Descobrimos, há algum tempo, que os neuróticos estão ancorados em algum ponto do seu passado, no qual sua libido não se privava de satisfação, no qual eram felizes.
Pois bem, a surpresa reside em que essas lembranças nem sempre são verdadeiras. Com efeito, não são verdadeiras na maioria dos casos, e, em alguns, são o oposto direto da verdade histórica.
Conforme verão, essa descoberta está fadada, mais que qualquer outra, a desacreditar tanto a análise, que chegou a tal resultado, como os pacientes, em cujas declarações se fundamentam a análise e todo o nosso entendimento das neuroses.
Na verdade se está diante de uma situação em que as experiências construídas ou recordadas na análise são, às vezes, indiscutivelmente falsas e, às vezes, por igual, certamente corretas, e, na maior parte dos casos são situações compostas de verdade e de falsificação.
Após alguma reflexao facilmente poderemos entender o que é que existe nessa situação que tanto nos confunde. É o reduzido valor concedido à realidade, é a desatenção à diferença entre realidade e fantasia.
Somos tentados a nos sentir ofendidos com o fato de o paciente haver tomado nosso tempo com histórias inventadas.
A realidade parece-nos ser algo como um mundo separado da invenção, e lhe atribuímos um valor muito diferente.
Ademais, também o paciente enxerga as coisas por esse prisma, em seu pensar normal.
Quando apresenta o material que conduz desde os sintomas às situações de desejo modeladas em suas experiências infantis, ficamos em dúvida, no início, se estamos lidando com a realidade e com a fantasia.
Levará um bom tempo até poder assimilar a nossa proposição de que podemos igualar fantasia e realidade; e não nos importaremos, em princípio, com qual seja esta ou aquela das experiências que estão sendo examinadas.
Também essas fantasias possuem determinada realidade. Subsiste o fato que o paciente criou essas fantasias por si mesmo, e essa circunstância dificilmente terá, para a sua neurose, importância menor do que teria se tivesse realmente experimentado o que contêm suas fantasias. As fantasias possuem realidade psíquica, em contraste com a realidade material, e gradualmente aprendemos a entender que, no mundo das neuroses, a realidade psíquica é a realidade decisiva.
Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise.
Teoria Geral das Neuroses II- Sigmund Freud.