terça-feira, junho 23, 2009

Considerações...

É inteiramente concebível que a separação do ideal do ego do próprio ego não pode ser mantida por muito tempo, tendo de ser temporariamente desfeita.
Em todas as renúncias e limitações impostas ao ego, uma infração periódica da proibição é a regra.
Isso, na realidade, é demonstrado pela instituição dos festivais, que, na origem, nada mais eram do que excessos previstos em lei e que devem seu caráter alegre ao alívio que proporcionam.
As saturnais dos romanos e o nosso moderno carnaval concordam nessa característica essencial com os festivais dos povos primitivos, que habitualmente terminam com deboches de toda a espécie e com a transgressão daquilo que, noutras ocasiões, constituem os mandamentos mais sagrados.
Mas o ideal do ego abrange a soma de todas as limitações a que o ego deve aquiescer e, por essa razão, a revogação do ideal constituiria necessariamente um magnífico festival para o ego, que mais uma vez poderia então sentir-se satisfeito consigo próprio.
Há sempre uma sensação de triunfo quando algo no ego coincide com o ideal do ego.
E o sentimento de culpa (bem como o de inferioridade) também pode ser entendido como uma expressão de tensão entre o ego e o ideal do ego.
Atenhamo-nos ao que é claro: com base em nossa análise do ego, não se pode duvidar que nos casos de mania, o ego e o ideal do ego se fundiram, de maneira que a pessoa, em estado de ânimo de triunfo e auto-satisfação, imperturbada por nenhuma auto-crítica, pode desfrutar a abolição de suas inibições, sentimentos de consideração pelos outros e autocensuras.


Freud- Psicologia de Grupo e a Análise do Ego.