domingo, junho 03, 2007

Aprender o que ainda Não se Sabe

- Waters (2004) constata que "a idéia dominante da universidade de hoje em dia é evitar as idéias", levando então a meditar sobre as relações entre, por um lado, computar, medir, avaliar, quantificar e, por outro, ler, pensar, refletir.

- O indivíduo contemporâneo quer ser informado, especializado e experiente para um mercado que o amedronta, e não educado, instruído; já não busca um conhecimento desinteressado a longo prazo, um conhecimento que não esteja imediatamente ligado ao imediatismo do mercado, mas que vise a valores universais e compartilhados.

- A educação seria impotente e ideológica se ignorasse o objetivo de adaptação e não preparasse os homens para se orientarem no mundo. Porém ela seria igualmente questionável se ficasse nisto, produzindo nada além de well adjusted people, pessoas bem ajustadas, em conseqüência do que a situação existente se impõe precisamente no que tem de pior. (Adorno)

- Quase completamente racionalizada, compreendendo o 'educar' como uma ação planejada em direção a um sujeito — plena de objetivos pedagógicos a atingir -, a escola reduziu a grande maioria das relações que ali se estabelecem a relações coisificadas.

- O espírito de empresa, impulsionado atualmente por um movimento incessante, uma atividade desenfreada submetida à urgência, desprovida de reflexão, uma produtividade cega e descomprometida, tenderia a partir de então a ser extirpada das idéias, das mediações, da imaginação.

- A obsessão pela produtividade sempre foi, com raríssimas exceções, na escola (como na fábrica), uma forte característica: o tempo cuidadosamente dividido, marcado pelo sinal que, implacável, dá fim às atividades minuciosamente planejadas e distribuídas por séries, tudo concebido, inclusive o curto — e tão desejado pelas crianças — recreio, para que o tempo na escola seja absolutamente “produtivo”.


- Os saberes constantemente mutáveis implicam e induzem ao transitório, ao efêmero, ao descontínuo, em suma, à instabilidade, um conhecimento que tende por razões intrínsecas à superficialidade, à pressa, um conhecimento difícil talvez mesmo impossível de aprofundar por falta de tempo.

- As condições de apropriação e de transmissão dos saberes nas sociedades contemporâneas estão profundamente transtornadas: a crescente massa de informações contínuas nas sociedades contemporâneas, concomitante a uma reflexividade e a uma fluidez permanente, contribui para formas inéditas de individualismo, acarreta uma fragmentação, uma dispersão, um descomprometimento que obstrui de certo modo a continuidade, o sentimento de si mesmo.

- Será necessário recordar aqui que aprender é ser capaz de aprender o que ainda não se sabe, o que talvez saberemos depois de tê-lo aprendido, o que também talvez jamais conseguiremos aprender, conhecer e também compreender?

Revista Educação & Pesquisa-