Toda descoberta é feita mais de uma vez, nenhuma se faz de uma só vez.
A análise das ações sintomáticas não lhes diz nada que já não soubessem antes: a tese de que elas não são ações casuais, mas que tiveram um motivo, um sentido, e uma intenção, que se localizam num contexto psíquico específico e que informa, mediante uma pequena indicação, acerca de processos psicológicos mais importantes.
A única coisa tangível que resta da doença, depois de eliminados os sintomas, é a capacidade de formar novos sintomas.
Se não se pode eliminar um delírio mediante uma referência à realidade, então sem dúvida ele não se originou da realidade.
Devemos contentar-nos com supor tratar-se de algo sem importância, ou de um capricho, algo que não se pode explicar por quê aparece de um ou de outro tipo?
O delírio seria em si, de certa maneira desejado, uma espécie de consolação.
Na neurose obsessiva, o paciente obriga-se, contra sua vontade, a remoer pensamentos e a especular, como se tratasse dos seus mais importantes problemas vitais.
Tarefas como ir deitar, lavar-se, vestir-se ou andar a pé, se tornam, contudo, tarefas extremamente fatigantes e quase insolúveis.
Existe uma coisa que ele pode fazer: realizar deslocamentos, trocas, pode substituir uma idéia absurda por outra um pouco mais atenuada, em vez de um cerimonial pode-se realizar outro.
Ao repetir muitas vezes um ritual sem sentido vemos que não é só um modo de repetir certa cena, mas de continuá-la e ao mesmo tempo corrigi-la, de conserta-la.
Mas por mais que repita seu ato obsessivo, o paciente não sabe que este ato deriva de alguma experiência que tenha passado, nem qual foi essa experiência.
É como se esses pacientes não tivesse findado com a situação traumática, como se ainda estivessem enfrentando-a como tarefa imediata ainda não executada; e levamos muito a sério está impressão.
Uma parte da personalidade defende a causa de determinados desejos, enquanto outra parte se opõe a eles e os rechaça. Sem tal conflito não existe neurose.
As duas forças em luta encontram-se novamente no sintoma e se reconciliam, por assim dizer, através do acordo representado pelo sintoma formado. E, por essa razão, que o sintoma é tão resistente, é apoiado por ambas as partes em luta.
Assim, o sintoma emerge como um derivado múltiplas-vezes-distorcido da realização de desejo libidinal inconsiente, uma peça de ambigüidade engenhosamente escolhida, com dois significados em completa contradição mútua.
A neurose apareceria em virtude da incapacidade de lidar com uma experiência cujo tom afetivo foi excessivamente intenso.
A construção de um sintoma é o substituto de alguma outra coisa que não aconteceu.
Ao analisar cada sintoma histérico isoladamente, descobre-se, geralmente, toda uma seqüência de impressão de eventos que, quando tornam a emergir, são descritos explicitamente pelo paciente como tendo sido esquecidos até então.
A tese, segundo a qual os sintomas desaparecem quando se fazem conscientes seus motivos predeterminantes inconscientes, tem sido confimada por todas as pesquisas subseqüentes, embora nos defrontemos com as mais estranhas e inesperadas complicações ao tentarmos pô-la em prática.
Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise.
Teoria Geral das Neuroses I- Sigmund Freud.