segunda-feira, junho 04, 2007

Grupo de Discussão- O Papel da Universidade

A diferença entre Pensar- Operar e Agir.

A universidade tinha que ser um lugar, o lugar do trabalho intelectual.
O que é o trabalho intelectual?
A tradição filosófica da qual ela é herdeira distingue pensar de agir.
Essa operacionalidade da universidade atual,

ela justamente suprime da universidade, do trabalho intelectual, a dimensão ético-política.
No campo político, você pode distinguir meios de fins?
Você aprende e apreende os meios políticos com a indissociabilidade dos meios e fins.

A ação como se faz e para que se faz, no campo da vida política.
O que parece é que o papel da universidade é ser um lugar onde a discussão,

a formação do conhecimento é feita...
Demanda tempo, aprofundamento, permanência na relação com certo conhecimento...

- o que nós vemos aqui é mais uma reprodução de conhecimento...

a gente só aprende o que já existe..
ao mesmo tempo que os professores falam que a gente tem que mudar, eles não falam como...
Tem que ser diferente, mas ser diferente como eu...
Tem que refletir, mas refletir como eu...
No fim, o certo é ler o manual da Folha, ter o padrão Globo de qualidade.
Você só está operando, não está agindo.

Vêem a faculdade como um mero instrumento pra você conseguir um emprego e ganhar um salário bom no fim do mês.

A direção que se dá à produção de conhecimento na faculdade.
A medida que você ou produz dois artigos por ano ou você não pode dar aula na pós-graduação,

essa orientação pragmática da universidade é uma orientação ditada pela organização do mercado.
A universidade não se orienta para aquilo que seriam as melhores,

as finalidades melhores,
mas por essa orientação de mercado,
então isso é uma autonomia heterônoma.

A questão é, não podemos condenar ninguém por querer sobreviver,

pra sobreviver a gente precisa ganhar o salário tudo,
não sei se é esse exatamente o ponto...

- A gente vive numa sinuca entre a produção e a reflexão.
Ao mesmo tempo que a gente precisa ter o conhecimento para passar esse conhecimento, precisa saber passar aquela coisa, ter a técnica.
Cada vez mais trabalham só a parte técnica,
mas se é sobre tudo o que a gente vai falar, a gente tem que conhecer sobre tudo.

É preciso ter abertura para pensar, para experienciar as coisas.

Óbvio que a gente não pensa por natureza também.
E quanto mais você lê, mais você aprende, mais você tem ferramentas para pensar.

Momento de Greve: A Ordem x A Desordem.

O sentido de ordem tem um aspecto mítico.
É uma ordem que existe porque ela existe.
Ela funciona muito bem para produzir o medo,

que é esse medo da experiência, que é uma idéia de proibido que não se sabe da onde veio.
O que eu estou criticando é uma ideologia da ordem no mundo em desordem.
O capitalismo é a mais absoluta desordem.

Na verdade há uma dialética entre ordem e desordem.
Acho que falar em liberdade é muito difícil.
O professor te dar a liberdade não necessariamente desenvolve sua autonomia.

Estamos em greve, um momento de questionamento à uma ordem,

até num duplo sentido: uma certa ordem que a universidade está tomando e uma ordem que vem de cima, uma lei.
O que nós queremos produzir é uma desordem?
Olha, em relação àquela ordem, sim. Você não tem “a” ordem.

Se você quer pensar o mundo, você tem que pensar contradições,
o mundo não é todo certinho, onde tudo encaixa.
Esse pensar por contradições tira a gente do mundo das certezas, e isso é bom.

- O que a gente está fazendo é uma desordem que a gente está ordenando para virar uma outra ordem que desordenou a ordem que era antes...
A universidade no fim envolve a capacidade de construção, e desconstrução...
Não se desordena de qualquer jeito...Podemos desordenar ordenadamente

Conclusão do GD

Não é racionalmente defensável considerando o que seria ideal para a universidade você submeter a universidade à tutela de governador A, B, C.
Observemos o que aconteceu na gestão do Alckmin.
A Universidade já está sob tutela, já estava sob tutela sem as leis.
As leis pioram a situação.
Na verdade a gente quer resistir.
A desordem não é para construir a universidade que a gente sonha, mas para resistir à uma destruição.

Um debate como esse, que é menos emocional, menos voluntarioso, para conversar, compreender é tão importante quanto estar na passeata.

- E essa passeata é o resultado da falta de diálogo, se a gente tem que estar lá gritando é porque não teve espaço para conversar como estamos conversando agora.


Convidado: Professor Ari Maia.