domingo, junho 01, 2008

Para alguns, a instituição familiar deve ser combatida, pois representa um entrave ao desenvolvimento social: é algo exclusivamente nocivo, é o local onde as neuroses são fabricadas e onde se exerce a mais implacável dominação sobre crianças e mulheres.
No entanto, o que não pode ser negado é a importância da família tanto ao nível das relações sociais, nas quais ela se iscreve, quanto ao nível da vida emocional de seus membros.

A família teria por função desenvolver a socialização básica numa sociedade que tem sua essência no conjunto de papéis.

Uma de suas principais finalidades seria a de garantir a transmissão da herança aos filhos legítimo do homem- responsável pela acumulação material- o que só seria possível com a garantia de que amulher exerceria sua sexualidade no âmbito exclusivo do casamento. Daí a impotância da virgindade e da fidelidade conjugal da mulher.

Além da reprodução biológica a família promove também sua própria reprodução social.

Marcuse, ao estudar as sociedades capitalistas mais avançadas, aponta uma descentralização da função da família, o que ele qualifica como um aperfeiçoamento dos mecanismos de dominação.

O pai e a mãe, alvos facilmente identificáveis como agentes dominadores, são substituídos. “A dominação torna-se cada vez mais impessoal, objetiva, universal e também cada vez mais racional, eficaz e produtiva”.
O que antes era uma função quase exclusiva da família é hoje disseminado por uma vasta gama de agentes sociais, que vão desde a pré-escola até os meios de comunicação de massa, que utilizam a persuasão na imposição de padrões de comportamento, veiculados como normais, dificultando a identificação do agente repressor.
Para Mark Poster “a família é o lugar onde se forma a estrutura psíquica e onde a experiência se caracteriza, em primeiro lugar, por padrões emocionais.(...) A família é o espaço social onde gerações se defrontam mútua e diretamente, e onde os dois sexos definem suas diferenças e relações de poder. Idade e sexo são presentes, claro, como indicadores sociais em todas as instituições. Entretanto, a família contém-nos, gera-os e realiza-os em grau extraordinariamente profundo.

A caracterização da família pelas vivências emocionais desenvolvidas entre seus membros e pela hierarquia sexual e etária conduz a análise de seu funcionamento a centrar-se no binômio autoridade/amor.

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Hoje pode-se perguntar, por exemplo, qual é a conseqüência, para a vida familiar, do ingresso maciço das mulheres na universidade e no mercado de trabalho.
(...) Outro fato importante da vida contemporânea é a presença da televisão na grande maioria dos lares. Essa presença provoca um rompimento das distâncias culturais e oferece o risco da padronização dos valores e dos costumes, esmagando as culturas periféricas.

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A família burguesa também definiu novos padrões de higiene, que contribuiram para uma progressiva redução da taxa de mortalidade infantil, a qual foi acompanhada por correspondente decréscimo da taxa de natalidade.

Grande importância foi atribuída ao asseio da casa e de seus moradores.

O aleitamento materno passou a ser valorizado e cercado de medidas higiênicas, além do grande envolvimento emocional da mãe.

O corpo das crianças burguesas primava por asseio.
Nesse contexto se destacou também o horror aos dejetos humanos, que caracterizou o aprendizado da fase anal.

A criança burguesa aprender a identificar no seu corpo algo que deveria ser objeto de constante fiscalização e ação de limpeza para que não fosse apenas um “recipiente e produtor de imundícies”.

O casamento burguês passou a caracterizar-se por uma dissociação entre sexualidade e afetividade.

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Um dos pontos colocados em destaque por esses estudos é a auto-representação da família, que se contradiz com as vivências concretas de seus membros. Quando se referem ao conceito de família, predomina a idéia de harmonia e disponibilidade incondicional de amor e proteção entre seus membros. Quando se fala das relações concretas, faz-se referência a conflitos, dominação, sensação de sufoco e opressão.

Exitem, em geral, duas referências à sexualidade: a sexualidade abstrata, que é apresentada como algo natural e prazeroro, outra a vivência concreta de cada um: nela a sexualidade é causadora de sentimento de culpa e angústia.

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Família, Emoção e Ideologia- José Roberto Tozoni Reis.