O ego, como sabem, é, pela pressão da necessidade externa, educado lentamente no sentido de avaliar a realidade e de obedecer ao princípio de realidade; no decorrer desse processo, é obrigado a renunciar, temporária ou permanentemente, a uma variedade de objetos e fins aos quais está voltada sua busca de prazer.
Contudo, é sempre difícil renunciar ao prazer; não se pode deixar levar-se a fazê-lo sem alguma forma de compensação.
Todo desejo tende, dentro de pouco tempo, a afigurar-se em sua própria realização; não há dúvida de que ficar devaneando sobre imaginárias realizações de desejos traz satisfação, embora não interfira com o conhecimento que se trata de algo não-real.
'Simplesmente não podemos passar sem construções auxiliares', conforme disse, certa vez, Theodor Fontane.
As mais conhecidas produções da fantasia são os chamados 'devaneios', satisfações imaginárias de desejos ambiciosos, megalomaníacos, eróticos, que florescem com tanto mais exuberância, quanto mais a realidade aconselha modéstia e contenção.
A essência da felicidade da fantasia- tornar a obtenção de prazer, mais uma vez, livre da aprovação da realidade- mostra-se, inequivocamente nesses desejos.
Essas fantasias gozam de um certo grau de tolerância, não entram em conflito com o ego, por mais fortes que possam ter sido os contrastes entre eles.
Mas se a catexia da fantasia é de tal modo aumentada, que eles começam a estabelecer exigências e desenvolvem uma pressão no sentido de se tornarem realizadas. Isso torna inevitável o conflito.
Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise.
Teoria Geral das Neuroses II- Sigmund Freud.