais chegaremos à coisa mesma,
que o convidado deve se contentar com a leitura do cardápio.

Rimos do facto de que não há nada de que se rir.

O riso, tanto o riso da reconciliação quanto o riso de terror, acompanha sempre o instante em que o medo passa.

Ele indica a liberação, seja do perigo físico, seja das garras da lógica.

Fun é um banho medicinal, que a indústria do prazer prescreve incessantemente.

Um grupo de pessoas a rir é uma paródia da humanidade.

São mônadas, cada uma das quais se entrega ao prazer de estar decidida a tudo às custas dos demais e com o respaldo da maioria.

Cada espectáculo da indústria cultural vem mais uma vez aplicar e demonstrar de maneira inequívoca a renúncia permanente que a civilização impõe às pessoas.

Oferecer-lhes algo e ao mesmo tempo privá-las disso é a mesma coisa.

A fuga do quotidiano, que a indústria cultural promete em todos os seus ramos, se passa do mesmo modo que o rapto da moça numa folha humorística norte-americana: é o próprio pai que está segurando a escada no escuro.

Divertir significa sempre: não ter que pensar nisso, esquecer o sofrimento até mesmo onde ele é mostrado. A impotência é a sua própria base.

É na verdade uma fuga, mas não, como afirma, uma fuga da realidade ruim, mas da última ideia de resistência que essa realidade ainda deixa subsistir.

No fundo, todos reconhecem o acaso, através do qual um indivíduo fez a sua sorte,
como o outro lado do planejamento.

O próprio acaso é planejado; não no sentido de atingir tal ou qual indivíduo determinado, mas no sentido, justamente, de fazer crer que ele impere.

A indústria só se interessa pelos homens como clientes e empregados e, de facto, reduziu a humanidade inteira, bem como cada um de seus elementos, a essa fórmula exaustiva.

A ideologia fica cindida entre a fotografia de uma vida estupidamente monótona e a mentira nua e crua sobre o seu sentido, que não chega a ser proferida, é verdade, mas, apenas sugerida, e inculcada nas pessoas.

Para demonstrar a divindade do real, a indústria cultural limita-se a repeti-lo cinicamente.

Quem ainda duvida do poderio da monotonia não passa de um tolo.

A manutenção de uma atmosfera de camaradagem segundo os princípios da ciência empresarial - atmosfera essa que toda fábrica se esforça por introduzir a fim de aumentar a produção - coloca sob controle social o último impulso privado, justamente na medida em que ela aparentemente torna imediatas, reprivatiza, as relações dos homens na produção.

A fórmula dramática descrita uma vez por uma dona-de-casa como "getting into trouble and out again" abrange toda a cultura de massas desde o mais cretino women's serial até a obra mais bem executada.

Por cinquenta centavos vê-se o filme de milhões de dólares;
por dez recebe-se a goma de mascar por trás da qual se encontra toda a riqueza do mundo e cuja venda serve para que esta cresça ainda mais.

As obras de arte são transformadas em simples brindes.

Os espectadores devem se alegrar com o facto de que há tantas coisas a ver e a ouvir.
Os consumidores se esforçam por medo de perder alguma coisa.

Tanto técnica quanto economicamente, a publicidade e a indústria cultural se confundem.

Lá como cá, reinam as normas do surpreendente e no entanto familiar, do fácil e no
entanto marcante, do sofisticado e no entanto simples.

Se, antes de sua racionalização, a palavra permitira não só a nostalgia mas também a mentira, a palavra racionalizada transformou-se em uma camisa de força para a nostalgia, muito mais do que para mentira.

A cegueira e o mutismo dos fatos a que o positivismo reduziu o mundo estendem-se à própria linguagem, que se limita ao registro desses dados.

A liberdade de escolha da ideologia, que reflecte sempre a coerção económica,
revela-se em todos os sectores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.

As mais íntimas reacções das pessoas estão tão completamente reificadas
para elas próprias que a ideia de algo peculiar a elas só perdura na mais extrema abstracção: personality significa para elas pouco mais do que possuir dentes deslumbrantemente brancos e estar livres do suor nas axilas e das emoções.

Dialética do Esclarecimento- Adorno e Horkheimer.