domingo, novembro 11, 2007

Anjo ou Esfinge? (Devora-me ou te Decifro).

Quando estas lavas incandescentes conseguem escapar sem controle,
o sexo frágil rompe seus guilhões, insaciável em seus amores, fanático em suas crenças, assustados como o louco em sua gesticulação.

A partir desse momento, o esposo tem a tarefa de provir o prazer de sua companheira.

Como toda esposa, apenas uma sexualidade bem temperada irá salvá-la das angústias da ninfomania, ou, mais simplesmente, dos incômodos do "nervosismo".

Por felicidade, acredita-se, o desejo feminino precisa ser provocado.
Compreende-se melhor então o desconcerto do jovem marido quando encontra uma esposa demasiado sabida.

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O código do amor romântico dita à mulher um angelicalismo do leito que hoje poderia fazer sorrir.
O tabu que pesa sobre a manifestação do desejo feminino obriga a amante a simular a presa que não saberia entregar-se sem que o vigor do "assalto" viesse ao menos justificar a "derrota".
Um corpo excessivamente loquaz na volúpia impõe, após o "êxtase", as posturas redentoras da pureza.

A jovem mulher eleva os olhos para o azul, assegura a comunicação entre o seu companheiro e o mundo do invisível.
Nessa perspectiva, o amor será o segundo céu, a afinidade vivida dentro da aventura espiritual conjunta.

Cabe à mulher provocar no homem este despertar, esta "turbulência da alma", conservar a inextinguível nostalgia de um mundo ideal.

A palavra, que seria demasiadamente escandalosa, por muito tempo é substituíd pelo olhar, pelo sorriso, no limite o toque; a perturbação, o rubor, o silêncio insistente valem por respostas.

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Os "roçares imperceptíveis" das vestes, mais tarde da pele, as pressões das mãos esboçam as preliminares. Joelhos e pernas se aproximam, se apertam, à mesa, no interior do cupê ou do vagão ferroviário.

Então começam os "jogos de amor": beijos, carícias, apalpações.
(...) "orgasmos sem coito".
O flerte desenvolve uma assombrosa "conversação muda do apetite sexual".

O flerte concilia a virgindade, o pudor e os imperativos do desejo. Eis que as próprias esposas enlouquecem.
A mulher não faz senão deixar adivinhar sua sensualidade; evita assim comprometer-se plenamente.

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A Relação Íntima ou os Prazeres da Troca
História da Vida Privada- Bastidores- Alain Corbin