domingo, junho 15, 2008

O Luxo de um Remorso

Mas o mais corajoso homem entre nós tem medo de si próprio.
A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na autonegação que nos corrompe a vida.
Somos castigados pelas nossas renúncias.
Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos.

O corpo peca uma vez, e acaba com o pecado,
porque a ação é um modo de expurgação.
Nada mais permanece do que a lembrança de um prazer,
ou o luxo de um remorso.

A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe.

Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu,
com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal.

Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro.
É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo.

...

Há muitas coisas que atiraríamos fora se não receássemos que outros as apanhassem.

...

Não tenhas medo do passado.
Se as pessoas te disserem que ele é irrevogável, não acredites nelas.

O tempo e o espaço, a sucessão e a extensão,
são meras condições acidentais do pensamento.

A imaginação pode transcendê-las, e mais,
numa esfera livre de existências ideais.
Também as coisas são na sua essência aquilo em que decidimos torná-las.
Uma coisa é segundo o modo como olhamos para ela.

...

Oscar Wilde