terça-feira, novembro 06, 2007

"Construindo"... ou "Quando eu Crescer"...

Uma cidade toda paredão.
Paredão em volta das casa.
Em volta, paredão, das almas.
O paredão é a própria rua.
Onde passar ou não passar
é a mesma forma de prisão,
Sem uma fresta para a vida.
A canivete perfurá-lo,
a unha, a dente, a bofetão?
Se do outro lado existe apenas outro,
mais outro, paredão?

Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três.
Ser: pronunciado tão depressa e cabe tantas coisas.
Que vou ser quando crescer?
Vou crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer.

Como é o corpo? Como é o corpo da mulher?
Onde começa? Aqui no chão
ou na cabeleira, e vem descendo?
Como é a perna subindo, e vai subindo até onde?
(...) Diz-se que na mulher tem partes lindas que nunca se revelam
Maciezas redondas.
(...) Quando é que já sem roupa é ela mesma, só mulher?

O que ele vê vai existir na medida em que nada existe de tocável.

Sou coisa inanimada, bicho preso em jaula de esquecer,
que se afastou de movimento e fome.

Viver é saudade
prévia.


Menino Antigo- Drummond