sexta-feira, junho 20, 2008

A Desconstrução do Masculino

Tarzan, o arquétipo do herói viril e lutador, já começou este século decrépito. Homer Simpson, o pai do desenho Os Simpsons, da tevê, seria a imagem mais aceita pela mídia como protótipo do homem médio.
Mas quem já viu o cartoon sabe que ele é, também, o oposto da virilidade e da sedução, um anti-herói.

A partir do individualismo moderno a representação social masculina entra em declínio mergulhando em um longo processo de decadência.

Este declínio chega ao final do século XIX através das "crises de identidade" e posteriormente da "crise masculina", culminando com o fim dos "metarrelatos".

Uma crise necessária que beneficiou a consolidação dos movimentos sociais de emancipação permitindo a positivação de identidades até então negativadas (mulher, etnias e homossexuais).

Por outro lado, tal crise tornou-se um dispositivo gerador de situações violentas na medida em que, para as sociedades ocidentais, ser homem passou a significar sinônimo de truculência , boçalidade ou ainda daquele que é politicamente incorreto.

Desde então, a masculinidade se configura como o conceito que representa a um só tempo o mundo das tradições, combatido pelos discursos de "minoria" e também, o que deve ser aspirado por estes como parâmetro da consolidação dos direitos individuais.

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A lógica de construção da masculinidade é diferente daquela sob a qual se produz a feminilidade.
Parafraseando Simone de Beauvoir, a literatura recente sobre o tema diz que não se nasce homem, torna-se homem.
Eu não encontrei essa mesma lógica nas sociedades que analisei. Isso é um equívoco.
As sociedades não tratam a masculinidade como um vir a ser indivíduo.
É homem ou não.
As mães ficam preocupadas com a possibilidade de seus filhos se tornarem homossexuais.
Sobre os meninos há sempre vigilância: ele é homem ou não é homem?
Com as meninas, não. Não se duvida que uma menina vá se tornar mulher.
Há uma certeza: ela será uma mulher.
Poderá até se tornar uma homossexual, mas, mesmo assim, sua feminilidade não será colocada à prova.
Com os meninos, não acontece o mesmo.

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Mesmo diante da depressão social, existia a lembrança do vigor, do desejo de ir além.
Simpson é expressão da conformidade, da impotência e da inércia.
As sociedades ocidentais prescindiram do investimento para criar novas formas de representação daquilo que faz com que um homem se sinta homem.
No final dos anos 90, encontramos a representação de um homem banalizado. Homer

A história do Ocidente é assim: no passado, demandou um homem violento, agressivo, corajoso, vigoroso, necessário à demarcação de fronteiras e garantias do Estado.
A história valorizou este homem, mas hoje ele não tem mais função.

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As tecnologias reprodutivas nos apontam para uma tendência quanto à questão da reprodução humana.
Ela acontece cada vez mais fora do corpo.
As técnicas de reprodução in vitro, a clonagem, as estratégias de mapeamento de DNA, enfim, há vários sinais de que isso pode acontecer.
Diante disso, qual será a função da sexualidade?
Finalmente, ela ficará exclusivamente restrita ao prazer, sem nenhuma implicação com a reprodução.
Ou seja, ela deixará de ser regulada pela relação homem/mulher como convencionalmente conhecemos.
O homem, portanto, entra nesse mundo como objeto de entretenimento.
A sexualidade, tal e qual conhecemos tradicionalmente, não tem mais sentido nesse mundo regulado pela tecnologia.
Nem como força, vigor ou expressão da natureza.

Sócrates Nolasco