Pode se considerar a taberna popular e a adega do comerciante de vinhos como lugares onde se embaralham as fronteiras e há uma mescla de condutas públicas e privadas.
O taberneiro, visto como um amigo, toma parte na conversa. Desempenha o papel de confidente, de fiador; sendo preciso, torna-se agente de empregos.
Aqui o álcool não é apenas uma necessidade psicológica, é o pretexto para a relação privada.
Seria possível, sem forçar em demasia, alinhá-lo entre os coadjuvantes dos procedimentos da confissão.
Mas, ao mesmo tempo, ele consagra a sociabilidade do trabalho.
O operário que não bebe arrisca-se a ser excluído.
O consumo de álcool, reconhecido como sinal de virilidade, contribui para desenhar a imagem do indivíduo.
É importante mencionar o descaso que a sobriedade provoca aqui.
A rodada acompanha cada acontecimento alegre: um aniversário, o encontro com um amigo, a volta de um soldado, um novo emprego, e, sobretudo, o dia do pagamento.
Vê-se no álcool um novo ópio do povo.
No momento em que se esfuma o domínio da religião, o álcool vem turvar as consciências.
O "consolo", engolido de uma vez só, desde as cinco horas da manhã, faz esquecer a um só tempo a fadiga, o perigo de acidente e as angústias da condição.
A fabricação industrial, a queda do preço das bebidas e a liberalização da venda, inaugurada pela lei de 1880, evidentemente favoreceram o incremento do consumo urbano.
Bastidores- Alain Courbin.
História da Vida Privada- Da Revolução Francesa à Primeira Guerra.